Araxá apresenta propostas para reduzir consumo de
drogas
Maior envolvimento das famílias na educação de
crianças e adolescentes, ação em rede de todos os segmentos
envolvidos no tratamento de dependentes químicos e na prevenção ao
consumo de drogas e mais oportunidades de ocupação e lazer para os
jovens. Estas foram propostas defendidas durante audiência da
Comissão Extraordinária de Políticas Públicas de Enfrentamento à
Aids, às DSTs, ao Alcoolismo, às Drogas e Entorpecentes da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta terça-feira
(16/6/09) em Araxá (Alto Paranaíba).
Críticas ao Governo Federal por não ter levado a
efeito o programa Primeiro Emprego e alertas para que os pais se
envolvam mais na educação dos filhos marcaram a fala de convidados
para esta que foi a primeira reunião no interior realizada pela
comissão, que estará levando o mesmo debate às outras 11
macrorregiões do Estado para fazer um diagnóstico da situação em
Minas e levantar propostas de ações públicas para o enfrentamento do
consumo de drogas, alcoolismo, aids e DSTs.
Na presença de vereadores, prefeitos,
representantes dos setores da educação e da saúde, de ONGs e da
comunidade das regiões do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro, o
coordenador da comissão, deputado Fahim Sawan (PSDB), expôs os
objetivos do trabalho dos deputados ao fazer um apelo para que todos
os setores da sociedade se envolvam no enfrentamento da questão.
"Essa não pode ser uma luta de poucos ou uma ação
governamental de cima para baixo. As regiões têm que se organizar",
defendeu ele, alertando que, se até pouco tempo atrás o álcool era a
porta de entrada do jovem no mundo das drogas, hoje o crack tem
assumido cada vez mais esse papel, e numa faixa etária cada vez
menor. "Além de barata, é uma droga perigosa, destruidora e
perversa", disse o deputado, defendendo a criação de conselhos da
juventude e anti-drogas em todos os municípios mineiros. Ele
informou aos representantes dos vários municípios presentes à região
que uma vez criados esses conselhos, há recursos disponíveis dos
governos Federal e Estadual.
Prevenção ainda é a melhor saída
A psicóloga Ana Carolina Porto Machado, que atua na
Fazendinha Comunidade Terapêutica, entidade de Araxá que atua com
aids, DSTs e drogas, endossou a preocupação do deputado ao revelar
que a instituição possui 70 internos, todos do sexo masculino. A
maioria, segundo informou, está em tratamento por dependência do
crack. Há 17 anos, quando foi criada a unidade, o álcool era de
longe a maior causa de dependência.
Ana Carolina reforçou a prevenção como o foco
principal a ser adotado pelas políticas públicas diante das
dificuldades de se levar um tratamento com êxito até o fim, em se
tratando sobretudo do crack. Segundo ela, a Fazendinha, que atua
também junto às famílias dos pacientes, recebe a cada semana de sete
a dez novos internos. "Isto porque o rodízio é enorme. Um tratamento
dura em torno de nove meses. São raros os casos de quem completa
esse tempo ou atinge a recuperação depois".
Ela alertou ainda para o problema que envolve os
co-dependentes, aquelas pessoas que convivem com o dependente,
muitas vezes chegando ao fundo do poço antes deste, mas que não
podem ser internadas ou mostrar fragilidade, pois são o sustento da
casa. "Essa é uma realidade social grave, pois sabe-se que cada
dependente atinge 30 pessoas à sua volta".
Tráfico e pouca convivência familiar preocupam
deputado
Definindo a comissão da qual também faz parte como
a comissão da vida, o deputado Célio Moreira (PSDB) disse ser
preciso discutir o problema e cobrar políticas públicas eficientes.
"Mas além do governo, toda a sociedade precisa se envolver,
sobretudo as famílias", pontuou o parlamentar.
Célio Moreira defendeu mais diálogo e convivência
entre pais e filhos e o resgate da família, alertando que o tráfico
está recrutando meninos cada vez mais novos. Ele comentou também que
a incidência de casos de aids aumentou assustadoramente na faixa
etária de 14 a 29 anos e bateu recorde na faixa entre 50 e 65 anos.
Por isso, criticou a realização de campanhas de prevenção apenas no
carnaval e voltadas apenas para o uso da camisinha masculina, quando
deveria estimular o uso também do preservativo feminino e ter
continuidade ao longo do ano.
O papel dos pais - O
vereador de Araxá, Marco Antônio Rios, também defendeu uma educação
familiar que chamou de mais pró-ativa, para que as famílias assumam
também sua responsabilidade pelos problemas que acometem os jovens,
sobretudo quanto ao consumo de álcool e outras drogas. "Medidas como
o toque de recolher de menores na verdade transferem para a polícia
uma responsabilidade da família", entende ele.
O vice-prefeito de Araxá, Miguel Alves Ferreira
Júnior, observou que essa é uma causa complexa, que no seu entender
também precisa ser abraçada de forma mais ampla por toda a
sociedade. Mas também colocou o enfrentamento de questões como
gravidez precoce, DSTs e drogas como algo que deve começar em
casa.
A deputada Rosângela Reis (PV) registrou a
necessidade de que sejam adotadas políticas públicas preventivas,
para que o jovem saiba dizer não no momento certo e perceba a
importância de valorizar o que se é, e não o que se tem.
A fala de José Danilo Borges Araújo,
vice-presidente do Conselho Municipal Anti-drogas de Araxá (Comad),
foi no mesmo sentido, alertando para a necessidade de os pais
ficarem mais atentos aos filhos, inclusive quanto a mudanças de
comportamento que ocorrem com o uso de drogas mas que muitas vezes
não são percebidas em casa, como desinteresse pela escola e pela
família e muitas horas de sono por dia.
Juventude deixou de ser vista como problema
O coordenador especial da Secretaria de Estado de
Esportes e Juventude, Roberto Rocha Tross, disse que há hoje um
momento de transformação do olhar da sociedade sobre o jovem,
deixando para trás o estigma de problema. Segundo ele, não se deve
situar o jovem como coitado ou algo enigmático, mas sim como
construtor de novas oportunidades reais de inserção e ação.
Ele anunciou que o incentivo do Governo do Estado à
criação de conselhos de juventude, e não para a juventude, envolvem
o conceito de participação direta e da responsabilização daqueles
que saíram da adolescência mas ainda não entraram na vida adulta,
estando entre 15 e 29 anos.
As políticas públicas de juventude do Estado
trabalham com essa definição, explicou. Nos conselhos, acrescentou,
o objetivo é colocar jovens conversando com jovens, fazendo uso de
linguagens próprias e de meios de interação próprios da juventude,
como o Orkut e novas tecnologias. "O objetivo é que os jovens
busquem novas atitudes e novas formas de participação", frisou. Aos
municípios que criarem seus conselhos de juventude, ele anunciou que
serão enviados pela Secretaria computadores e impressoras.
Delegado sugere uso de câmeras nos arredores das
escolas
O delegado regional da Polícia Civil de Araxá, Heli
Andrade, defendeu que todas as escolas sejam monitoradas por câmeras
para coibir a ação de traficantes junto a crianças e jovens, e ainda
que as políticas públicas contemplem mecanismos para auxiliar a
reinserção social de egressos de prisões.
Ele ressaltou, contudo, que o mais importante é
investir em educação. "Se os governantes entenderem que educação não
é custo e sim investimento, tanto em pessoal como em infraestrutura,
teremos uma grande oportunidade de começar a barrar problemas como
esses".
Heli Andrade também criticou o Governo Federal por
não ter criado outros mecanismos de ocupação para o jovem antes de
limitar a oferta de trabalho a adolescentes. Da mesma forma, disse
que os conselhos municipais de juventude devem buscar essas
oportunidades, para que o jovem possa trabalhar para poder, por
exemplo, pagar o cinema com a namorada em vez de procurar dinheiro
em outras fontes. Sobre a citação do toque de recolher, disse
preferir o termo toque de proteção. "O que não podemos é passar a
responsabilidade para os professores, que ficam reféns dos
traficantes dentro da escola".
Presenças - Deputados
Fahim Sawan (PSDB), coordenador; Célio Moreira (PSDB) e Rosângela
Reis (PV). Participaram ainda a vereadora de Araxá, Edna de Fátima
Alves e Castro, o diretor da Escola Estadual Maria de Magalhães,
Antônio Ernani de Carvalho, e Vânia Célia Ferreira, superintendente
regional de Ensino de Uberaba.
|