Polícia Civil é contra proposta de autonomia para perícia criminal

Em documento recebido nesta segunda-feira (16/3/09) pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Leg...

16/03/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Polícia Civil é contra proposta de autonomia para perícia criminal

Em documento recebido nesta segunda-feira (16/3/09) pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT), o Conselho Superior da Polícia Civil se posicionou de forma contrária à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 43/08, que aguarda parecer na Comissão Especial. De autoria do deputado Arlen Santiago (PTB) e outros, a PEC cria a Polícia Técnica e Científica do Estado, dando autonomia à perícial criminal. O tema foi tratado em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos nesta segunda-feira (16), a requerimento de seu presidente, deputado Durval Ângelo.

Durante a audiência pública, a Polícia Civil permaneceu isolada em seu posicionamento contrário à autonomia da perícia criminal. Os peritos eram a maioria dos presentes no Auditório da ALMG e sua reivindicação foi defendida por seus representantes, assim como por Durval Ângelo e pelo promotor de Justiça Rodrigo Filgueira de Oliveira. O deputado e o promotor criticaram, sobretudo, o fato de Minas Gerais ser o único Estado brasileiro que não aderiu ao Plano de Ação Integrada de Combate à Tortura, proposto pelo Governo Federal em agosto de 2008. A justificativa, segundo Durval, foi o fato de o plano propor autonomia para a perícia criminal.

A Chefia da Polícia Civil foi representada no evento pelo delegado membro do Conselho Superior, Marco Aurélio Assunção. Foi ele quem entregou o documento que registra a posição da instituição sobre o assunto. "Não creio que haja benefício para a investigação policial. A integração dos órgãos de polícia é fundamental para o sucesso da investigação", argumentou Assunção. No documento, o Conselho da Polícia Civil argumenta, ainda, que a PEC 43/08 é inconstitucional por invadir a competência do Executivo.

Um dos principais argumentos da Polícia Civil é que a separação institucional entre o trabalho de perícia, que produz o laudo técnico, e o trabalho de agentes e escrivães, que fazem o registro e análise da psicologia criminal, fragmentaria a investigação. "A autonomia é uma medida simplista, que não é solução para os problemas da perícia", afirmou Assunção.

Perícia é autônoma na maioria dos Estados

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Márcio Correia Godoy, um dos convidados para a audiência pública, 18 Estados brasileiros já constituíram perícia criminal independente da Polícia Civil, entre os quais São Paulo, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Em Minas Gerais, a perícia criminal está subordinada a um delegado superintendente de Polícia Técnica e Científica, que inclui o Instituto de Identificação, o Instituto Médico Legal e o Instituto de Criminalística, que é mais estritamente responsável pelo trabalho de perícia criminal. Rio de Janeiro e Espírito Santo têm estrutura semelhante.

Godoy afirmou que a subordinação da perícia criminal contribui para a desestruturação do órgão. Lembrou ainda que o Plano Nacional de Segurança Pública, instituído pelo Governo Federal em 2003, recomenda a autonomia da perícia. A falta de estrutura da perícia foi um dos assuntos que mais chamou atenção durante a reunião. O promotor Rodrigo Filgueira relatou o caso de uma investigação de assassinato em que o laudo pericial registrou um falso negativo para vestígios de sangue, em decorrência da utilização de luminol não efetivo. O luminol é uma substância que permite a visualização de vestígios sangüíneos, em geral invisíveis sob luz normal.

O deputado Durval Ângelo disse que a autonomia, conforme a Polícia Civil argumenta, não é solução para todos os problemas da perícia, em especial a falta de estrutura. Para ele, no entanto, a medida contribuiria para melhorar a qualidade do trabalho policial. O presidente da Associação de Criminalística do Estado, Wilton Sales, se queixou da sobrecarga de trabalho dos peritos do interior de Minas. Também lançou suspeita de irregularidades em processo de compra de invólucros lacrados realizado pela Polícia Civil para utilização da perícia, em 2008. Sales denunciou ainda que a saída de 43 policiais do Instituto de Criminalística, sem reposição, deixou o Instituto exposto à ação de bandidos. "Ali são guardadas armas, munição, explosivos e drogas, sob a vigilância apenas de uma câmera de circuito interno. Se hoje os bandidos estão assaltando quartéis da Polícia e do Exército, imaginem a situação do Instituto de Criminalística", comparou.

O diretor do Instituto de Criminalística de Minas, Sérgio Ribeiro, que está no cargo desde 2006, se queixou da forma como a Superintendência de Polícia Técnica e Científica vem tratando o órgão. Segundo ele, reuniões são feitas com peritos, transferências e designações são determinadas pela Superintendência sem seu conhecimento. "É um desrespeito à figura do diretor. Isso é inadmissível em uma administração", queixou-se. Para ele, as compras de insumos para o Instituto ficam prejudicadas porque o superintendente prioriza as compras de viaturas e armamentos.

Peritos do interior são subordinados aos delegados regionais

Quando o presidente abriu o microfone para a platéia, o vice-presidente do Sindpol, Denilson Martins, lembrou que os salários são tão importantes quanto as condições de trabalho para o perito. Segundo ele, muitos dos peritos são do quadro de servidores administrativos, com salário inicial de R$ 341,00. Martins também cobrou uma integração entre as classes da Polícia Civil antes de se tentar a integração com a Polícia Militar.

O perito criminal Cláudio Vilela Rodrigues disse que não ouviu argumentos sólidos contra a autonomia, e atribui o entrave ao interesse dos delegados, que já teriam perdido muito poder com a vigência da Constituição. Alertou que a situação pior é a dos peritos do interior, subordinados aos delegados regionais, e pediu que pelo menos se reportassem ao diretor do Instituto de Criminalística.

Ao encerrar a reunião, o deputado Durval Ângelo informou ter recebido denúncia de que os resíduos químicos e orgânicos do trabalho do Instituto de Criminalística são lançados na rede de esgotos sem nenhum cuidado especial. Pediu que a própria Perícia analise seus esgotos para comprovar se há danos ao meio ambiente e desrespeito à legislação ambiental.

Presenças - Deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão. Também participou da reunião o vice-presidente da Associação de Criminalística de Minas Gerais, Walney José de Almeida.

 

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