A Comissão Especial de Execução das Penas da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou, nesta quinta-feira
(23/4/09), requerimento do deputado Delvito Alves (DEM) para a
realização de visita a Unaí, seguida de audiência pública na cidade
para discutir a situação carcerária no Noroeste de Minas, a exemplo
do que a comissão fará em Pouso Alegre (Sul de Minas) nesta sexta
(24). A comissão também ouviu na reunião, a requerimento do deputado
Durval Ângelo (PT), o relato de dois defensores públicos do Estado
sobre a prisão indevida de acusados por crimes considerados de médio
potencial ofensivo.
A defensora pública Marina Lage Pessoa da Costa
esclareceu que esses tipos de crimes são aqueles passíveis de penas
de até quatro anos e não sujeitos à privação de liberdade nos casos
de réus primários com bons antecedentes. "Ainda assim aqueles mais
carentes e com poucos recursos, ou que não indicam um advogado, têm
sido mantidos presos durante o processo", denunciou Marina,
lembrando que nem mesmo a condenação nesses casos geraria a privação
de liberdade, e sim o cumprimento de penas alternativas, como
prestação de serviços à comunidade.
Mesmo quando a Defensoria Pública atua nesses
casos, ela relatou aos deputados que o Judiciário tem mantido a
prisão durante o processo argumentando, via de regra, ausência de
documentação do cidadão, sobretudo de comprovação de endereço de
residência. "Mas já há uma jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) de que a falta de comprovante de endereço não é,
isoladamente, motivo para o indeferimento da liberdade provisória",
afirmou Marina.
Ela lembrou que a falta de documentos formais está
relacionada à própria condição de carência dos acusados por crimes
não raramente relacionados à própria falta de condições de
alimentação. São casos como tentativas de furto de barras de
chocolate, picanha e chinelos em supermercado, cometidas muitas
vezes por pessoas que moram em imóvel emprestado ou local invadido e
não têm trabalho, mas que mesmo assim fornecem endereço para serem
localizados.
"Os menos abastados estão ocupando as prisões, e
quando é feito o pedido de liberdade, ele é negado pelo Judiciário.
É um gargalo da Justiça que nos preocupa", frisou ela.
Custo alto e danos sociais
O deputado João Leite (PSDB) fez um aparte durante
o relato dos defensores, lembrando que o custo mensal por cada preso
mantido pelo Estado é de 2 mil reais. "Um dos presos há oito meses
pelo furto de um chinelo já custou portanto 16 mil reais ao Estado",
criticou o parlamentar. Já o deputado Vanderlei Miranda (PMDB) quis
saber dos defensores porque o Juizado de Pequenas Causas não era
acionado nos casos por eles citados, tornando menos moroso os
processos e menos danosas as conseqüências para aqueles mantidos no
sistema carcerário, sendo esclarecido de que isso somente pode
ocorrer com os crimes de baixo potencial, com pena de até dois
anos.
O deputado Durval Ângelo lembrou o programa
Tolerância Zero, que reduziu os índices de criminalidade em Nova
Iorque por integrar ações sistêmicas e não isoladas, integração que
ele defendeu também para as políticas públicas do Estado.
Já o coordenador de Política Prisional da
Defensoria Pública do Estado, Fabiano Torres Bastos, manifestou aos
parlamentares preocupação especialmente quanto à prisão de acusados
por furtos e roubos visando comprar drogas, e defendeu que os
trabalhos da comissão aprofundem a discussão sobre a situação dos
dependentes químicos e a falta de tratamento adequado dado a eles no
sistema carcerário, preocupação que foi endossada pelos deputados
Vanderlei Miranda e Wander Borges (PSB). Nesse sentido, o deputado
João Leite sugeriu requerimento para que seja ouvido também o
subsecretário de Estado Antidrogas, o que ainda será apreciado pelos
parlamentares da comissão.
Presenças - Deputados João
Leite (PSDB), presidente; Vanderlei Miranda (PMDB), vice; Durval
Ângelo (PT), relator; Delvito Alves (DEM) e Wander Borges
(PSB).