Ministério Público propõe acordo com pequenos produtores de queijo

A proposta de um termo de ajustamento de conduta entre pequenos produtores de queijo, órgãos reguladores estaduais e ...

12/05/2009 - 00:03
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Ministério Público propõe acordo com pequenos produtores de queijo

A proposta de um termo de ajustamento de conduta entre pequenos produtores de queijo, órgãos reguladores estaduais e o Ministério Público foi a principal medida anunciada nesta terça-feira (12/5/09), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para tentar solucionar o confronto entre produtores e fiscais do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e da Vigilância Sanitária. O assunto foi discutido em audiência pública realizada pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, a requerimento dos deputados Vanderlei Jangrossi (PP) e Carlos Gomes (PT).

O confronto ganhou força após iniciativa do Estado de disciplinar os seis mercados livres do produtor (MLPs), sob administração do Ceasaminas. Em todos eles, vêm sendo comercializados produtos de origem animal, principalmente carnes e laticínios, apesar de serem considerados espaços inadequados para isso. A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento identificou nos MLPs carnes e laticínios sem certificação de origem, mal acondicionadas e expostas em locais inadequados, sem refrigeração.

Diante desse quadro, determinou-se a apreensão dos produtos não certificados, que vinham sendo inutilizados. A inutilização dos queijos é feita com o uso de creolina, sob protesto dos comerciantes e produtores, que garantem a qualidade dos produtos, apesar de reconhecerem que não há certificação. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros das Ceasas do Estado de Minas Gerais (Aphcemg), Antônio Lopes Rodrigues, de 30 mil produtores de queijo, apenas 97 possuem certificação do IMA.

Para tentar resolver o impasse, o promotor José Antônio Baeta de Melo apresentou uma proposta que garantiria a suspensão da autuação punitiva do IMA e a fixação de prazos para que os produtores se adaptem à legislação. Isso seria feito por meio de um termo de ajustamento de conduta (TAC). O presidente do IMA, Altino Rodrigues Neto, afirmou que vai propor prazos amplos para os produtores, mas ressalvou que a fiscalização educativa vai continuar. Ele mesmo admitiu, no entanto, que o acordo não será suficiente para salvar os produtores que se mantiverem isolados, uma vez que as normas sanitárias implicam investimentos de vulto. "É impossível o pequeno produtor ganhar dinheiro seguindo as normas, sem associativismo", reconheceu o presidente do IMA.

Acordo prevê mudanças básicas

Os produtores de queijo que optarem pelo termo de ajustamento proposto pelo Ministério Público terão que adotar algumas medidas imediatas e se comprometer a promover mudanças futuras. Todo queijo terá que apresentar uma etiqueta que identifique a propriedade onde foi produzido, a data de fabricação e a validade. Os produtores e comerciantes que podem vender no Ceasa terão que relatar ao MP quais fazendas representam. "O IMA visitará cada propriedade para verificar a necessidade de alguma adequação da produção", afirmou Baeta. O trabalho, segundo ele, será feito com apoio da Emater. Ele afirmou que os produtores precisam se adaptar e evoluir. "Não podemos simplesmente falar que sempre foi dessa maneira. Os tempos mudaram", disse.

Altino advertiu os produtores de queijo frescal para não alimentarem ilusões de que as normas serão abrandadas de forma a permitir a produção de queijo frescal com leite não pasteurizado. "Só se criarem uma vaca esterilizada. No mundo inteiro, isso não existe", afirmou o presidente do IMA. Por isso, apontou a necessidade de cooperativismo, apontando o exemplo da prefeitura de Itaobim (Vale do Jequitinhonha), que financiou uma pequena indústria de laticínio para atender os pequenos produtores locais.

A proposta do Ministério Público e as exigências do IMA foram recebidas com certo ceticismo pelo deputado Antônio Carlos Arantes (PSC). "Temos que evoluir, sim, mas esqueceram que essa lei é o ideal para o Primeiro mundo. Somos do Terceiro Mundo. Estamos querendo evoluir rápido demais, colocar em prática algo irreal", afirmou Arantes. Ele disse acreditar que, sem apoio financeiro ao pequeno produtor e forte investimento em uma política de educação, as exigências legais só farão aumentar a clandestinidade. Ele citou o exemplo dos matadouros que foram fechados, levando pequenos produtores a optarem pelo abate ainda mais precário, "no meio do mato". Defendeu ainda que o Ministério Público cobre do BDMG recursos para apoio aos pequenos produtores de queijo.

Já o deputado Domingos Sávio (PSDB) discordou do colega ao defender a possibilidade de se atingir um ponto de equilíbrio entre os objetivos da fiscalização sanitária e as condições de produção. "Acredito profundamente na fiscalização educativa", afirmou o parlamentar. A busca de uma solução negociada, segundo ele, é a melhor forma de evitar que a legislação se torne um mecanismo para favorecer o corporativismo dos grandes produtores.

Deputado anuncia projeto de lei

Presidente da Comissão de Política Agropecuária, o deputado Vanderlei Jangrossi disse que vai apresentar um projeto para modificar a Lei 14.185, de 2002, que dispõe sobre o processo de produção do queijo minas artesanal. Essa lei criou uma política específica para o chamado queijo minas artesanal, maturado e produzido nas regiões do Serro, Araxá, Canastra e Cerrado. Essas regiões incluem 6 mil produtores.

De acordo com Jangrossi, o novo projeto de lei proporá que essas quatro regiões continuem diferenciadas como responsáveis pelo processo histórico de produção do queijo minas, mas ressalvará que outras regiões também poderão produzir o queijo seguindo o processo tradicional.

O presidente do IMA, Altino Rodrigues Neto, advertiu os produtores de que a adesão à Lei 14.185 não garante apenas benefícios, mas também impõe regras ainda mais rígidas, tais como o controle sanitário do rebanho.

O deputado Carlos Gomes (PT) disse que o mais importante, no debate realizado na Assembleia, é não permitir que os pequenos produtores sejam prejudicados. "Em muitos casos, são produtos que já são consumidos há anos, sem o menor problema. Já o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) foi otimista. Ele citou o exemplo de fiscalização similar que aconteceu há cerca de três anos no Sul de Minas, onde também teria sido feito um acordo com a ajuda do Ministério Público. "Hoje o Sul de Minas aumentou sua produção", afirmou.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) defendeu a Vigilância Sanitária, argumentando que ela é, sobretudo, uma medida de economia. Segundo ele, para se afirmar hoje no mercado, qualquer produto precisa de qualidade, que só é garantida com a certificação dos órgãos oficiais. O parlamentar Antônio Júlio (PMDB), por sua vez, criticou a opção pelo TAC. "Mais uma vez vejo o pequeno produtor ser massacrado. É preciso primeiro definir a legislação. Tudo que está sendo feito é para a indústria da multa", afirmou o parlamentar.

Requerimento - Ao final da reunião, foi aprovado um requerimento de autoria da comissão, no sentido de que seja enviado um ofício ao governador do Estado, ao BDMG e outros órgãos de Governo, solicitando a concessão e priorização de crédito aos produtores e expositores de queijo do Mercado Livre do Produtor que tenham aderido ao TAC proposto pelo Ministério Público.

Presenças - Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão; Antônio Carlos Arantes (PSC), vice; Carlos Gomes (PT), Domingos Sávio (PSDB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Inácio Franco (PV) e Antônio Júlio (PMDB). Também participaram da reunião o chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Agricultura, Evandro Neiva; a gerente da Vigilância Sanitária, Cláudia Parma; o superintendente federal de Agricultura em Minas, Antônio do Valle Ramos; o chefe de inspeção da área técnica do Ministério da Agricultura, Demerval Silva Neto; o coordenador do Programa Queijo Minas, Albany Árcega; o fiscal do Ministério da Agricultura, Clério Alves da Silva; e o analista do MP, Marcelo Henrique Sampaio de Souza.

 

 

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