PMs femininas pedem aposentadoria aos 25 anos de
serviço
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 25/07,
que concede aposentadoria aos 25 anos de serviço às bombeiras e
policiais militares, foi debatida em audiência pública na tarde
desta quarta-feira (11/3/09) no Auditório da Assembleia Legislativa
de Minas Gerais, que ficou lotado de manifestantes que vestiam
camisas amarelas pedindo a aprovação da medida. A proposta é do
deputado Sargento Rodrigues (PDT), que representa as corporações
policiais, e recebeu o apoio dos 11 deputados que compareceram ao
evento.
O presidente da comissão, deputado Antônio Júlio
(PMDB), abriu a reunião lendo textos de apoio à luta enviados pela
deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) e pela deputada Maria Tereza
Lara (PT). Ainda dentro do espírito das comemorações do Dia
Internacional da Mulher, discursaram em apoio as deputadas Rosângela
Reis (PV), Gláucia Brandão (PPS) e Maria Lúcia Mendonça (DEM).
A palavra inicial foi dada ao deputado Sargento
Rodrigues, autor da proposta. Ele manifestou seu orgulho pelo grande
comparecimento à audiência e considerou inédita a mobilização.
Afirmou que o Estado é competente para legislar no âmbito da
aposentadoria dos policiais civis e militares, e argumentou que os
professores da rede pública têm seu direito estabelecido na
Constituição Estadual. Rodrigues enumerou os 11 Estados brasileiros
que já concederam essa aposentadoria especial a seus efetivos
femininos e comprometeu-se a apresentar, em 2o turno,
emenda incluindo as policiais civis femininas. Esse compromisso foi
aplaudido por Valério Valente, diretor do Sindipol.
Deputados do PSDB prevêem obstáculos para
implementação
Deram também seu apoio à PEC 25/07 os deputados
Lafayette de Andrada e Domingos Sávio, ambos do PSDB, embora tenham
feito ponderações em nome da prudência. Andrada disse que a medida é
justa, mas vai enfrentar obstáculos poderosos para ser implementada.
"A crise faz diminuir a receita e ainda não foi avaliado o impacto
financeiro, e a proposta vem num momento em que o Congresso tende a
aumentar o tempo de trabalho e adiar a aposentadoria", argumentou.
Domingos Sávio disse que "o efetivo feminino melhorou as polícias, e
hoje as mulheres comandam batalhões e delegacias e ninguém deseja
que elas se sacrifiquem em excesso. No entanto, a regulamentação
dessa PEC implica despesas. Será preciso negociar com o governo",
disse o pessedebista.
Os representantes da cúpula da PM e do Corpo de
Bombeiros, respectivamente o coronel Alexandre Salles e o
tenente-coronel Paulo Adriano Cunha, também adotaram posições de
cautela e informaram que estão sendo conduzidos estudos do impacto
financeiro para encontrar uma forma exeqüível de atender a
reivindicação. Salles elogiou a organização do movimento, que
estaria preservando os princípios de disciplina e hierarquia
próprios da corporação. Cunha afirmou que o Comando dos Bombeiros é
parceiro do movimento "no que for possível".
Maria Thaís Costa Oliveira Santos, representante da
Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), disse que a medida é
justa, mas que será preciso ter dinheiro para pagar, e os gestores
financeiros do Estado não podem tomar atitudes irresponsáveis. Ela
acha difícil arcar com o custo, já que a arrecadação de Minas teria
caído R$ 700 milhões em fevereiro, e aumentar tributos para
enfrentar o gasto é algo que a sociedade não suportaria mais.
Impacto seria mínimo, segundo estudiosos e
sindicalistas
Esses posicionamentos foram combatidos pelo
subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, presidente da Associação dos
Praças, e pela capitã Maria Carmen de Castro Patrocínio, psicóloga
da PM. Ribeiro disse que o argumento da crise atual não é válido, já
que as mulheres na PM são apenas 2.300, e não haveria ainda uma
centena em condições de requerer aposentadoria. Carmen também afirma
que o impacto financeiro não será grande, e que a previsão de
aposentadoria especial foi uma lacuna que ficou na Constituição
Estadual.
O principal argumento da capitã psicóloga em favor
da aposentadoria precoce é a alta incidência de doenças na policial
feminina, causadas pelo desgaste físico e psicológico. "Os
pesquisadores da Medicina do Trabalho demonstram que a mulher
trabalha além dos limites, pela dupla jornada que tem também como
dona-de-casa. As policiais são apenas 5% do efetivo da PM, mas
respondem por 42% dos casos de licenças longas de saúde",
afirmou.
Um dos raros casos de policial feminina aposentada
é o de Sara Aparecida Costa, subtenente da reserva, que entrou para
a PM na primeira turma, de 1981. Ela falou sobre a dificuldade
enfrentada por qualquer movimento reivindicatório há 15 anos, e
convocou as colegas da ativa a não se curvarem, porque sua luta é
justa. Outras policiais foram ao microfone de aparte para dar seu
testemunho de situações estressantes e violentas que enfrentaram na
função policial, como a participação em tiroteios em que foram
feridas ou até abortaram.
Outros apoios à PEC 25 vieram da área parlamentar.
O deputado Padre João (PT) disse que o PM fardado é a própria
presença do Estado, dando segurança e bem-estar à população, e se
Minas é o segundo Estado em arrecadação, terá condições de atender.
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) defendeu as policiais femininas do Sul do
Estado, que ajudam a construir a imagem da PM mineira como a melhor
do País.
O presidente da comissão, deputado Antônio Júlio,
elogiou a mobilização e disse que política só funciona na pressão.
Ofereceu seu apoio e assegurou que, apesar do impacto financeiro,
será possível fazer um planejamento de longo prazo para atender essa
justa reivindicação. Délio Malheiros (PV) disse que não é possível
para a policial feminina suportar dupla jornada durante 30
anos.
Presenças - Deputados
Antônio Júlio (PMDB), presidente; Lafayette de Andrada (PSDB),
vice-presidente; Délio Malheiros (PV), Ivair Nogueira (PMDB),
Sargento Rodrigues (PDT), Domingos Sávio (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), Padre João (PT) e as deputadas Gláucia Brandão (PPS), Maria
Lúcia Mendonça (DEM) e Rosângela Reis (PV).
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