Dos 41 mil presos do Estado, 40% são condenados,
sendo o restante provisórios. Do total, 80% não têm advogado
particular, mas apenas 30% deste universo contam com a efetiva
assistência de um defensor público. Os números foram repassados à
Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo superintendente de
Atendimento ao Preso da Subsecretaria de Administração Prisional
(Suapi), Guilherme Soares, uma das 14 pessoas ouvidas na primeira
reunião com convidados da Comissão Especial da Execução das Penas no
Estado, nesta quinta-feira (2/4/09). Ele também projetou o número de
presos para 2011: 72 mil pessoas.
Na reunião, acompanhada por agentes penitenciários,
a comissão ouviu reivindicações, entre elas de aparelhamento,
contratação de pessoal e melhor remuneração para os defensores. Dos
1,2 mil cargos do órgão, apenas 472 estão providos, segundo a
defensora Marina Lage. No Estado, 61% das comarcas não contam com o
profissional, que presta assistência jurídica ao preso que não tem
condições de pagar por um advogado. O consenso entre os convidados
foi de que somente com ações integradas dos operadores do Direito,
governo e sociedade é possível resolver os problemas. Na reunião,
tanto a Defensoria quanto o Ministério Público afirmaram que é
determinação dos órgãos fazer com que seus profissionais saiam do
gabinete e acompanhem de perto o andamento das penas.
Deputados solicitam documentos e informam agenda
dos trabalhos
O relator, deputado Durval Ângelo (PT), avaliou que
esse primeiro encontro reuniu "um mosaico das intervenções dos
diversos órgãos". Ele solicitou que sejam encaminhados à comissão
relatórios das ações da Defensoria, bem como o levantamento do
quadro prisional de cada unidade administrada pela Polícia Civil.
Atualmente, ainda há 11,9 mil presos sob sua guarda, distribuídos em
228 cadeias, sendo 13 na Região Metropolitana de Belo Horizonte
(RMBH). A previsão é de que até 2011 eles sejam transferidos para a
Suapi, órgão da Secretaria de Estado de Defesa Social, informou a
coordenadora do Núcleo de Gestão Prisional da Polícia Civil, Cláudia
Calhau.
Durval Ângelo explicou que a comissão não é de
visita a estabelecimentos prisionais e sim de estudos sobre a
execução das penas. O deputado Wander Borges (PSB), que cobrou
melhor remuneração para a Defensoria Pública, acredita que a
comissão poderá chegar ao final dos trabalhos constatando o grau de
intensidade com que cada órgão atua para resolver os problemas
existentes. Para conhecer melhor o trabalho de cada um, foi aprovado
inclusive, nesta quinta (2), requerimento do deputado Delvito Alves
(DEM) de visita ao Comitê Integrado de Política Prisional (Cipp) da
Secretaria de Defesa Social. Já a expectativa do presidente,
deputado João Leite (PSDB) é de que, a partir do trabalho da
comissão, possam nascer novas leis que interfiram efetivamente na
execução das penas.
A comissão realizará seminários em Pouso Alegre
(Sul de Minas), Juiz de Fora (Zona da Mata), Montes Claros (Norte de
Minas), Governador Valadares (Vale do Rio Doce) e Uberlândia
(Triângulo).
Defensoria denuncia superlotação em Pouso Alegre;
governo quer agilidade da Justiça
O defensor Cristiano Maia Luz trouxe à comissão o
caso do presídio de Pouso Alegre, considerado "uma bomba-relógio"
prestes a explodir. Segundo ele, o local abriga 360 detentos, quando
deveria ter 81. O prédio está com infiltrações e, quando chove, as
celas ficam inundadas. As condições foram consideradas desumanas
pelo órgão, que está tomando providências judiciais. Em resposta,
Guilherme Soares informou que será inaugurado neste semestre
presídio com 396 vagas.
Cristiano Maia Luz citou, ainda, os casos de pelo
menos dois presos provisórios de Pouso Alegre que foram mantidos no
cárcere por vários meses, pois não tinham como comprovar residência
e ocupação lícita. "Há um rigor excessivo do Ministério Público e do
Judiciário quanto à manutenção das prisões cautelares", opinou,
afirmando que o cidadão tem dificuldade para conseguir liberdade
provisória. Para Guilherme Soares, o rigor da Justiça existe e é
preciso romper com o paradigma da penalização. O diretor de
Articulação do Atendimento Jurídico da Secretaria de Defesa Social,
Alexandre Costa, sugeriu que a comissão volte seu olhar também para
o processo penal, afirmando que existe "exacerbação na aplicação da
pena, que gera uma execução desproporcional".
Na opinião de Costa, o grande gargalo do sistema é
a resposta jurisdicional em tempo hábil. Ele citou o exemplo de
Ribeirão das Neves (Região Metropolitana de Belo Horizonte), onde um
despacho de progressão de regime pode demorar oito meses, relativo a
uma pena média de cinco, seis anos. "O que angustia o preso é a
falta de resposta", enfatizou ele, que opinou ser preciso dotar a
Vara de Execução Criminal de mais estrutura. Ele cobrou uma ação
mais rápida da Justiça e avaliou que o Tribunal de Justiça - que foi
convidado para a reunião desta quinta (2) - deveria ser chamado com
urgência ao debate.
Pastoral Carcerária sugere acompanhamento das
famílias e cobra acesso às unidades
A secretária executiva da Pastoral Carcerária da
Igreja Católica, Maria de Lourdes Oliveira e Silva, sugeriu à
Secretaria de Defesa Social que seja criada uma secretaria de
atendimento às famílias dos presos. Também sugeriu à comissão que
possam participar dos trabalhos na Assembleia representantes do
Grupo de Amigos e Familiares, dos agentes penitenciários e da
sociedade.
Ela denunciou ainda que a Pastoral não tem acesso a
todas as dependências das unidades prisionais, em especial os locais
em que presos ficam "de castigo", disse. "Se não há o que esconder,
por que o acesso não é permitido?", questionou, afirmando ser este o
caso da Penitenciária Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves.
Dinacarla Gonzaga, do Conselho Regional de Psicologia, confirmou
dificuldades de acesso, relatadas ao conselho por representantes de
movimentos sociais.
Em resposta, Guilherme Soares informou que o
governo deverá criar em breve o Núcleo de Assistência à Família do
Preso, que prestará assistência social e psicológica a esse grupo. O
trabalho começará pela Penitenciária Estevão Pinto, em Belo
Horizonte. Sobre a dificuldade de acesso às unidades, ele solicitou
que a Pastoral encaminhe à Secretaria de Defesa Social relatório
informando onde o problema está acontecendo.
Experiência bem-sucedida da Apac é lembrada
O gerente da Associação de Proteção e Assistência
aos Condenados (Apac) de Itaúna, Alexandre Nogueira, e o juiz da
comarca de Santa Luzia, Cristian Garrido Higuchi, falaram à comissão
sobre a experiência bem-sucedida do método. "Não tem mistério",
enfatizou o juiz, lembrando que, nessas unidades, a execução da pena
é humanizada, com os presos sendo tratados com respeito, assistência
jurídica, boa alimentação e ofertas de atividades artesanais,
educativas e profissionais. Ele reafirmou o que outros convidados
disseram: que a solução para o problema prisional está na integração
das ações dos diversos órgãos, bem como da comunidade.
A importância dessa rede de relações foi reforçada
por Alexandre Nogueira, que conta com o apoio dos empresários de
Itaúna e de parceiros como o Instituto Marista. A média de ocupação
dos dois centros de recuperação e reintegração social é de 135 a 140
homens e 20 a 25 mulheres. Para ele, o método Apac, que está hoje em
80 comarcas, deveria se estender para todos os municípios.
Fiscalização - A
subcoordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal do
Ministério Público, Vanessa Fusco, assegurou à comissão que a
prioridade do órgão, neste momento, é fiscalizar pela boa execução
penal. O comando para os promotores é que saiam dos gabinetes e
verifiquem o que está acontecendo no cárcere. A exemplo dos
defensores, ela também falou de questões emergenciais, como a
inadequação das instalações das cadeias.
Também falaram à comissão especial o defensor
público federal Estevão Ferreira Couto, que encaminhará levantamento
sobre os presos provisórios acusados de crimes federais; a
ouvidora-geral do sistema penintenciário, Marlene Alves de Almeida
Silva, que também enviará relatório de visitas que estão sendo
feitas a presídios; Mônica Peixoto, da Capelania Prisional da
Convenção Batista Mineira, que esclareceu prestar apoio emocional e
espiritual aos presos; e o assessor da Secretaria de Defesa Social
no Núcleo de Gestão Prisional da Polícia Civil, Marcos Vinícius
Cruz.
Presenças - Deputados João
Leite (PSDB), presidente; Vanderlei Miranda (PMDB), vice; Durval
Ângelo (PT), relator; Delvito Alves (DEM) e Wander Borges (PSB).
Também participou Maria do Socorro Sanches Brandão, da Pastoral
Carcerária.