Exploração de gás no São Francisco deve começar até
setembro
A Bacia do Rio São Francisco pode estar prestes a
ver materializado o sonho da exploração de gás natural. Empresas que
detêm a concessão de 33 blocos exploratórios, todos na porção
mineira da bacia, têm até o final deste ano para decidir se perfuram
poços. Em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta quarta-feira
(1º/7/09) em Pirapora, o consórcio formado pela Codemig e pelas
empresas privadas Orteng, Delp e Comp anunciou a perfuração de um
poço até setembro. Outras concessionárias de blocos na bacia também
apresentaram os resultados dos trabalhos de exploração realizados
até agora. O presidente da ALMG, Alberto Pinto Coelho (PP), e outros
seis deputados prestigiaram o encontro, entre elas Gil Pereira (PP),
autor do requerimento da audiência.
De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP),
existem hoje 42 blocos exploratórios concedidos na bacia do São
Francisco, todos em Minas Gerais. O bloco do consórcio da Codemig
foi adquirido em 2005, durante a sétima rodada de licitações
promovida pela ANP. Naquela ocasião, foram ofertados 39 blocos e
concedidos 33, totalizando 97 mil quilômetros quadrados. A Oil
M&S arrecadou 22 blocos, seguida de Petrobras (6), Abaris (3) e
Cisco Oil & Gas (1), além da Orteng. As empresas têm prazo de
seis anos para realizar estudos geológicos. A primeira etapa termina
em janeiro de 2010, e a segunda, condicionada à perfuração de poços,
termina em janeiro de 2012.
Já em 2008, durante a décima rodada, foram
ofertados 12 blocos e concedidos nove, sendo cinco para a Shell,
dois para a Comp e dois para a Orteng, num total de 21,7 mil
km2. Os contratos dessa fase foram assinados na última
terça-feira (30/6) e os prazos de exploração vencem em 2014 e 2016.
O diretor comercial da Orteng Equipamentos e Sistemas Ltda., Ricardo
Vinhas Corrêa da Silva, salientou que o fato de a empresa ter
adquirido novos blocos nessa licitação confirma o interesse no
negócio e a expectativa positiva em relação à viabilidade econômica
da exploração de gás no São Francisco. Nessa fase, o consórcio
mineiro passou a ser integrado também pela Cemig.
Nas duas rodadas, a ANP arrecadou mais de R$ 30
milhões em bônus. A estimativa da agência é de que as empresas
invistam ainda R$ 45 milhões na exploração da área. O presidente da
ANP, Haroldo Lima, salientou que quando grandes empresas como Shell
e Petrobras se interessam por um projeto, é porque ele tem futuro.
Segundo ele, esta é a primeira vez que a Shell sai do litoral e
investe no interior do Brasil. "O gás natural é o combustível que
mais cresce o mundo, e na bacia do São Francisco estão os maiores
indicativos de que há gás no interior do Brasil", afirmou.
Petrobras ainda estuda a perfuração de poço
Uma das expectativas da audiência pública, quanto
aos investimentos da Petrobras, não se confirmou totalmente, uma vez
que a companhia ainda não se decidiu sobre a perfuração de poços.
Ivo Trosdtorf Júnior, geólogo e gerente de Interpretação e Avaliação
de Blocos para a região da Bacia do São Francisco, afirmou que a
fase atual é de análise dos dados coletados. A empresa furou quatro
poços na região nos anos 60 e adquiriu, recentemente, cerca de 3.500
quilômetros de linhas sísmicas - estudos de relevo. Até o final
deste ano, porém, a Petrobras tem que decidir sobre sua continuidade
no projeto.
Até agora, segundo Trosdtorf, foram investidos R$
30 milhões pela Petrobras. Para perfurar o poço, serão necessários
mais R$ 20 milhões. Segundo informações da ANP, a Oil M & S,
assim como a Petrobras, está estudando os dados coletados na
bacia.
Já o consórcio da Codemig e empresas particulares
concluiu a análise de 300 quilômetros de linhas sísmicas e de mais
de 3 mil amostras de gás, com investimentos, até agora, de R$ 9
milhões. De acordo com o assessor da presidência da Codemig, o
geólogo Renato Fonseca, a dúvida agora é quanto à qualidade da rocha
que armazena o gás na região do Velho Chico.
O presidente da Gasmig, José Carlos de Mattos, que
também representou a Cemig no evento, salientou que as duas empresas
não poderiam ficar de fora desse momento crucial para a exploração
do gás no Norte de Minas. "O que se busca agora é ver a extensão da
presença desse gás e sua viabilidade econômica", reiterou.
O secretário de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Sérgio Barroso, afirmou que os estudos da vazão do gás no
Velho Chico deverão comprovar que Minas está prestes a ingressar
nesse mercado. Segundo ele, não faltará apoio do Governo do Estado
para viabilizar esse projeto, considerado a redenção econômica do
Norte e Noroeste de Minas e do Alto Paranaíba. "Um milhão de
habitantes podem ter a realidade econômica alterada em função do
pagamento de royalties", frisou.
O contraponto foi feito pelo prefeito de Pirapora,
Warmillon Fonseca Braga, para quem os valores investidos até agora
no projeto são pequenos, na comparação com o tamanho da bacia. Ele
elogiou a audiência pública por esclarecer a ação das empresas que
pesquisam o gás na região. "Ela mostrou, de fato, onde estamos, mas
estamos longe de materializar a produção e comercialização do gás",
pontuou. Wilfred Brandt, consultor do Sindiextra (Fiemg),
acrescentou que a exploração de gás longe do oceano torna a
atividade semelhante à mineração e, portanto, mais próxima das
comunidades. "É importante a comunidade saber que a exploração pode
não ser viável", reforçou.
O deputado federal Humberto Souto (PPS-MG) também
considerou insignificantes os recursos empregados até agora pela ANP
em pesquisas na bacia. Elogiando a boa vontade do presidente da
agência, Haroldo Lima, ele reivindicou o aporte de mais
recursos.
Bacia - A bacia do São Francisco com potencial
energético, de acordo com as dados da ANP, tem 380 mil
km2 nos Estados de Minas
Gerais, Bahia, Tocantins e Goiás, além do Distrito Federal. Ao todo,
são 251 municípios, sendo 179 em Minas. As rochas da bacia datam de
600 milhões de anos, o que por muito tempo provocou a crença de que
não haveria gás na região. A geóloga da ANP, Eliane Petersohn,
afirmou, porém, que outras bacias antigas, similares à do São
Francisco, produzem gás em diversas regiões do mundo. Porém ela
também avalia que os estudos realizados até agora são pequenos
diante do tamanho da área. A ANP já investiu R$ 15 milhões em
aerolevantamentos e contratou agora 1.500 quilômetros de linhas
sísmicas, mas no norte da bacia, na Bahia.
Presidente da ALMG destaca papel do
Legislativo
O presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto
Coelho, afirmou que as chamadas energias limpas são hoje uma
alternativa de matriz energética. "A grande diferença entre as
nações decorre justamente, da autossuficiência em relação à
capacidade energética", disse. Alberto Pinto Coelho lembrou que o
sonho acalentado pela população do São Francisco tem evidências
latentes e que, se comprovada a viabilidade do gás, haverá um enorme
ganho não só para Minas, mas para todo o Brasil. "Com essa
audiência, o Poder Legislativo cumpre seu papel de ser palco de
discussão de grandes temas de interesse da coletividade",
afirmou.
A iniciativa da Assembleia de levar à comunidade o
conhecimento sobre o atual estágio das pesquisas de gás também foi
citada pelo deputado Ronaldo Magalhães (PSDB). Ele relacionou o
processo de interiorização de debates à democratização de
informações, e afirmou que a criação, neste ano, da Comissão de
Minas e Energia representa um novo apoio ao setor. Célio Moreira
(PSDB) compartilhou com os presentes a ansiedade de ver
materializada a exploração comercial de gás na região e afirmou que
esse projeto pode fazer do Norte de Minas o "eldorado" do
Estado.
O deputado Gil Pereira, autor do requerimento que
deu origem à audiência, lembrou que há mais de 40 anos se fala do
gás da bacia do São Francisco. Segundo ele, em 2007, diante do
impasse entre Brasil e Bolívia sobre o fornecimento do combustível,
foram iniciados contatos com a ANP visando acelerar a licitação dos
blocos em Minas. Durante a audiência em Pirapora, o parlamentar
pediu às empresas concessionárias que ajudem a mudar essa história,
efetivando a exploração na região.
Ao concluir os trabalhos, o presidente da Comissão
de Minas e Energia, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), disse que as
exposições técnicas deixaram a sensação de que o Rio São Francisco,
chamado rio da integração nacional, pode ter a bacia da "energização
nacional".
Presenças - Deputados
Alberto Pinto Coelho (PP), presidente da ALMG; Sávio Souza Cruz
(PMDB), presidente da comissão; Célio Moreira (PSDB), Ronaldo
Magalhães (PSDB), Gil Pereira (PP), Doutor Viana (DEM) e deputada
Ana Maria Resende (PSDB).
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