Parlamentares buscam entendimento sobre monitoramento ambiental

Divergências sobre o monitoramento ambiental no Estado e a importância do incentivo a políticas de valorização da sil...

24/03/2009 - 00:07
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Parlamentares buscam entendimento sobre monitoramento ambiental

Divergências sobre o monitoramento ambiental no Estado e a importância do incentivo a políticas de valorização da silvicultura pautaram os extensos debates realizados na manhã desta terça-feira (24/3/09) por representantes de entidades ligadas à cadeia produtiva florestal, do Governo do Estado e parlamentares da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais. A reunião teve o objetivo de discutir o Projeto de Lei (PL) 2.771/08, de autoria do governador Aécio Neves, que altera a Lei Delegada 14.309, de 2002, que trata da legislação florestal, e dispõe sobre a adoção de procedimentos visando ao equilíbrio entre as atividades econômicas e a necessidade de resguardar o meio ambiente. A audiência, realizada no Auditório da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, foi solicitada pelo deputado Almir Paraca (PT).

Segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, o projeto atende a pelo menos 80% dos interesses das entidades de classe e ambientalistas. Ele explicou que a intenção é corrigir distorções na legislação, como a que permite às empresas o uso de 100% de carvão vegetal de mata nativa, desde que pague em dobro o valor da reposição florestal. Em sua fala, ele disse que as principais divergências na elaboração da proposição foram quanto aos critérios de monitoramento ambiental e ao prazo para que as empresas se adeqüem aos mecanismos de sustentabilidade. De acordo com ele, a Secretaria entende que oito anos sejam necessários, mas o setor produtivo pede pelo menos dez. "Desejamos criar políticas de apoio à silvicultura, sem prejuízo ambiental. É preciso que a sustentabilidade deixe de ser um slogan para tornar-se efetivamente sinônimo de desenvolvimento para Minas Gerais", salientou.

O diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Humberto Candeias Cavalcanti, garantiu que o sistema de monitoramento desenvolvido pela secretaria é um dos mais modernos e práticos do País. Segundo ele, cerca de 90% do Estado está mapeado e um inventário técnico das florestas foi feito. Isso garantiria o controle e fiscalização de toda a madeira que é transportada e utilizada na cadeia produtiva florestal em Minas. Ele defendeu o incentivo à silvicultura, desde que com o devido controle.

Relator promete parecer para próxima semana

O presidente da comissão e relator do PL 2.771/08, deputado Fábio Avelar (PSC), disse que o debate irá subsidiá-lo na redação do parecer sobre a matéria, que ele prometeu apresentar na próxima semana. Sobre a importância da pluralidade do debate ambiental para a correta produção legislativa, Avelar citou recente experiência em Ponte Nova, onde se discutiu a implantação de um presídio em área que seria de um parque municipal.

O deputado Carlos Gomes (PT), que representou o deputado Almir Paraca na reunião, apresentou sugestões ao projeto. Entre elas, o parlamentar citou a ampliação do sistema de cadastramento de produtores e consumidores de produtos florestais; o estabelecimento de cronograma rígido e gradativo para a substituição do consumo de produtos de origem nativa; a maior flexibilização para a formação de estoques florestais voltados ao suprimento; o estabelecimento de regras em relação ao cumprimento deste cronograma; estímulo de mecanismos alternativos à formação de plantações florestais, por meio da comercialização de créditos de carbono; eliminação do dispositivo que permite às indústrias de ferro-gusa consumirem até 100% de sua demanda de carvão provenientes de madeira de mata nativa; o impedimento da instalação de novas indústrias sem a devida comprovação de fontes sustentáveis e baseado no reflorestamento; e o estabelecimento de índice de metas anuais decrescentes de desmatamento do Estado.

Importação - O subsecretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Paulo Romano, lembrou que o Estado ainda importa madeira, o que seria um contra-senso. Na opinião dele, Minas Gerais possui tecnologia e potencial florestal ímpar no País e o governo deveria investir no incentivo ao invés do controle. "Perdemos milhões com importação. É preciso crescer a oferta de florestas plantadas para conseguirmos o desenvolvimento sustentável", disse.

Os representantes da Associação Mineira de Silvicultura, Bernardo Vasconcelos, e da Federação da Agricultura e Pecuária (Faemg), Carlos Alberto de Oliveira, defenderam a desoneração das empresas e dos produtores rurais que façam reflorestamento. Para eles, o processo é caro e longo e, por isso, seria importante um maior incentivo do governo, para que seja reduzida a pressão da cadeia sobre a utilização de madeira de floresta nativa.

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg), representada por Eduardo Nascimento, e o Sindicato da Indústria do Ferro (Sindifer), representado por Paulino Cícero, lembraram também a importância da valorização do pequeno produtor rural e empregado das indústrias. Paulino Cícero afirmou que é importante pensar não somente na sustentabilidade ambiental, mas no desenvolvimento social.

Amda ressalta importância da preservação de florestas nativas

A superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ribas, lembrou que é totalmente desnecessário o uso de florestas nativas para a cadeia produtiva do Estado. De acordo com ela, a expectativa da entidade com a aprovação do projeto é proteger o pouco que resta de florestas em Minas Gerais. "Não somos contra a silvicultura, mas acreditamos que o governo deve adotar o desmatamento zero, que abra exceção apenas para projetos de interesse social", salientou.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) disse esperar que haja uma maior fiscalização das áreas de produção florestal e que é preciso fazer um levantamento das áreas devolutas, para que o problema do monitoramento e controle seja resolvido. O deputado Vanderlei Jangrossi (PP) fez coro às palavras do colega e afirmou que a sustentabilidade só ocorrerá se o debate for aberto a todos os interessados.

Carlos Pimenta afirmou que o Norte de Minas não é contra a política de compensação de reserva legal entre regiões do Estado, desde que ela ocorra de uma forma justa para os moradores da região. "O que aconteceu é que um grupo comprou a terra de 50 ou 60 pequenos proprietários, a preço de nada, e estes foram para a cidades, engordar as periferias. E o grupo que compra a terra não produz nada na região, nem gera empregos", disse o deputado. Essa possibilidade, prevista na lei florestal mineira e retirada de vigor por ação do Ministério Público, permitiu no passado que empresários adquirissem terra barata no Norte de Minas e as transformassem em unidades de conservação como forma de compensação por não terem preservado a reserva legal de suas propriedades no Triângulo. A reserva legal equivale a 20% da área total da propriedade.

Os deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Doutor Viana (DEM) elogiaram o debate equilibrado entre as diversas partes envolvidas na questão. "As leis têm que ser feitas dentro do contexto do diálogo", afirmou Dalmo. Doutor Viana afirmou disse que o próprio setor produtivo entende a necessidade de mecanismos eficazes de controle e que só protesta quando há cobranças equivocadas, como teria ocorrido em relação ao decreto 45.016. "Mas o governo foi sensível e atendeu as reivindicações. O decreto foi revogado", afirmou Viana.

Nova cobrança sobre a água será debatida em reunião

Entre cinco requerimentos aprovados pela Comissão do Meio Ambiente nesta terça-feira (24), um deles solicita a realização de audiência pública no próximo dia 14 de abril, para discutir a instituição da política governamental para cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Estado. De acordo com os parlamentares Fábio Avelar e Almir Paraca, autores do requerimento, a discussão contribuirá para a consolidação do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos de Minas Gerais. Para dos deputados, é necessário que o Estado disponha de uma política criteriosa de aplicação de recursos para proteção e recuperação de sua rede hidrográfica.

Serão convidadas para a reunião a diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) Cleide Izabel Pedrosa de Melo; o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos de Carvalho; a deputada estadual Ana Perugini (PT-SP), coordenadora da Frente Parlamentar de Ações da Sabesp; além de representantes da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e do Ministério Público.

Outro requerimento aprovado, de autoria do deputado Délio Malheiros (PV), solicita audiência pública na cidade de Itamarandiba (Vale do Jequitinhonha) para discutir a implementação do Parque Estadual da Serra Negra, criado através de Decreto Estadual 39.907, de 1998. De acordo com o deputado, o parque possui diversas nascentes de rios importantes para a Bacia do Jequitinhonha, além de grande variedade na fauna e flora, como o lobo guará e as canelas d'ema gigantes. Délio Malheiros destacou que o Governo já iniciou os procedimentos para a criação do parque.

Um terceiro requerimento aprovado, de autoria do deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), pede a realização de audiência pública para discutir a implantação do loteamento Vila Castela II, no município de Nova Lima. O objetivo é evitar os danos ambientais que vêm ocorrendo na região, com por exemplo, a destruição da Mata Atlântica.

Outro requerimento aprovado, dos deputados Fábio Avelar e Carlos Gomes, solicita que seja feito apelo ao governador do Estado, para que os órgãos competentes da região de Ponte Nova tomem medidas compensatórias de proteção ambiental e criação de programas socioeconômicos. Por fim, foi aprovado requerimento do deputado Almir Paraca para realização de visita técnica da Comissão de Meio Ambiente aos municípios de Sapucaí-Mirim, Camanducaia e Itapeva, onde estão localizadas nascentes do Rio Jaguari (Sul de Minas).

Presenças - Deputados Fábio Avelar (PSC), presidente; Sávio Souza Cruz (PMDB), vice; Gil Pereira (PP), Carlos Gomes (PT), Vanderlei Jangrossi (PP), Carlos Pimenta (PDT), Jayro Lessa (DEM), Antônio Carlos Arantes (PSC), Doutor Viana (DEM) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Além das autoridades citadas no texto, participaram da reunião o analista ambiental do Ibama, Fábio Milagres Rodrigues; e o promotor Luciano Badini Martins, coordenador da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente.

 

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