Presos provisórios são o gargalo do sistema prisional de JF

A situação dos presos provisórios de Juiz de Fora e a demora da ordem judicial para liberação dos detentos após alta ...

05/06/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Presos provisórios são o gargalo do sistema prisional de JF

A situação dos presos provisórios de Juiz de Fora e a demora da ordem judicial para liberação dos detentos após alta hospitalar foram os principais problemas detectados pela Comissão Especial de Execução das Penas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em audiência realizada no município da Zona da Mata nesta sexta-feira (5/6/09). Antes da reunião, os deputados visitaram a Vara de Execuções Criminais, e o juiz Amaury de Lima Souza afirmou que a dificuldade não é em relação à qualidade do trabalho, mas à quantidade dos processos.

Em relação à realidade do sistema prisional de Juiz de Fora, o magistrado informou que a maior concentração de presos está no Ceresp. A unidade prisional, com capacidade para 260 presos, abriga 820, dos quais 556 são provisórios. Na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, que tem 448 presos, o gargalo está entre as mulheres: das 112 encarceradas, somente vinte já foram condenadas. O juiz informou ainda que na Penitenciária José Edson Cavalieri não há superlotação. No entanto, na Casa do Albergado faltam vagas e 250 pessoas cumprem prisão domiciliar. "Isso não está previsto em lei, mas não temos outra alternativa", justificou.

Para Amaury de Lima Júnior, há necessidade de aumentar vagas, mas também de reduzir o número de recolhimentos. "Se por um lado a sociedade exige mais segurança, por outro, se espera mais humanidade", avaliou. Ele explicou que a prisão é uma medida de exceção que se justifica quando o criminoso representa perigo para a sociedade.

Sistema de saúde também é deficitário

Quanto à polêmica causada pelo atendimento dos presos nos serviços de urgência e emergência do HPS, o juiz explicou que, muitas vezes, a demora para liberação dos detentos é porque sua vaga na unidade prisional já foi preenchida. Ele pondera, contudo, que se o preso ocupa a vaga de outro paciente é porque o sistema de saúde também está com déficit de leitos para atender a população.

A alta proporção de presos provisórios nas unidades prisionais de Juiz de Fora não é diferente da que se percebe em todo o Estado. De acordo com o deputado Durval Ângelo (PT), relator da Comissão Especial, quase metade dos cerca de 46 mil internos em Minas é de presos que aguardam julgamento. Ele também mostrou, com números, o crescimento da população carcerária no Estado, que era de 13 mil presos em 1997, quando a ALMG concluiu os trabalhos da CPI Carcerária, e chega a 46 mil hoje. O parlamentar acrescentou que as projeções indicam que esse número deve chegar a 75 mil em 2011. "Se algo não for feito, o sistema não conseguirá absorver a demanda crescente por vagas", concluiu.

O deputado Wander Borges (PSB) também manifestou sua preocupação com os gastos para manutenção desse sistema em que o preso custa em torno de R$ 2.300/mês para o Estado. "Ao considerar o crescimento da população carcerária em progressão geométrica, em dez anos o Estado gastará mais com os presos do que com a saúde", comparou. Como alternativa a esses dados pessimistas, o deputado defendeu o método Apac, que tem índice de recuperação dos internados de cerca de 85%, enquanto o sistema convencional recupera, em média, 20%.

Estudo aponta para urgência da humanização do sistema

A defensora pública Luciana Ferreira Gagliardi relatou que um estudo estratégico realizado em março deste ano para avaliar a execução penal em Juiz de Fora apontou que, além da necessidade de providências urgentes quanto aos benefícios processuais dos presos, é preciso a humanização do cumprimento das penas. A defensora contou que, no Ceresp, os presos vivem sem dignidade. "No inverno, ele não têm banho quente e, no verão, sofrem com a falta de ventilação das celas", denunciou. Gagliardi acrescentou que as condições desfavoráveis fazem aumentar os casos de pneumonia e tuberculose entre os presos.

Outra dificuldade relatada pela defensora é para conseguir a liberdade provisória dos detentos em caso de prisão em flagrante. Ela explicou que quando não têm sucesso no contato com as famílias, os pedidos costumam ser negados por falta de documentos básicos, como carteira de identidade, comprovante de endereço ou de emprego fixo. A demora para marcação do exame para comprovar a dependência química do preso, que pode chegar a um ano, é outro problema encontrado em Juiz de Fora. Ela disse que a defesa fica na dúvida entre pedir o exame, tendo que manter o cliente preso enquanto aguarda a marcação, ou desprezar o pedido para a sentença sair mais rapidamente.

Luciana Gagliardi também afirmou que no Ceresp há um homem preso por tentar roubar dois sabonetes em um supermercado. O fato chocou o deputado João Leite (PSDB), presidente da comissão, que avaliou que o principal complicador do sistema prisional de Juiz de Fora são os presos provisórios. Ele quis saber por que eles são mantidos no cárcere.

O diretor de Articulação do Atendimento Jurídico da Secretaria de Estado de Defesa Social, Alexandre Martins da Costa, disse que no Ceresp há mais de 200 condenados que poderiam ser transferidos para penitenciárias da cidade, mas que aguardam a guia de execução. O documento expedido pelo Judiciário é imprescindível para a liberação do preso e sua expedição tem demorado até seis meses. O representante do governo defendeu que apesar das dificuldades, Juiz de Fora tem uma situação diferenciada do restante do Estado porque, ao lado de Belo Horizonte, é a única cidade que tem todos os equipamentos do ciclo penal - prisões para todos os regimes, casa do albergado e hospital de toxicômanos.

Participantes pedem melhoria da estrutura carcerária

Na fase de debates, os deputados ouviram pedidos por melhorias na estrutura prisional. O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Rodrigo Praxedes Vieira, sugeriu que fossem feitos mais investimentos no Hospital de Toxicômanos para desafogar o HPS. Ele também pediu, entre outras coisas, cursos de capacitação para os agentes penitenciários. O integrante da Pastoral Carcerária, Manoel Paixão dos Santos, denunciou que está proibido de entrar nas unidades prisionais da cidade.

A professora da cadeia de Cataguases e da Apac de Leopoldina, Elizabeth de Almeida Silva, falou sobre os projetos de educação dos presos que têm dado bons resultados. No entanto, ela denunciou que, nas operações "pente-fino" realizadas na cadeia, o material pedagógico foi destruído pelos policiais. A professora pediu providências quanto a isso.

Os vereadores José Mansueto e Wanderson Castelar reclamaram da superlotação dos presídios. Mansueto informou que 20% dos 150 leitos do HPS estão ocupados pelos presos. "Não faz sentido um preso com alta médica ocupar a vaga de um doente por falta de ordem judicial", argumentou. Para Castelar, não é justo o município arcar com uma responsabilidade que seria do Estado. Ele entregou aos deputados um relatório sobre a situação elaborado pela Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Juiz de Fora.

Ao final da reunião foram aprovados dois requerimentos. O deputado João Leite solicitou o envio do relatório municipal à Comissão de Saúde da ALMG e às Secretarias de Estado de Saúde e de Defesa Social. O deputado Durval Ângelo quer esclarecimentos da Polícia Civil sobre a destruição do material pedagógico na cadeia de Cataguases.

Presenças - Deputados João Leite (PSDB), presidente; Durval Ângelo (PT), relator; Wander Borges (PSB) e Lafayette de Andrada (PSDB). Também participaram da reunião a secretária municipal de Assistência Social, Silvana Barbosa; o vereador Antônio Martins; a coordenadora do Núcleo de Gestão Prisional da Polícia Civil, Cláudia Edna de Castro e Andrade; e o delegado Antônio Galvão Dias do Nascimento.

 

 

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