Legalização é saída para desenvolver setor de garimpos e gemas

A legalização de áreas de garimpo, sob pena de ser extinta a figura do garimpeiro; a estruturação adequada do Departa...

27/05/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Legalização é saída para desenvolver setor de garimpos e gemas

A legalização de áreas de garimpo, sob pena de ser extinta a figura do garimpeiro; a estruturação adequada do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM); e a definição de políticas específicas, que levem em conta particularidades regionais, culturais e ambientais nos projetos de extração, foram algumas das sugestões apresentadas nesta quarta-feira (27/5/09) para incentivar o desenvolvimento do setor de garimpos e gemas do Estado.

O tema foi debatido em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais com vistas à implementação de uma política minerária no Estado. O presidente da comissão, deputado Sávio Souza Cruz (PMBD), autor do requerimento para a audiência, lamentou a descontinuidade das ações do governo e defendeu que as normas para o setor sejam mais realistas.

Segundo o parlamentar, desde os anos 80, quando foi diretor da Metamig, ações como as que visavam geração de renda adicional aos garimpeiros foram deixadas de lado. "As iniciativas vão se perdendo e com isso a legislação parece conflitar com a realidade, gerando um abismo entre a norma e a sociedade", criticou, defendendo a necessidade de a Comissão de Minas e Energia vir a propor normas fincadas na realidade.

Já o deputado Tiago Ulisses (PV) ressaltou aos convidados, entre eles pesquisadores e representantes dos governos Federal e Estadual, dos garimpeiros e de joalherias, a importância também de que se acompanhar a tramitação, no Congresso Nacional, do Projeto de Lei 753/07, do deputado federal Fábio Ramalho (PV-MG), que institui o Programa Nacional de Pedras e Metais Preciosos. De acordo com Tiago Ulisses, a principal preocupação do projeto é agregar valor ao negócio, um dos pontos também destacados durante o debate, quando representantes de garimpeiros e lapidários disseram que boa parte do que é extraído em Minas é exportado na forma bruta.

Minas tem 50% da produção nacional e só 5% dos técnicos do DNPM

A engenheira de Minas Ana Lúcia Bezerra, do 3º Distrito do DNPM, disse que o órgão, responsável por autorizar o funcionamento de áreas de garimpo, enfrenta um problema que é histórico, o de gerenciar o conflito entre garimpeiros e médios e grandes mineradores. Ana Lúcia disse esperar que a discussão em torno da CPI do Petróleo no Congresso Nacional sirva para destacar um marco regulatório não só para o petróleo, mas também para o setor mineral como um todo.

A engenheira reiterou as dificuldades enfrentadas pelo órgão, como falta de estrutura e deficiências técnicas de projetos, que, segundo ela, geram morosidade para a concessão de títulos que autorizam a extração, entre eles a permissão de lavra garimpeira (PLG). A PLG, explicou, autoriza, sem exigência de pesquisa, a extração imediata, uma vez obtido o licenciamento ambiental, em áreas livres de até 50 hectares. Sobre o caso de áreas ainda em fase de pesquisa, sem extração iniciada, explicou que outorgas para áreas maiores envolvem processos diferentes, que exigem tempo para análises e pesquisas conforme a legislação vigente.

O esclarecimento veio em resposta à fala do secretário-geral da Cooperativa dos Garimpeiros da região de Coromandel, Dario Rocha, que considerou preocupante a existência, no município, de títulos autorizando pesquisas que estariam sendo feitas há 23 anos em áreas de garimpo, sem que até hoje tivesse ocorrido uma extração. No seu entendimento, o Estado está deixando de arrecadar por todo esse tempo e os garimpeiros estão sendo impedidos de trabalhar. "Em Coromandel há entre mil e mil e duzentos garimpeiros com atividade paralisada por não ter acesso ao Direito Minerário", criticou ele.

Nesse sentido, Dario Machado Rocha defendeu que o Brasil não precisa fazer muitas mudanças na legislação, e sim aplicar o artigo 42 do Código Minerário, que, segundo destacou, trata do interesse público dos títulos minerários. O representante dos garimpeiros de Coromandel disse, também, reconhecer as dificuldades de atuação enfrentadas pelo DNPM, mas criticou o fato de o setor mineral de Minas responder por quase 50% da atividade no País e concentrar, segundo destacou, apenas 5% dos técnicos do Departamento. Durante a fase dos debates, Dario Rocha defendeu, ainda, que o garimpeiro seja incluído na lista da Previdência Social como segurado especial.

Garimpeiros querem projetos regionais e legalização da atividade

O presidente da Cooperativa dos Lapidários de Teófilo Otoni, Marcos Antônio Chácara, denunciou que o garimpeiro corre o risco de extinção diante das dificuldades para prosseguir na atividade, e disse que para agregar valor ao negócio no País é preciso recuperar a própria figura do garimpeiro. "Hoje a alternativa que estamos tendo é a de lapidar material sintético diante das dificuldades da extração natural", alertou ele, informando que em Teófilo Otoni há vários tipos de extração mineral que requerem projetos ambientais também diferentes, enquanto os projetos estariam sendo impostos sem levar em consideração as especificidades das regiões do Estado pelo DNPM e pelos órgãos ambientais, crítica endossada também por representantes dos garimpeiros.

"Políticas de apoio ao garimpeiro devem ser discutidas nas regiões, porque existem garimpos diferentes e vários tipos de extração", reiterou Laerte Gomes Francisco, presidente da Associação dos Garimpeiros dos Municípios de Caraí, Catuji e Padre Paraíso. Ele informou que o garimpeiro corre o risco de extinção por falta de acesso à legalização da atividade, permanecendo na informalidade e sempre retornando à estaca zero. "Tem garimpeiro que não pode pagar a taxa de três reais da associação", disse o dirigente da entidade.

Fortalecer o cooperativismo é uma das saídas

Os representantes dos garimpeiros destacaram, ainda, que predomina na categoria uma alta taxa de analfabetismo e o medo de atuar numa atividade em que eles se sentem acuados pela fiscalização, apesar do desejo da legalização, e que ainda traz riscos à saúde e à segurança. Segundo relatou o presidente da Cooperativa Regional Garimpeira de Corinto, Enilson de Souza, o município possui 22 mil habitantes, dos quais 25% vivem do garimpo, atividade que responde por 40% da renda da cidade e que seria toda ela exercida na ilegalidade.

Enilson de Souza afirmou que a produção de quartzo de Corinto, hoje em torno de 500 toneladas/dia, poderia dobrar com a legalização da atividade. Ao contrário, informou ele, o que se vê hoje na região são garimpeiros olhando para o céu em busca de helicópteros da polícia ambiental ou fugindo de motos e carros dos policiais. Quando algum deles é processado por atividade ilegal, acrescentou, não tem como pagar a pena de uma cesta básica porque já não tem como colocar comida em casa.

Segundo representantes dos garimpeiros, a legalização da atividade esbarra na burocracia exigida, e não em dificuldades dos trabalhadores de pagar a taxa cobrada. "Fazemos um apelo ao DNPM para que priorize os requerimentos de legalização feitos por cooperativas, porque hoje o garimpeiro não tem área para trabalhar por falta de legalidade", frisou Enilson de Souza, destacando que o garimpeiro tem sobrevivido na atividade graças ao cooperativismo.

Sua fala foi endossada pelo técnico do Sebrae-MG para a Microrregião de Teófilo Otoni, Cirilo Jardim Bomfim, que fez um relato de experiências desenvolvidas pelo órgão por meio da articulação e mobilização de garimpeiros, lapidários, empresas e entidades parceiras em Caraí, Catuji e Padre Paraíso. "A cultura da cooperação é o maior desafio, pois na escola não somos educados para isso. Mas sem cooperação não há avanços nesse segmento, por mais derrame de recursos que houver".

Política para o setor deve resgatar posição de Minas

O diretor da Câmara de Gemas do Sindicato das Indústrias de Joalheria, Ourivesaria, Bijuterias, Lapidação de Pedras Preciosas e Relojoaria (Sindijóias-Gemas/MG), Francisco de Assis Ribeiro, também ressaltou o aspecto social da discussão ao defender uma política de Estado que seja viável e resgate a posição de liderança que Minas já teve na produção mundial de gemas, mas que hoje tem pouco destaque até mesmo no País. "Existem projetos viáveis do ponto de vista social, econômico e ambiental", registrou ele, também reforçando que os garimpeiros não querem a informalidade.

Ângelo Carlos Maffei, coordenador do setor de tecnologia mineral da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), disse que o segmento de pedras naturais tem enfrentado uma concorrência desleal com as pedras coradas e sintéticas, segundo ele um problema sério diante da dificuldade de se distinguir as diferenças. "O papel do Estado tem que ser regulatório", defendeu.

Já o diretor de Mineração da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Newton Reis de Oliveira Luz, ressaltou, na fase dos debates, que a Secretaria tem papel importante na articulação institucional, tendo atuado junto à área ambiental no esforço de conseguir que o garimpo seja classificado como atividade de médio impacto ambiental, e não alto.

Presenças - Deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente; Célio Moreira (PSDB) e Tiago Ulisses (PV). Também participaram da reunião Francisco Porto, secretário-adjunto do Fórum Brasileiro do Processo de Certificado Kimberley; Flávio Eduardo de Gouvea Santos, superintendente de Cooperativismo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico; Wegton José Alvarenga Silva, diretor do Sindicato Metabase de Itabira; Paulo Marcos Nessralla, do Cefet-MG; Eli Cézar, representante da Fundação Educacional de Curvelo.

 

 

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