A falta de pessoal para garantir a rapidez dos
processos penais e de estrutura física adequada são os principais
problemas da 2ª Vara Criminal e da Vara de Execução Penal de Pouso
Alegre. As demandas e dificuldades da região foram apresentadas aos
deputados da Comissão Especial da Execução das Penas do Estado, da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que estiveram na cidade do
Sul de Minas nesta sexta-feira (24/4/09). A audiência para avaliar a
realidade do sistema prisional da cidade foi solicitada pelos
deputados Wander Borges (PSB) e Durval Ângelo (PT), relator da
comissão, e é a primeira de uma série de visitas no interior do
Estado.
"O objetivo da comissão é fazer um diagnóstico
global da execução das penas no Estado, invertendo a lógica de ver
somente os problemas pontuais", afirmou Durval Ângelo. O deputado
João Leite (PSDB) afirmou que as notícias de presos que permanecem
sem liberdade até oito meses após o cumprimento da pena e de
condenados que poderiam estar livres se tivessem assistência
jurídica motivaram a criação da comissão.
O juiz da Vara de Execução Penal e da Vara
Criminal, Sérgio Franco de Oliveira Júnior, afirmou que a situação
da comarca é dramática. A única unidade prisional de Pouso Alegre
está superlotada: abriga 369 presos, quando sua capacidade é para 70
detentos. Além disso, o presídio está em um prédio centenário, com
instalações elétricas e hidráulicas precárias. De acordo com o juiz,
cerca de 70% dessa população carcerária é de condenados aguardando
transferência para outras unidades prisionais.
Déficit de vagas deve continuar com novo
presídio
Um novo presídio está sendo construído na cidade e
deve ser inaugurado no segundo semestre, com capacidade para 300
presos. No entanto, o juiz pondera que, além da estrutura física
adequada, é preciso investimento em pessoal - agentes
penitenciários, assistentes sociais e psicólogos - para acompanhar a
recuperação dos presos. Sérgio Franco de Oliveira Júnior também
pediu apoio financeiro para a construção da segunda fase da
Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Pouso
Alegre, que deverá abrigar 100 presos do regime fechado. Hoje a Apac
tem capacidade para 100 recuperandos - 40 no regime aberto e 60 no
semi-aberto.
Outra demanda apresentada pelo juiz refere-se a
pessoal para a Vara de Execução Penal que, até 31 de março, tinha
875 processos ativos para serem acompanhados por dois funcionários.
"A deficiência de pessoal provoca atraso na verificação de
benefícios para os presos e demora no atendimento", concluiu.
O déficit de funcionários também afeta a Defensoria
Pública de Pouso Alegre, segundo informou o defensor Cristiano Maia
Luz, que acompanha os processos das Varas Criminal e de Execução
Penal. Apesar de o município ter uma situação privilegiada, com um
defensor para cada vara, são 1.200 processos para cada profissional.
Cristiano Luz explicou que cerca de 90% dos processos da área
criminal são acompanhados por defensores públicos em função da
carência de recursos dos processados.
Gargalo do sistema recai sobre presos
provisórios
Em Pouso Alegre, segundo o defensor, um trabalho
estratégico permitiu o levantamento da situação da comarca e foi
verificado que não há presos com direitos vencidos ou sem
assistência. Na opinião dele, o maior gargalo está entre os presos
provisórios, que representam 40% da população carcerária. "O sistema
penal é de exclusão", afirmou. Segundo ele, os dispositivos do
Código de Processo Penal são contraditórios em relação à
Constituição, discriminando os mais pobres. "Os que não têm endereço
fixo e emprego convencional não atendem aos critérios de liberdade
provisória", explicou. Para ele, é preciso uma revisão da
legislação, porque esses casos são bastante freqüentes.
Para a promotora Tereza Cristina Coutinho do Amaral
Barroso, o problema estrutural das unidades prisionais se torna mais
grave quando impede o cumprimento da pena. "A impunidade gera a
reincidência", afirmou. Como exemplo, ela citou que pouquíssimas
comarcas têm casas do albergado para o cumprimento de penas no
regime semi-aberto, o que obriga a adoção da pena domiciliar. Como
condições para a redução da criminalidade, a promotora também citou
o trabalho efetivo de ressocialização dos presos e o investimento em
programas sociais.
Aumento das prisões - A
falta de vagas no sistema prisional também é agravada pelo aumento
das prisões, conforme afirmou o juiz Sérgio Franco de Oliveira
Júnior. Segundo ele, desde que a Subsecretaria de Administração
Prisional (Suapi) assumiu a custódia dos presos esse número vem
subindo. Eram 100 detentos quando o juiz assumiu a comarca, número
que passou para 200 em agosto de 2008, já com a Suapi, chegando
agora ao recorde de 369. Para o delegado regional de Pouso Alegre,
Carlos Eduardo Pinto, o aumento das detenções se explica pelo
retorno da Polícia Civil à sua atividade de origem, que é a
investigação. "A superlotação é um problema muito preocupante,
sobretudo em relação às mulheres, porque as cadeias da região não
têm celas para elas", explicou.
O diretor de Articulação de Atendimento Jurídico da
Secretaria de Estado de Defesa Social, Alexandre Martins Costa,
disse que o problema da superlotação deve ser resolvido com a
construção da nova unidade prisional em Pouso Alegre e com as outras
obras realizadas pelo Estado para ampliação das vagas no Sul de
Minas. "A política prisional não é mais por comarca, mas sistêmica
para atingir as regiões", explicou. Ele também sustentou que é
preciso reduzir o índice de encarceramento com a diminuição da
reincidência. Segundo o diretor, a ressocialização dos presos é uma
preocupação constante da secretaria, que também vem investindo em
trabalho remunerado para os detentos e no acesso à educação.
Alexandre Costa informou, ainda, que há 40.724
presos no Estado, 32 mil sob a guarda da Suapi. No Sul de Minas são
4.709 presos, em um percentual de 1,79 por vaga. Em Pouso Alegre,
sete presos estão trabalhando na construção do novo presídio, com
previsão de liberação de mais vinte detentos para as obras. Segundo
o diretor da Suapi, a inauguração do novo presídio deve ocorrer em
100 dias e terá uma das melhores estruturas físicas do Estado.
O superintendente regional da Suapi, Leonardo
Brocaneli Fagundes, informou que o Estado já conta com verba federal
para construir uma penitenciária no Sul de Minas para 600 presos,
mas ainda precisa encontrar uma cidade para abrigá-la. Ele disse que
a prefeitura de Varginha manifestou interesse em doar o terreno, mas
acredita que Pouso Alegre possa ser uma opção melhor, em função da
gravidade da situação prisional na cidade. Para o vice-prefeito de
Pouso Alegre, Toni Mariosa, o Estado deveria investir em Apacs. "O
dinheiro que se gasta para construir um presídio com 300 vagas seria
suficiente para acolher uns 1.500 recuperandos no sistema Apac",
comparou.
Comissão quer elaborar relatório com alternativas
para problemas
O deputado Delvito Alves (DEM), ao final da
reunião, disse que a visita a Pouso Alegre é apenas o início do
trabalho da comissão. "Vamos percorrer as regiões do Estado e
preparar um relatório sobre a realidade da execução das penas para
ser encaminhado aos órgãos competentes", informou. Para ele, é
preciso apontar as mazelas do sistema prisional para que a solução
possa ser encontrada. A necessidade de uma distribuição mais justa
dos recursos com o Estado e os municípios foi apontada pelo deputado
Wander Borges (PSB) como condição essencial para a solução da
maioria dos problemas brasileiros. "Precisamos analisar para onde
estamos caminhando, que sociedade teremos daqui a 20 anos",
questionou.
Requerimentos - Foram
aprovados dois requerimentos do deputado Durval Ângelo durante a
reunião. O primeiro é para convidar o subsecretário de Estado
Antidrogas, Cloves Benevides, para apresentar o trabalho realizado
por sua pasta à comissão. O outro requerimento é também de convite
ao Fórum Permanente de Execução das Penas e à Escola da Magistratura
do Estado do Rio de Janeiro para expor sua experiência na execução
de penas. Ele pede ainda que seja convidado o desembargador Reinaldo
Ximenes, da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes.
Presenças - Deputados João
Leite (PSDB), presidente; Durval Ângelo (PT), relator; Wander Borges
(PSB) e Delvito Alves (DEM). Também participaram da reunião o
diretor-geral do presídio de Pouso Alegre, Rômulo Augusto Toledo
Mota; o representante da Defensoria Pública, Belmar Azze Ramos; e o
diretor da Faculdade de Direito do Sul de Minas, Rafael Tadeu
Simões.