A presença de índios em Minas é ignorada pelos
próprios mineiros. A constatação é do procurador da República em
Governador Valadares, Edilson Vitorelli Diniz Lima, que participou,
nesta sexta-feira (17/04/09), do Debate Público Os Povos
Indígenas de Minas Gerais e o Acesso às Políticas Públicas,
organizado pelas Comissões de Direitos Humanos e de Participação
Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Segundo o procurador, essa ignorância dificulta a
adoção de políticas públicas em prol dos indígenas e acentua o
preconceito em relação a essas populações. "Os mineiros de Belo
Horizonte e das regiões Central e Sul do Estado ainda pensam que
índio é exclusividade da Amazônia. Isso gera a visão distorcida de
que os indígenas são selvagens e vivem ainda como no século 16",
afirmou o procurador, que lembrou ainda a existência de preconceito
até mesmo nos meios jurídico e acadêmico. "Por que o artigo 231 da
Constituição, que trata dos povos indígenas, não é defendido tão
intensamente quanto o artigo 5º?", indagou.
Alcoolismo - Atualmente 20
inquéritos civis e quatro ações civis públicas relativas a questões
de direitos indígenas estão sob a responsabilidade da Procuradoria
da República em Governador Valadares. A maioria dos problemas
refere-se a demarcações de terras.
Saúde e saneamento são outros dois problemas
sérios, segundo ele, assim como o alcoolismo. "A dependência do
álcool tem causado problemas sociais muito sérios. Vender bebida
alcoólica a índios é crime, por isso o Ministério Público e a
Polícia Federal têm feito operações continuamente para evitar isso.
Estradas - O procurador
informou que uma ação civil pública foi proposta na Justiça Federal
em Governador Valadares para responsabilizar a União na conservação
de estradas municipais que dão acesso a tribos indígenas, quando as
prefeituras não puderem fazê-lo. "As tribos no Estado estão em
regiões muito pobres, onde os recursos são escassos. Por isso a
União tem que assumir solidariamente, por meio do Dnit, essa
responsabilidade", disse o procurador Edilson Lima.
Prefeito pede regularização de terras
A exemplo do procurador, o prefeito de São João das
Missões, José Nunes de Oliveira, lamentou a falta de qualidade de
vida e a pobreza em que vivem os povos indígenas em Minas. A cidade,
que fica a 700 quilômetros de Belo Horizonte, tem o pior PIB per
capita do Estado e 70% da população formada por índios e
descendentes, inclusive o próprio prefeito.
Ele cobrou agilidade nos processo de demarcação de
terras no Estado. "Só a partir da regularização das terras é que
poderemos pensar em políticas públicas voltadas à saúde e à
educação. Mas é preciso antes ter a terra. Ainda há muitos índios
sem terra no Estado", lamentou.
Debates - Na fase de
debates, os índios e representantes de comunidades índigenas que
lotaram o Plenário da ALMG apresentaram suas reivindicações e
dúvidas aos integrantes da Mesa. Investimentos nas áreas de saúde,
saneamento básico e educação foram os mais cobrados.
O deputado André Quintão (PT), que conduziu o
Debate Público, encerrou o evento afirmando existir uma "divida
histórica e social do Brasil para com os povos indígenas", por isso,
segundo ele, o dia 19 de abril não é de comemoração apenas, mas de
luta e mobilização.