Superlotação é o maior problema no presídio de Governador Valadares

A situação prisional em Governador Valadares ainda mostra situações críticas, como a superlotação do Presídio Regiona...

29/05/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Superlotação é o maior problema no presídio de Governador Valadares

A situação prisional em Governador Valadares ainda mostra situações críticas, como a superlotação do Presídio Regional, que tem 248 vagas, mas comporta 556 presos, sendo 217 condenados. Falta água para o banho dos detentos e as famílias, nos dias de visita, estão expostas ao sol e à chuva no pátio descoberto. Já na Penitenciária Floriano de Paula o número de presos é compatível com as 471 vagas, e na Apac feminina há apenas 24 presas para 42 vagas.

Estes dados foram fornecidos à Comissão Especial da Execução das Penas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo juiz da Vara de Execuções Penais da cidade, Paulo César Penido Coelho, durante audiência realizada na Câmara Municipal de Governador Valadares nesta sexta-feira (29/5/09). Penido Coelho e a promotora Ingrid Veloso Soares do Val respondem sozinhos por 3.528 processos, sendo 1.558 em andamento e 1.970 paralisados. Antes da audiência na Câmara, os deputados foram visitar a Vara de Execuções Criminais, para ver as condições materiais de trabalho do Judiciário.

Durante a audiência, houve consenso entre a prefeita Elisa Costa, o juiz Penido Coelho e os representantes da Secretaria de Estado de Defesa Social de que o presídio necessita de uma reforma, mas que a prioridade tem que ser dada à ampliação da penitenciária para acolher os sentenciados que hoje cumprem pena no presídio. Elisa Costa ofereceu ao Governo do Estado um projeto técnico para pavimentação dos 32 km da estrada de terra que ligam o presídio à BR-381, de modo a facilitar o acesso. Reservou também um terreno para a construção de uma Apac masculina.

A prefeitura e o juiz são parceiros no projeto Passos para a Liberdade, que consiste em permitir que até 100 presos possam sair do presídio para trabalhar em obras públicas da cidade, recebendo ¾ do salário mínimo, que podem remeter às famílias. Os dias trabalhados também contam para reduzir a pena. O juiz concede o benefício acumulado àqueles que, além do trabalho, dedicam-se ao estudo, e para isso Elisa Costa está oferecendo duas salas de aula a partir de julho com capacidade para 60 detentos.

O magistrado fez um relato detalhado de seus esforços para conceder progressões de pena e agilizar os alvarás de soltura, revelando que as denúncias de maus tratos são prontamente encaminhadas por ele à Curadoria de Direitos Humanos do Ministério Público, e as vítimas a exame de corpo de delito. "Com isso conseguimos baixar o nível de tensão dentro do presídio", afirmou. Ele e a promotora Ingrid Veloso Soares fazem visitas mensais a cada uma das unidades prisionais. Ingrid Soares manifestou sua esperança de que a revisão da Lei de Execuções Penais traga novas alternativas para o cumprimento de penas, como as casas de albergados e as colônias agrícolas que Governador Valadares nunca teve.

Comissão vai a Uberlândia e Juiz de Fora

O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), fez uma exposição sobre os objetivos da comissão de subsidiar uma revisão na Lei 11.404, a Lei de Execuções Penais, atualizando-a em função das novas normas federais e orientações do Conselho Nacional de Justiça. Informou que nesta semana a comissão esteve em Montes Claros e que na próxima estará em Uberlândia e Juiz de Fora, mas que tentará uma ida também a Unaí, onde há uma grande penitenciária.

O deputado Wander Borges (PSB) considera que o assunto é pouco debatido e que é necessário envolver o conjunto da sociedade na reflexão. Para ele, a solução não está na construção progressiva de cadeias e penitenciárias, mas em procurar os erros do sistema. "Não podemos encarcerar pessoas com pequenos delitos e deixá-las em contato com os grandes criminosos. Os jovens que vão parar na cadeia são fruto da própria sociedade. É preciso dar a mão à palmatória e ressocializar essas pessoas, construindo uma sociedade mais fraterna", concluiu.

O relator, deputado Durval Ângelo (PT), disse que o quadro prisional em Minas não é dos mais animadores, e que o número de encarcerados cresce de forma geométrica. "Eram 16 mil em 1997, subiram para 31 mil em 2006 e já chegam a 46.099 nos dias de hoje. Sob a guarda da Suape estão 16.022 condenados e 16.650 provisórios. Sob a guarda da Polícia Civil estão 6.228 internos e 6.070 provisórios, além de 1.029 recuperandos nas unidades da Apac", informou.

Citando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o deputado petista disse que "direito penal e execução penal neste país são para pobre", e que "80% dos presos dependem da Defensoria Pública". Por outro lado, quis dissociar a pobreza da violência, argumentando que a região mineira com menor índice de criminalidade é exatamente o Vale do Jequitinhonha, onde o índice de pobreza é maior. Para ele, mais perigoso que o traficante do morro é o traficante que tem empresas de fachada na zona nobre da cidade e que aparece nas colunas sociais. Entre os direitos dos presos, o deputado cobrou o de receber anualmente uma certidão contando o tempo que falta para o cumprimento da pena.

Defensores acusam analistas de 'usurpação' de funções

O defensor público Gilvan de Oliveira Machado alertou que as medidas socioeducativas impostas aos menores às vezes acabam se tornando um cumprimento de pena tão dura quando a dos adultos. Disse que em Governador Valadares há uma realidade muito ruim no presídio regional e uma adequada na penitenciária. Criticou o trabalho dos assistentes jurídicos que estariam "usurpando" a função dos defensores, e disse que, apesar os esforços do juiz Penido, os alvarás de soltura podem tardar até cinco ou seis dias.

Em defesa da dedicação do magistrado saiu o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcelo França, dizendo que é humanamente impossível um juiz cuidar sozinho de quase 4 mil processos, e advogando a criação de mais varas especializadas na comarca.

Alexandre Martins da Costa, da Secretaria de Defesa Social, rebateu a crítica do defensor público, dizendo que os analistas jurídicos cumprem uma importante função e que, ao contrário daqueles, estão em contato diário com os sentenciados, realizando 42 mil atendimentos ao ano. Para ele, a lei atual traz conceitos que não condizem com o próprio Código Penal, ao tratar o criminoso como um doente social. Anunciou para breve a cobertura dos pátios dos presídios de Governador Valadares, Uberlândia, Juiz de Fora e do Ceresp da Gameleira.

Gilson Magalhães Campos, da Polícia Civil, afirmou que está sendo adotado pelo governo um software de acompanhamento do cumprimento das penas, que vai agilizar o cumprimento de alvarás de soltura. Anunciou que até 2010 todos os presos custodiados em cadeias da Polícia Civil serão transferidos para presídios ou penitenciárias, e que nas cidades de Mantena e Conselheiro Pena os 254 presos serão transferidos no próximo semestre.

Presenças - Deputados João Leite (PSDB), presidente; Durval Ângelo (PT) e Wander Borges (PSB).

 

 

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