O presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT),
cobrou uma solução para as péssimas condições em que são mantidos os
menores infratores em Betim. Uma situação de superlotação e
desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi
verificada em visita realizada nesta segunda-feira (27/4/09) pela
comissão à delegacia do 2º Distrito Policial de Betim. Sem um local
adequado para abrigar os menores, a Polícia Civil reserva a
delegacia do 2º Distrito, no Bairro PTB, para abrigar exclusivamente
os adolescentes infratores. Nesta segunda (27), ali estavam
internados 22 menores em duas celas, que teriam capacidade para
abrigar no máximo oito, segundo estipula o ECA.
As duas celas da delegacia do PTB têm seis metros
quadrados e 16 metros quadrados. Os adolescentes não têm banho de
sol, nem acompanhamento psico-social ou qualquer atividade
recreativa ou ocupacional. Além disso, sua internação em uma
delegacia, e não em um centro adequado, mobiliza metade dos oito
policiais lotados no distrito. Com quatro policiais atuando na
guarda dos internos, apenas outros quatro estão disponíveis para a
investigação de ocorrências.
A denúncia de internação de menores em condições
inadequadas, partiu da Pastoral Carcerária e não é nova. Há dois
meses, quando o caso chegou à Comissão de Direitos Humanos, o número
de internos era até menor: 13 adolescentes. "Nós acionamos o
Ministério Público, o Juizado da Infância e Juventude e a
Corregedoria da Secretaria de Defesa Social, que já esteve na
delegacia e constatou a irregularidade. É uma situação de
superlotação, inadequada até para adultos", afirmou o deputado
Durval Ângelo. O objetivo da visita desta segunda (27), de acordo
com o parlamentar, foi verificar o encaminhamento dado ao caso e
cobrar agilidade na solução.
De acordo com o delegado do 1º Distrito Policial de
Betim, William Leonardo Galdino, que também está respondendo
provisoriamente pelo 2º distrito, uma solução provisória deve
ocorrer em menos de um mês. Neste prazo, a prefeitura de Betim e a
Secretaria de Estado de Defesa Social estudam alugar um imóvel para
onde seriam transferidos os internos, até que se construa um centro
de acolhimento definitivo. "Nosso objetivo não é fazer paliativos, é
buscar uma solução definitiva", afirmou Galdino. De acordo com o
delegado regional Uederson Vilela Macedo, que também recebeu o
deputado, ainda se estuda a instalação de uma Delegacia de
Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad) em um
imóvel municipal.
Menores estão há seis meses na delegacia
Dois dos menores recolhidos na Delegacia do PTB, em
Betim, estão cumprindo ali medida de internação definitiva, em
flagrante desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente. De
acordo com o ECA, o adolescente infrator pode ficar preso por até
três anos, em estabelecimento específico para este fim. Dois dos 22
menores infratores de Betim permanecem na delegacia há mais de 200
dias. Foram condenados por assalto a mão armada. De acordo com o
defensor público Ricardo Araújo Teixeira, os processos dos menores
em internação são revistos a cada seis meses. Em Betim, como não há
instituição adequada para abrigar esses internos, é freqüente que os
juizes determinem a liberação dos adolescentes após a primeira
revisão do processo. A expectativa de Teixeira é de que o mesmo
aconteça com esses dois menores internados há mais tempo na
delegacia do PTB.
A maioria dos adolescentes infratores permanecem na
delegacia por até 45 dias, prazo legal para que a Justiça decida se
eles permanecerão detidos ou não. Aqueles que devem continuar presos
em geral são transferidos para Sete Lagoas ou Divinópolis. "A
situação desses dois menores de Betim mostra que o Ministério
Público e o Judiciário não estão atentos à lei. Eles deveriam exigir
vagas do Governo do Estado", afirmou o deputado Durval Ângelo.
O deputado disse considerar ainda mais grave o
prejuízo que a situação da delegacia do PTB causa para os moradores,
na medida em que compromete 50% do efetivo policial daquela região
na guarda dos menores. "Hoje temos uma delegacia com uma estrutura
elogiável, onde os próprios internos dizem ser bem tratados, com
profissionais competentes, que acabam desviados de sua função",
afirmou Durval Ângelo. Ele chamou atenção para o fato de que a
situação de Betim não é isolada, mas se repete em inúmeros
municípios mineiros.