O estabelecimento de um convênio entre entidades
ligadas à produção de café e órgãos do poder público para controle
da qualidade do produto foi uma das propostas retiradas durante a
audiência pública realizada nesta quinta-feira (23/4/09) pelas
comissões de Política Agropecuária e Agroindustrial e de Defesa do
Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais. Durante a audiência, solicitada pelos deputados Vanderlei
Jangrossi (PP), Délio Malheiros (PV) e Antônio Carlos Arantes (PSC),
parlamentares e convidados discutiram os prejuízos causados à
economia brasileira pela adulteração do café.
Segundo Almir José da Silva Filho, presidente da
Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) e do Sindicafé,
205 marcas de café das 453 analisadas entre agosto do ano passado e
março deste ano apresentavam irregularidades. O problema foi
verificado por meio de pesquisa realizada pelo Sindicafé. O deputado
Vanderlei Jangrossi, que presidiu a reunião, lembrou que o fato de
terem sido encontrados resíduos no café moído, como milho, cascas e
outros materiais, preocupa não apenas pelo aspecto econômico.
"Trata-se também de um caso de saúde pública", frisou.
O deputado Délio Malheiros considera que esse tipo
de fraude "denigre a imagem de Minas Gerais". Ele lembrou que se o
Brasil não zelar pela qualidade de seu café, pode perder espaço no
mercado internacional para países como a Colômbia, que tem se
destacado na exportação do produto. Para o deputado Domingos Sávio
(PSDB), é necessário que se crie uma política que estabeleça ações
padronizadas de fiscalização e de combate a esse tipo de fraude.
A fraude é apenas mais um dos muitos problemas que
o setor cafeeiro vem enfrentando, segundo o deputado Antônio Carlos
Arantes (PSC). Para ele, o selo de qualidade da Abic, que completa
20 anos em maio, estimulou a produção de café de qualidade, mas é
insuficiente para impedir a ocorrência das fraudes.
Controle de qualidade -
Para Evandro Neiva, da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, o Brasil carece de uma regulamentação mais clara
para o controle da qualidade do café. Atualmente, a única norma que
regulamenta a produção é a Resolução nº 277/05 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), que dispõe sobre os padrões de
qualidade dos gêneros alimentícios. Almir José da Silva Filho
informou que a Abic conta com um corpo técnico que pode orientar no
estabelecimento de padrões de qualidade para regulamentação do
processo de beneficiamento.
Cláudia Parma, gerente de Vigilância Sanitária de
Alimentação da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, disse
que a fiscalização das torrefadoras e estabelecimentos que
beneficiam o café é descentralizada, sendo de responsabilidade das
vigilâncias sanitárias locais. Apesar de considerar difícil
verificar se a fiscalização está ocorrendo de forma adequada, a
gerente informou que o Estado tem feito interdições cautelares das
empresas que apresentaram irregularidades.
Marcelo Henrique Sampaio, analista do Ministério
Público estadual, disse que mais de cem processos contra empresas
acusadas de adulterarem café foram instaurados. Ele lembrou que, nos
casos em que há presença de milho, que é uma cultura completamente
diferente do café, fica caracterizada a intenção de fraude para
baratear o produto. Informou também que muitas torrefadoras produzem
o chamado "café fantasma", embalando o produto com rótulos de
empresas que não existem legalmente e, portanto, não podem responder
judicialmente pelo crime.
Crise no setor é antiga
O deputado Antônio Carlos Arantes disse é preciso
atentar para a crise enfrentada pelo setor. Segundo o parlamentar,
nos últimos 14 anos, o custo de produção subiu cerca de 500%,
enquanto o preço do café teve aumento de apenas 23% no mesmo
período. O deputado aponta a adulteração do café como mais um fato
que agrava a situação.
Na avaliação do deputado Délio Malheiros, uma das
conseqüências da prática de adulteração é o produtor honesto sair
prejudicado, correndo o risco de perder espaço no mercado. Ele
lembrou que o café puro perde competitividade em relação aos
produtos adulterados, que têm preços mais baixos.
Para o deputado Chico Uejo (PSB), uma saída para
enfrentar o momento de crise é investir no incremento do mercado
interno de café, para diminuir a dependência de exportações. Ele
citou como exemplo o Japão, que consome vários produtos feitos de
café, e sugeriu que o Brasil faça o mesmo.
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) disse que em
2003 a Comissão Especial da Cafeicultura Mineira apresentou um
relatório que previa a crise que o setor enfrentaria. Ele afirmou
que muitos problemas apontados na época continuam e que o relatório
pode orientar discussões sobre alternativas para enfrentar a crise
da cafeicultura.
De acordo com o deputado Domingos Sávio (PSDB), o
enfrentamento dos problemas que o segmento atravessa deve ser
encarado como política de Estado. "(O café) é um produto que é
âncora das exportações brasileiras, responsável pela maior geração
de empregos no campo", justificou.
Convênio - Para garantir a
troca de informações para estabelecer um controle mais rigoroso e
padronizado da qualidade do café produzido no Estado, os deputados
apresentaram requerimento, que será encaminhado à Comissão de
Política Agropecuária e Agroindustrial, para que seja enviado um
ofício às secretarias de Agricultura, Saúde e Fazenda, à Federação
da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), à Abic
e ao Minstério Público estadual sugerindo a celebração de um
convênio entre essas entidades.
Os deputados devem encaminhar também um ofício à
Abic para solicitar o envio da lista de empresas torrefadoras
identificadas como irregulares.
Presenças - Deputados
Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da Comissão de Política
Agropecuária e Agroindustrial; Antônio Carlos Arantes (PSC),
vice-presidente da mesma comissão; Délio Malheiros (PV),
vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor e do
Contribuinte; Chico Uejo (PSB); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e
Domingos Sávio (PSDB).