A existência de um grande número de presos em
cadeias públicas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)
que poderiam estar aguardando julgamento em liberdade provisória ou
estão encarcerados de maneira irregular foi constatada pela
Defensoria Pública, através de visitas realizadas pelo Grupo de
Atuação Estratégica Permanente na Defesa da População Carcerária
(Gaep). Essa informação foi trazida pelo defensor público Cristiano
Moreira Silva à Comissão Especial da Execução das Penas no Estado da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em reunião realizada nesta
quinta-feira (30/4/09).
Cristiano Moreira Silva explicou que o Gaep,
composto por quatro defensores públicos, foi criado no início de
2009 e tem como objetivo visitar as comarcas da RMBH que não possuem
uma sede própria da Defensoria Pública. Ele explicou que, antes de
realizar a visita, é feito um levantamento dos processos de todos os
presos na comarca, avaliando a situação carcerária de cada um.
Durante a visita, cada preso recebe um atendimento personalizado em
que é explicada a sua situação carcerária, além de ser analisada a
situação da cadeia pública e as condições de saúde de cada um.
"Nessas visitas, nós estamos encontrando muitos presos que poderiam
estar em liberdade provisória ou que estão encarcerados de maneira
irregular. Em alguns casos, os presos já tinham a liberdade
provisória concedida pela Justiça, mas não foram soltos pelas
autoridades locais", afirmou.
Ele relatou que, nas visitas, os defensores
públicos procuram tomar as medidas necessárias para que os presos em
situação irregular possam receber a liberdade provisória e também
para encaminhar aqueles que necessitam de atendimento médico ou
precisam entrar em contato com a família. "Já percebemos que, com
esse atendimento personalizado, a ansiedade dos presos tem diminuído
um pouco", considerou. O defensor público explicou ainda que o
objetivo do Gaep é manter um controle sobre o que acontece nas
comarcas que foram visitadas, voltando ao local, se necessário, para
novas medidas. "Através do nosso trabalho, estamos tentando alertar
o Estado e a sociedade sobre a condição precária da população
carcerária", afirmou.
Reestruturação da Defensoria Pública é
defendida
Uma reestruturação da Defensoria Pública, tornando
sua capacidade financeira e administrativa equivalente ao Poder
Judicário e ao Ministério Público, foi defendida por Cristiano
Moreira e pelos deputados João Leite (PSDB), presidente da comissão,
e Durval Ângelo (PT). O defensor argumentou que o órgão, responsável
pela defesa da população carente, não possui os mesmos recursos do
Ministério Público, responsável pela acusação, e do Poder
Judiciário, responsável pelo julgamento.
"Com certeza, se tivéssemos uma Defensoria Pública
com a mesma estrutura do Ministério Público e do Poder Judiciário, a
superlotação das cadeias poderia ser reduzida", considerou. Para
Cristiano Moreira, um dos grandes problemas hoje é o fato de que nem
todas as comarcas do Estado possuem um defensor. Segundo ele, a
legislação federal garante que a Defensoria Pública seja avisada
sempre que for feita uma prisão em flagrante, mas essa medida não
surte muito efeito nas comarcas que não contam com um defensor.
Cristiano Moreira defendeu ainda a aprovação de uma
reforma na Lei de Execuções Penais para garantir à Defensoria
Pública a mesma condição do Ministério Público, que hoje é um órgão
de execução. Segundo ele, se essa mudança for aprovada, os
defensores poderão requisitar benefícios em favor dos presos, não
sendo mais necessário esperar a atuação de um advogado
particular.
O deputado João Leite sugeriu que, durante visita
da comissão que será feita ao presidente do Superior Tribunal
Federal, em Brasília, seja também feita uma visita ao relator do
projeto que trata dessa reforma na Lei de Execuções Penais.
"Precisamos também declarar o apoio da comissão a essa modificação
na legislação federal", afirmou. Já o deputado Durval Ângelo também
destacou a importância de a Defensoria Pública possuir a mesma
estrutura do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ele lembrou
que 90% dos encarcerados no Brasil precisam da Justiça
gratuita.
Presenças - Deputados João
Leite (PSDB), presidente; e Durval Ângelo (PT).