Ponte Nova exige medidas compensatórias para abertura de novo presídio

Um pedido do ex-vereador Antônio Araújo e do atual presidente da Câmara Municipal de Ponte Nova, José Mauro Raimundi,...

18/03/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Ponte Nova exige medidas compensatórias para abertura de novo presídio

Um pedido do ex-vereador Antônio Araújo e do atual presidente da Câmara Municipal de Ponte Nova, José Mauro Raimundi, levou a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais à cidade da Zona da Mata nesta quarta-feira (18/3/09).

O objetivo da primeira audiência pública da comissão em 2009 foi analisar os impactos ambientais causados pela construção de um presídio em área próxima ao Parque Municipal Tancredo Neves, conhecido como Passa-Cinco, que tem 255 hectares. O deputado Carlos Gomes (PT) elogiou a participação dos presentes à audiência. "Ponte Nova precisa de uma retomada muito grande. Foram quase quatro horas de audiência pública. Saio daqui confiante de que o melhor pode ser feito", falou.

O autor do requerimento da reunião, deputado Fábio Avelar (PSC), também registrou sua satisfação com o nível do debate. Ele informou que uma obra para novo acesso ao presídio já foi licitada e que também já existem recursos para a estação de tratamento de esgoto, ambas demandas apresentadas durante a audiência.

"Pelo que escutei aqui, particularmente não tenho dúvida de que a questão do presídio é irreversível, e que foi referendada pela população por meio de seus representantes. Quando o governador liberou os recursos, ele o fez como um bem para Ponte Nova e atendendo reivindicação dos representantes da região. Vamos agilizar as questões aqui levantadas", afirmou.

Uma visita ao local da construção antecedeu a audiência pública. O presídio tem 9,2 mil m² em uma área total de cinco hectares, doados pela prefeitura ao Governo do Estado. A previsão é de que a obra, com capacidade para 594 presos, seja finalizada até maio.

Com o auditório da Câmara Municipal lotado, estiveram presentes à reunião representantes dos poderes Executivo Legislativo, e do Ministério Público, assim como da organização não-governamental Puro Verde. Entre outros desdobramentos relacionados ao tema da audiência, vários cidadãos questionaram sobre as frentes de trabalho que serão abertas a partir da inauguração do presídio e exigiram que as vagas sejam preenchidas por moradores de Ponte Nova.

Os deputados presentes, Fábio Avelar e Carlos Gomes, receberam muitos pedidos para levar ao governador Aécio Neves as demandas apresentadas durante o debate. A população, em sua maioria contrária ao presídio, solicita que o Executivo efetive ações compensatórias que minimizem os impactos ambientais, sociais e econômicos do empreendimento.

"Não estamos pedindo favor. São R$ 23 milhões gastos na obra, mais R$ 1,2 milhão para o acesso e outros R$ 700 mil para o esgoto. É preciso haver preocupação também com o meio ambiente", falou o presidente do Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente (Codema), Ricardo Motta de Almeida, que fez um histórico de todo o processo de doação do terreno.

Ele mostrou jornal de 1º de julho de 2005 com matéria sobre desanexação de área do parque. "Considerávamos que era um local degradado. O parque só tinha 81 hectares na época. Isso ocorreu antes de qualquer problema no atual presídio da cidade", argumentou. "Ao assegurar que não havia problema legal na construção do presídio, o Codema cumpriu seu papel técnico, na formalidade da lei. O terreno estava desanexado por meio de deliberação do Codema. O prefeito querer doar parte do terreno não tem nada a ver com a desanexação", explicou.

Vereador solicita medidas compensatórias

Para o presidente da Câmara Municipal de Ponte Nova, José Mauro Raimundi, a construção do terreno foi feita em local impróprio. "Mesmo desanexado da área do parque, acreditamos que agride o meio ambiente", afirmou. Ele foi o autor da emenda que proibiu a intervenção no parque de redes de luz elétrica e via de acesso.

"O presídio está praticamente pronto. A essa altura é difícil mudar o quadro, mas queremos pelo menos que o governo adote medidas compensatórias na cidade", disse. Ele repassou documento com as sugestões de medidas para o deputado Fábio Avelar, que leu o teor do documento.

O vereador solicita ações como criação de batalhão da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros na cidade, reaparelhamento da Polícia Civil, reparos das ruas danificadas pelas obras e investimento social compensatório, além de iniciativas específicas voltadas para a obra, como instalação de redes elétricas e de telefonia fora da área do parque.

"O poder público gera cadeia lotada com a falta de emprego, de educação formal e por aí vai. Ponte Nova teve uma tragédia: a morte de 25 presos na cadeia da cidade. A resposta imediata foi o novo presídio. O governo pediu terreno e a prefeitura fez a doação. Preso é resultado da nossa sociedade e temos que ter responsabilidade com ele, sim. Agora, construir uma obra agredindo normas ambientais é outra questão. A pergunta hoje é: o que o Estado vai fazer para corrigir seus erros (que incluem as agressões ambientais e a falta de políticas públicas)?", questionou o vereador Wagner Guimarães Mol.

"Que compensações sejam implantadas. Que o presídio não seja um mal necessário. Que a comissão reitere as demandas da cidade junto ao governo, que nos ajudou tão prontamente após outra tragédia, que foram as enchentes", finalizou. O ex-vereador Antônio Benedito de Araújo pediu que ALMG olhe pela cidade. "Estão decretando a falência de Ponte Nova", disse.

O representante da ONG Puro Verde, Hélcio Totino, propôs que o governo deixe a obra ser usada para outro fim. "É uma solução, já que está praticamente pronta. Sou contra o local onde o presídio está. Não se procurou outro local. Por que no nosso parque? Não sabemos defender o futuro dos nossos filhos", disse.

Totino apelou ao presidente da comissão que leve ao governador a preocupação da população da cidade e entregou documentos com denúncias de impacto ambiental na área da construção, além de um CD com informações sobre todo o processo. "Foi autorizado um presídio. Estamos à frente de uma penitenciária, que recebe presos julgados. Não cabe existir uma penitenciária para atender nossa cidade. É legítimo construir aquela obra?"

"Alimentamos a ilegalidade e a impunidade com a afirmação de que a obra quase pronta é caso encerrado. O Crea fiscalizou, a Polícia Ambiental também, e os documentos foram repassados ao Ministério Publico. Não houve estudo, não houve planejamento. E agora a obra está quase pronta sem planejamento do tratamento de esgoto, de água e do acesso", frisou o fiscal do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), Marcelo Poleska.

Promotor afirma que presídio só deve abrir após ações efetivas de prevenção

O curador do Patrimônio Público e do Meio Ambiente da comarca de Ponte Nova, promotor Humberto de Almeida Bizzo, acredita que existe um desencontro de dados em todas as esferas. "Alguns órgãos afirmam que existem impactos e, conseqüentemente, a necessidade de um estudo de impacto ambiental. Outros afirmam que não."

Ele fez um histórico de todo o processo. "A ação civil pública que impetrei contra o Estado tem 94 laudas." Bizzo afirmou que pediu informações ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) e ao Codema sobre a área, e que o Executivo apresentou documentos que confirmavam a regularidade da situação. Segundo ele, a jurisprudência não reconhece presídio como obra poluidora. "É uma questão muito complicada e que deve ser olhada com a singularidade que o caso exige."

"A mesma lei que fala da doação coloca a prefeitura como responsável por ações de infra-estrutura, como a implantação de redes de esgoto e de vias de acesso. No entanto, não prevê medidas orçamentárias para tal iniciativa", disse. Ele citou o fato como exemplo de uma série de desencontros do processo de construção do presídio. "Uma conduta apressada possibilitou a obra antes da regularização fundiária, que ocorreu somente em 2008."

O promotor, que pediu um estudo de impacto de vizinhança da obra, afirmou: "o mínimo que deve ser cobrado é que o presídio só comece a funcionar com a construção de uma estação de tratamento de esgoto, redes de telefonia e de alta tensão e vias de acesso fora da área do parque". Bizzo entregou ao deputado Fábio Avelar cópia da ação civil pública impetrada.

Requerimentos recebidos - Foram recebidos três requerimentos ao final da reunião. O deputado Délio Malheiros (PV) solicita audiência pública em Itamarandiba para discutir a efetiva implementação do Parque Estadual da Serra Negra (criado por meio do Decreto Estadual 39.907/98). Já os deputados Fábio Avelar e Almir Paraca (PT) solicitam audiência pública para ouvir a diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Cleide Izabel Pedrosa de Melo, para falar sobre a instituição da política governamental para cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Estado. Dos deputados Fábio Avelar e Carlos Gomes, o terceiro requerimento recebido pela comissão faz um apelo ao governador para que determine a realização de medidas compensatórias voltadas para a minimização dos impactos decorrentes da construção do novo presídio em Ponte Nova.

Presenças - Deputados Fábio Avelar (PSC), presidente; e Carlos Gomes (PT). Também participaram da reunião o secretário Municipal de Meio Ambiente, Edson Soares Leite Júnior; o vice-presidente da Câmara Municipal, Nilton Luiz de Paula; e o vice-prefeito Itamar Neves Duarte.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - www.almg.gov.br

Rua Rodrigues Caldas,30 :: Bairro Santo Agostinho :: CEP 30190 921 :: Belo Horizonte :: MG :: Brasil :: Telefone (31) 2108 7715