Desde 2003, são repassados os mesmos valores para a
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), mas a população indígena está
aumentando. Como equacionar isso? Esta foi uma das questões
levantadas na tarde desta sexta-feira (17/4/09), na continuação do
Debate Público Os Povos Indígenas de Minas Gerais e o Acesso às
Políticas Públicas, no Plenário da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais. Aumentar a oferta de cursos profissionalizantes nos
territórios indígenas mineiros e melhorar as condições de saneamento
básico, saúde e de acesso às comunidades foram outros temas
abordados.
"Em 2009, ainda tivemos o corte de 20%, por conta
do fim da cobrança da CPMF. O recurso diminuiu e as necessidades da
população estão aumentando. Precisamos buscar a reorganização
orçamentária", disse o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena
em Minas Gerais da Funasa, Altino Barbosa Neto. Ele ressaltou que um
dos focos da administração atual é o estímulo ao controle social. "O
índio precisa saber o que e como está sendo gasto", afirmou. Altino
também convidou as comunidades indígenas a tentar garantir presença
nos conselhos municipais, como forma de aumentar a
representatividade e apresentar demandas específicas.
Barbosa Neto explicou que Minas Gerais tem 17
equipes de saúde voltadas para os indígenas. "Onde tem população
indígena, tem recursos para equipe de saúde. Cada equipe tem um
médico, um dentista, um enfermeiro, agentes de saúde, agentes de
saneamento", contou. Segundo ele, somente quatro cidades estão sem
essas equipes, "mas os recursos já estão sendo solicitados". "É um
distrito muito disperso. Precisamos de boas parcerias com municípios
e Estados para fazer o melhor. Nesse sentido, hoje a Casa de Saúde
do Índio (Casai), em Governador Valadares, já está com prédio pronto
e aguardando recursos para mobiliário, que estão sendo negociados",
informou. A previsão é inaugurar a casa no meio deste ano.
"Também estamos reivindicando recursos para
construção de uma Casai em Montes Claros. Já temos a doação do
terreno. Gostaríamos de pedir o empenho dos deputados para a
construção da casa. Isso resolveria muitos problemas que temos com o
transporte dos xacriabá para atendimento médico", contou. Ele também
cobrou autonomia para funcionamento dos distritos, medida que,
segundo Altino, proporcionará mais transparência na aplicação dos
recursos.
A educação indígena diferenciada é um
direito
A subsecretária de Estado de Desenvolvimento da
Educação Básica, Raquel Elizabete de Souza Santos, apresentou o
Programa de Implantação de Escolas Indígenas de Minas Gerais e
lembrou a necessidade de uma estrutura diferenciada de ensino para
as comunidades. Ela reforçou a educação indígena diferenciada como
um direito. Em Minas Gerais, o curso normal indígena em nível médio,
com duração de quatro anos, já formou 213 alunos, sendo que 140
deles já estão fazendo curso superior na Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). "São três turmas formadas, e estamos iniciando
uma nova turma. Já começou o processo de organização e inscrição.
Esperamos cerca de 70 novos cursistas", disse.
Raquel informou que 15 escolas já foram criadas e
que existem outros 59 locais em funcionamento. "Estão sendo
construídas 35 novas casas-escola, que ainda estão em processo de
licitação." Segundo ela, em 2008 foram 3.303 alunos matriculados nos
níveis de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
Entre outras ações do programa, estão a produção e
edição de material didático específico elaborado pelos professores
indígenas, estudos e pesquisas em educação indígena e a formação
continuada dos professores, que pertencem às etnias. A gestão das
escolas é participativa e conta com representantes dos povos
indígenas, da Secretaria de Estado de Educação, da administração
regional em Governador Valadares da Funai, da UFMG e do Instituto
Estadual de Florestas (IEF). O panorama positivo apresentado pela
subsecretária, entretanto, foi questionado pelos índios na fase de
debates.
Comissões - O debate público foi promovido
pelas Comissões de Participação Popular e de Direitos Humanos e
encerra a programação do seminário Abril Indígena em Minas
Gerais: por Terra, Direitos e Autonomia, realizado durante a semana no Instituto
Metodista Izabela Hendrix. Representantes de dez comunidades
indígenas estiveram presentes, além do povo Catu Awá, que está em
processo de reconhecimento.