Ministro Carlos Lupi aposta em superação rápida da
crise
"O Brasil já está saindo da crise e será o primeiro
país emergente a virar a página desta crise". A aposta é do ministro
do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, que participou nesta terça-feira
(14/4/09) do Ciclo de Debates Minas Combate a Crise,
promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Governo do
Estado, BDMG, Fiemg e Diários Associados. Segundo Lupi, o número de
empregos no País, que chegou ao saldo negativo de 650 mil postos em
dezembro, sofreu retração menor em janeiro (cem mil) e teve ligeiro
crescimento de 9 mil postos em fevereiro. O resultado de março do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), será positivo
nos três maiores estados: São Paulo, Rio e Minas. Será a virada",
antecipou.
Com um discurso otimista, o ministro afirmou que o
Brasil tem como diferenciais para superar a crise o mercado interno
aquecido, US$ 200 bilhões em reservas cambiais e a presença do
Estado na economia, além de muitos recursos naturais como petróleo e
clima favorável. "E temos o diferencial de um governo que investe no
social, que aumenta a renda do trabalhador", afirmou. Para o
ministro, a crise também é pontual e não dever ser generalizada. Ela
estaria concentrada, sobretudo, nos setores exportadores, como o de
minério. "Mas a China voltou a comprar", salientou.
Lupi também criticou empresários que, logo no
início da crise, usaram as demissões como forma de compensação. "É
preciso ter cuidado para não usar a crise como desculpa para fazer
ajustes que não foram feitos antes ou para ampliar os lucros. O
momento é de diálogo entre os setores", afirmou. O recurso das
demissões, de acordo com o ministro, é ainda mais condenável em
setores com investimentos públicos ou isenções de impostos.
Ele citou como exemplo o setor automotivo, que,
apesar da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e
de um ano inteiro de lucros, dispensou trabalhadores. "Hoje já estão
fazendo hora extra ou contratando de novo", comparou. Para Lupi, não
se pode ter dinheiro público sem uma contrapartida, que, no momento,
é a garantia do emprego. A crise foi gerada pela ganância do lucro
do sistema financeiro americano, e os trabalhadores dos países em
desenvolvimento não podem pagar por ela.
A ressalva à fala do ministro ficou por conta da
professora Sulamis Dain, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, que assinalou os salários mais baixos e o corte de
benefícios nas recontratações feitas pelo setor automotivo. Nos
demais pontos, ela também se mostrou otimista, ressaltando o
dinamismo do mercado interno brasileiro, o equilíbrio fiscal e uma
certa independência do País em relação às exportações, não mais
concentradas em um único destino. "O que me deixa frustrada com a
crise é que ela pegou o Brasil num momento de elevação da taxa de
crescimento, quando estávamos entrando em um novo ciclo de
desenvolvimento, que foi abortado", lamentou.
Assim como Lupi, Sulamis afirma que o Brasil deve
instituir condicionantes para financiar empresas. "Temos que
combater essa visão do Estado que privatiza lucros e socializa
prejuízos", resumiu. Por outro lado, segundo ela, o Brasil tem a
melhor política social entre os países emergentes, embora o
investimento social seja visto por parte da sociedade como dinheiro
jogado fora. "Em 2008, a Previdência teve superávit. E agora é
permitido a trabalhadores sem carteira assinada que contribuam e
tenham direito à aposentadoria", citou.
Outro exemplo foi o Sistema Único de Saúde (SUS),
que emprega 8 milhões de trabalhadores, envolve 8% do Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro e ainda tem linhas para financiar
pesquisas de medicamentos e equipamentos. 'É um complexo
industrial", apontou. Como saída para o aperto financeiro dos
estados no momento de crise, Sulamis pregou o relaxamento de
restrições impostas pela União desde os anos 80, que determinam o
comprometimento de parte da receita fiscal dos estados para o
pagamento de dívidas com o Governo Federal.
Na fase de debates, o ministro foi questionado
sobre a carga tributária do País, que poderia ser aliviada em troca
da manutenção de empregos. Lupi foi enfático ao defender os impostos
e citou a CPMF, que era associada por empresários à alta de preços
de produtos. "A CPMF caiu e nenhum produto teve o preço reduzido por
isso. Esse discurso é de quem quer ter mais lucro",
finalizou.
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