Comissão vai avaliar sugestões para melhorar Saúde da Família

A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais vai receber sugestões do poder público, de entidades pr...

08/04/2009 - 00:04
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão vai avaliar sugestões para melhorar Saúde da Família

A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais vai receber sugestões do poder público, de entidades profissionais e do setor acadêmico, a fim de formatar propostas que contribuam para a solução dos problemas do Programa Saúde da Família (PSF). Um dos gargalos é a dificuldade para contratar e manter os médicos no programa. Em nova tentativa de intermediar a concretização de ações em parceria, a comissão promoveu reunião nesta quarta-feira (8/4/09), quando foram elencados problemas como baixos salários, condições de trabalho inadequadas, falta de formação permanente e descontinuidade das ações por motivos políticos pós-eleições. O Ministério da Saúde justificou a ausência na reunião.

Carreira - Convocada a requerimento dos deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão, e Fahim Sawan (PSDB), a reunião possibilitou que parlamentares e convidados formulassem uma proposta de solução que passa pelo Legislativo: a regulamentação da carreira do médico do serviço público e, em particular, do médico de saúde da família. Essa sugestão veio de Sawan e também do presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM/MG), João Batista Gomes Soares, para quem é preciso carreira, concurso público e salário digno para esses profissonais. Ricardo do Nascimento Rodrigues, do Sindicato dos Médicos, foi além, defendendo concurso em níveis estadual ou federal, visto que, para ele, os municípios não teriam como arcar com esses custos.

O deputado Carlos Mosconi avaliou a reunião como produtiva e enfatizou que a solução para os problemas depende de ação integrada dos poderes constituídos, das entidades de classe e das faculdades. Para o deputado Ruy Muniz (DEM), uma alternativa seria adotar estrutura já existente em Minas para a saúde, que dividiu o Estado em 13 macrorregiões. Ele defendeu a criação de uma rede com base no princípio do consórcio de municípios. Os deputados Fahim Sawan e Doutor Rinaldo (PSB) condenaram, por sua vez, a desmobilização das equipes após o período de eleições e por motivação política.

Números - Apesar dos problemas, o sucesso do PSF foi atestado na reunião. Minas é o Estado com o maior número de equipes do Brasil. São 3.795, o que representa uma cobertura de 67,9% da população. Conta ainda com 25.437 agentes comunitários de saúde, e o projeto se encontra em implantação em 832 dos 853 municípios. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que confirma que o PSF contribuiu para reduzir o número de internações que podem ser prevenidas, ou seja, aquelas sensíveis à atenção ambulatorial. Por meio do Programa Saúde em Casa, o Estado participa do PSF, que é uma parceria do Governo Federal com os municípios. As equipes do programa são formadas por médico, enfermeiro, dentista, agentes comunitários e auxiliares de enfermagem e de dentista e atendem de 2,5 mil a 4 mil pessoas.

Formação permanente e parceria com escolas de medicina devem ser priorizadas

A coordenadora da Faculdade de Ciências Médicas, Rosa Malena Delbone de Faria, sugeriu que a SES se articule com as escolas para oferecer formação permanente para os médicos do PSF. Isso poderia ocorrer, acrescentou, com a intermediação da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), que ela representou na reunião. Defendeu ainda ser preciso focar o esforço na graduação, já que, nas escolas, professores e alunos resistem a praticar o discurso que consta das diretrizes curriculares nacionais: o de formar médicos generalistas, com ênfase na atenção primária. Ele citou como exemplo positivo o da Prefeitura de Belo Horizonte, que fomenta essa "ponte".

Delbone também elogiou o Programa de Educação Permanente (PEP)-Saúde, desenvolvido pela SES, avaliando que o modelo de Minas precisa ser reproduzido para o Brasil. A superintendente de Gestão de Pessoas em Educação e Saúde da SES, Juliana Barbosa de Oliveira, falou sobre o programa, que consiste em reuniões mensais de professores universitários com as equipes da Saúde da Família, quando o docente funciona como uma espécie de tutor. "Os médicos se sentem atraídos e participam", destacou Juliana Oliveira, que também comentou pesquisa que o Executivo desenvolve em parceria com a UFMG sobre o PSF e que tem servido de base para ações de governo. Entre elas, encontros de orientação para gestores municipais e transmissão de programas educacionais pela internet e tevê.

Profissionais condenam interferência política e cobram melhores condições de trabalho

Os representantes dos médicos condenaram as interferências políticas e cobraram melhores condições de trabalho. O presidente do CRM/MG, João Batista Gomes Soares, enfatizou que a contratação dos médicos do PSF deveria ocorrer por concurso público, sem interferências políticas que acabam provocando a rotatividade dos profissionais. Ele expôs um dado que merece atenção dos gestores: a constatação de que o médico que vai para o PSF não é o que está em vias de se aposentar, mas sim o recém-formado que não conseguiu passar na residência médica e acaba na função de médico de família para "fazer caixa", desvinculando-se depois do programa.

Ricardo do Nascimento Rodrigues, do Sindicato dos Médicos, que trabalha no PSF há oito anos, ratificou as palavras do presidente do CRM e evidenciou outro problema, confirmado pela Secretária de Saúde de Sarzedo (Região Central), Magali Rodrigues de Brito Araújo. É o fato de, no interior, a tentativa de melhorar o salário do médico acabar esbarrando na limitação legal de que nenhum servidor pode ganhar mais que o prefeito. Tanto Rodrigues quanto Soares falaram sobre a sobrecarga de trabalho do médico do PSF. O representante do Sindicato dos Médicos informou o caso do bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte, onde uma equipe está encarregada de 9 mil pessoas.

Carga horária gera polêmica

O deputado Doutor Rinaldo levantou a questão da carga horária do médico que, no PSF, é de oito horas/dia. Magali Araújo, que representou o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), confirmou que a sobrecarga de trabalho acaba desmotivando o profissional. Admitiu ainda que, no Brasil, há médicos não cumprindo a regra das 40 horas semanais. Ela informou inclusive à comissão que, na segunda-feira (13), o Conasems participará de um debate nacional sobre o tema, junto com Ministério da Saúde e outros órgãos e entidades. "O fato é que a assistência à saúde não pode ser prejudicada por causa da carga horária, seja ela de vinte, trinta ou quarenta horas", enfatizou.

A presidente da Sociedade de Medicina da Família e Comunidade, Ruth Borges Dias, defendeu a manutenção da carga horária de 8 horas/dia, uma premissa do modelo PSF, mas ponderou que, dentro de seu horário de trabalho, o profissional possa se dedicar à formação permanente. Ela relatou que, nos casos em que se reduziu a carga, as visitas domiciliares acabaram sendo abolidas - um aspecto essencial da estratégia de saúde da família. Apesar de admitir que a dedicação exclusiva não é uma realidade em algumas situações, o representante do CRM cobrou a rediscussão da regra por conta das características da atividade do médico.

Caso de Janaúba - Ruth Borges Dias, que também representou a Associação Médica de Minas Gerais na reunião, exemplificou o caso de Janaúba como de interferência política na gestão do PSF. Segundo ela, com a nova administração estaria paralisado o PEP-Saúde, que oferecia formação permanente aos médicos há três anos. Ela também informou à comissão que profissionais teriam sido demitidos na troca de gestão. Em resposta, Ruy Muniz, deputado majoritário em Janaúba, afirmou que houve o remanejamento de alguns médicos, mas que isso não teria ocorrido por perseguição política. Ele informou que não houve redução das equipes do PSF na cidade - que conseguiu reduzir a mortalidade infantil de 39% para 4%, tornando-se referência na América Latina.

Experiência de BH - A experiência de BH foi relatada por duas representantes da Secretaria de Saúde: Carmem Maia, gerente de Recursos Humanos, e Sônia de Matos, gerente de Atenção Especializada. Elas mostraram os números do PSF na Capital. A cobertura é de 75% da população, feita por 513 equipes. Sônia informou aos deputados os resultados de um estudo que reforçam o relato dos profissionais sobre a alta rotatividade existente no PSF. Ela disse que há 17 entradas de médicos por mês no programa, mas o desligamento no mesmo período é de 12. Apesar disso, cerca de 50% das equipes têm médicos há cinco anos. Para manter os médicos, a Secretaria tem apostado na formação permanente, além de ter reajustado o salário, que hoje é de pouco mais de R$ 7,5 mil para 40 horas semanais de trabalho.

Requerimento - A comissão aprovou requerimento do deputado Ruy Muniz de audiência para ouvir vereadores de Belo Horizonte e o Conselho Municipal de Saúde sobre o Fórum Metropolitano de Saúde, realizado em 2008. O requerimento foi apresentado por sugestão de Kátia Ferraz e Terezinha Rocha, do conselho, que acompanharam a audiência.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Doutor Rinaldo (PSB), Fahim Sawan (PSDB), Ruy Muniz (DEM) e Sebastião Helvécio (PDT), além dos convidados citados na matéria e de Alan Queiroz Barbosa e Raquel Braga, da UFMG.

 

 

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