O aumento do valor das indenizações pagas às
vítimas das enchentes nos bairros Betânia, Vila Bom Sucesso e
Salgado Filho; regularização fundiária das propriedades da região;
redução das contas de água e agilização das obras de reassentamento
habitacional e de contenção das cheias foram as principais
reivindicações apresentadas pelos moradores e endossadas pelos
parlamentares que participaram de audiência pública realizada pela
Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização nesta quarta-feira
(22/4/09). Os moradores dos bairros atingidos pelas enchentes que
ocorreram desde 31 de dezembro de 2008 lotaram o Teatro da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião foi solicitada
pelo deputado Padre João (PT).
O coordenador do Núcleo de Execução de Projetos
Especiais de Saneamento da Sudecap, Ricardo Aroeira, disse que obras
de alargamento da calha do Rio Arrudas, na área atingida, é
inviável, e não é pretendida pela Prefeitura de Belo Horizonte. A
idéia ainda é defendida pelos moradores, mas o município concluiu
que a melhor solução para minimizar a ameaça de enchentes na região
é a realização de obras de contenção nos córregos que deságuam no
Arrudas, tais como o Bom Sucesso e Jatobá/Olaria, em Belo Horizonte;
e Ferrugem, em Contagem. O prazo para conclusão destas obras,
segundo Aroeira, é de dois ou dois anos e meio. Seu objetivo é
reduzir a velocidade com que as águas de chuvas intensas descem para
o Arrudas, velocidade que aumentou nos últimos anos em razão da
canalização do rio, assoreamento dos córregos e impermeabilização do
solo pela ocupação desordenada da região.
Segundo Aroeira, já estão previstos mais de R$ 100
milhões para investimentos em obras de contenção no Bom Sucesso.
Buscam-se recursos federais para que o mesmo seja feito no córrego
Jatobá/Olaria e uma parceria entre municípios para que o mesmo
ocorra no córrego Ferrugem. Até que estas obras sejam concluídas, a
prefeitura está implantando um sistema de alarme contra cheias, algo
que irritou os moradores, que consideram a medida um paliativo
inócuo e temem que as providências se resumam a isto. "Já vivemos
alarmados. Não precisa de mais alarme", afirmou uma moradora idosa
do bairro Betânia, Dona Zelita.
Os moradores também se mostraram irritados com
comercial veiculado recentemente pela PBH, com a atuação da atriz
Patrícia Pillar, que faz referência à assistência prestada às
vítimas da chuva. O comercial foi criticado pelos deputados Padre
João e Walter Tosta (PMN). Este último chegou a sugerir que o
Ministério Público pedisse na Justiça a suspensão da veiculação do
anúncio.
Deputado sugere indenização de R$ 5 mil
Em requerimento apresentado, a ser votado na
próxima reunião, o deputado Padre João sugeriu que a PBH reveja o
valor da indenização oferecida às famílias atingidas, que hoje é de
um valor máximo de R$ 2 mil. Ele afirmou que o valor mais adequado
seria de R$ 5 mil, perda média estimada para cada família por Sérgio
Silva, representante dos moradores do Betânia. Outras reivindicações
dos moradores que receberam apoio dos deputados foram a revisão das
contas de água e de energia do mês posterior à enchente;
regularização fundiária de propriedades e empenho para solução
burocrática de famílias que precisam da indenização mas têm
dificuldades para apresentar a documentação necessária.
Sérgio Pereira da Silva, representante do bairro
Betânia, afirmou que algumas famílias têm contas de água de até R$
200 a pagar, em função da limpeza que foi feita nos dias posteriores
à enchente. "São pessoas que estavam acostumadas a pagar contas de
R$ 10", afirmou. O gerente do Distrito Oeste da Copasa, Élcio
Francisco de Siqueira, afirmou que a empresa enviou correspondência
a moradores da região oferecendo parcelamento das contas ou cobrança
do valor médio de consumo, mas não têm recebido muitas respostas. Os
representantes dos moradores contestaram a oferta, dizendo que as
pessoas interessadas não estão sendo atendidas. O deputado Padre
João apresentou requerimento pedindo a revisão das contas.
Mais críticas - O deputado
Walter Tosta também criticou o tamanho dos apartamentos que a
prefeitura está construindo para abrigar famílias que não poderão
voltar para as antigas casas. "As pessoas saem de casas com seis ou
sete quartos e vão para uma caixa de fósforos", disse. Ricardo
Aroeira, por sua vez, afirmou que os apartamentos em construção são
melhores dos que os ofertados pela iniciativa privada e que seria
inviável construir casas com seis quartos. Segundo ele, são mais de
400 apartamentos em construção, a serem entregues em três etapas:
julho, setembro e dezembro. As famílias terão opção de receber o
imóvel ou indenização, e até a conclusão da obra, continuarão
recebendo uma bolsa-moradia, para custear o aluguel.
Sobre a assistência prestada nos dias seguintes à
enchente ocorrida no réveillon, o assistente-social da
Regional Oeste, Roberto Araújo, afirmou que 384 famílias foram
atendidas no dia 1º de janeiro, recebendo 1.447 colchões, 1.285
cobertores e cestas-básicas. Moradores se queixaram os colchões eram
muito finos e muitas cestas-básicas tinham arroz bichado.
O deputado Wander Borges (PSB) cobrou uma reflexão
de todos no sentido de rever o processo de impermeabilização que,
segundo ele, ameaça toda a Região Metropolitana. Ele lembrou que, em
1997, o mesmo tipo de desastre atingiu a Região Leste de BH e
Sabará, deixando 2,2 mil desabrigados. Já a promotora Célia Beatriz
Gomes, representante da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de
Belo Horizonte, afirmou que o órgão irá acompanhar a situação das
vítimas, as providências tomadas e fará uma análise dos critérios
que levaram à fixação do valor máximo de R$ 2 mil para indenização
de cada família.
Parecer incorpora emendas a Política
Habitacional
Além de discutir a situação das vítimas das
enchentes, a reunião da Comissão de Assuntos Municipais e
Regionalização também aprovou, nesta quarta-feira, parecer às
emendas de 1 a 5 apresentadas em Plenário ao Projeto de Lei (PL)
1.723/07, do deputado Wander Borges (PSB), que estabelece a Política
Estadual Habitacional de Interesse Social. O projeto visa a
facilitar o acesso da população de baixa renda à moradia, a fim de
reverter o quadro de déficit habitacional em Minas, estimado, em
2005, em 682 mil moradias, sendo 593 mil nas áreas urbanas (8,6% do
total brasileiro).
Todas as cinco emendas analisadas são de autoria de
Padre João. O parecer aprovado, da deputada Cecília Ferramenta (PT),
recomenda a aprovação das emendas de nºs 3 e 4, que têm por
objetivo, respectivamente, alterar a sigla de PEH (Política Estadual
de Habitação) para Pehis (Política Estadual de Habitação de
Interesse Social); e alterar a redação do art. 7º do Substitutivo nº
2, inserindo o Conselho de Desenvolvimento Regional e Políticas
Urbanas (Conedru) como instância responsável, preferencialmente,
pela avaliação e pelo monitoramento periódicos dos planos, programas
e ações relativos à política estadual de habitação de interesse
social.
O parecer também recomenda a rejeição da emenda
nº2, que pretende alterar a redação do inciso III do § 2º do art. 5º
do Substitutivo nº 2, de modo a incluir outras formas de execução
dos programas estaduais de habitação de interesse social. A relatora
considerou que a emenda já é atendida pelo texto atual do
projeto.
Por fim, a relatora propôs subemendas que acatam e
fazem alterações nas emendas de nºs 1 e 5. A emenda nº 1 propõe
alteração da redação do art. 8º do Substitutivo nº 2, acrescentando
ao final do dispositivo a expressão "e o aproveitamento de água
pluvial". O objetivo do autor da emenda é privilegiar as formas de
energia sustentável não poluidoras.
Já a emenda nº 5 pretende conferir nova redação ao
art. 9º, visando adequar as nomenclaturas à legislação federal, bem
como acrescentar ao referido artigo o § 3º, com o objetivo de
destinar percentual mínimo de 5% do número de unidades dos
empreendimentos de habitação de interesse social à pessoa idosa ou
com deficiência.
A subemenda apresentada à emenda nº 1 só adéqua seu
texto à técnica legislativa. A subemenda à emenda nº 5 acrescenta ao
parágrafo 3º o inciso II, destinando percentual mínimo de 5% do
número de unidades dos referidos empreendimentos às mulheres chefes
de família.
Presenças - Deputadas
Cecília Ferramenta (PT), presidente da comissão; e Ana Maria Resende
(PSDB); deputados Paulo Guedes (PT), vice-presidente da comissão;
Wander Borges (PSB), Walter Tosta (PMN) e Padre João (PT). Além das
autoridades citadas no texto, participaram da reunião o
representante do Bairro Vila Bom Sucesso, Eduardo Luiz Pinto; a
diretora de Manutenção de Áreas de Risco da Urbel, Cláudia Santctis
Viana; e o representante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e
Favelas, Jonatas Henrique da Silva.