Comissões se destacam em 2008 por aprimorar leis e resolver conflitos

Intermediar a solução de conflitos entre cidadãos e poder público, dar voz e visibilidade a demandas da sociedade, di...

22/12/2008 - 00:04
 

Comissões se destacam em 2008 por aprimorar leis e resolver conflitos

Intermediar a solução de conflitos entre cidadãos e poder público, dar voz e visibilidade a demandas da sociedade, discutir e aprimorar projetos em tramitação são algumas das atribuições das comissões da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Em 2008, elas se destacaram pela realização de audiências públicas que debateram questões essenciais para a população, trazendo resultados concretos em áreas como meio ambiente, defesa do consumidor, assistência social e cultura.

No segundo semestre, o destaque foi a revisão participativa do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) 2008-2011, conduzida pelas Comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Participação Popular. A sociedade encaminhou sugestões para aprimorar a lei que prevê onde e como o governo vai investir o dinheiro público. A Comissão de Participação Popular fez a triagem das sugestões e as transformou em emendas aos projetos de revisão do PPAG e do Orçamento. Coube à Comissão de Fiscalização Financeira dar pareceres que orientaram as votações em Plenário, concluídas nesta sexta-feira (19/12/08). Neste ano o processo consolidou-se, com o recorde de público desde 2003, quando começaram as audiências. Em Belo Horizonte, foram 593 participantes.

A partir da análise das mais de 400 propostas populares, foram apresentadas pela Comissão de Participação Popular 138 emendas ao projeto do PPAG e outras 51 ao projeto do Orçamento, todas acatadas pelos relatores. Uma conquista importante foi a previsão de monitoramento semestral da execução orçamentária. Dessa forma, em junho de 2009 serão realizadas audiências públicas na Assembléia a fim de avaliar a execução das metas físicas e financeiras do plano plurianual. A idéia é trazer os gerentes dos 57 projetos estruturadores do PPAG para que eles mostrem o que está sendo feito, facilitando, assim, o acompanhamento da execução orçamentária pelos parlamentares e pela sociedade. Os estruturadores são projetos prioritários, com a garantia de recursos e gerenciamento unificado.

Comissões em números - O número de convidados das audiências públicas das comissões, em 2008, chegou a 1.541, além de 313 pessoas que fizeram denúncias diversas à Comissão de Direitos Humanos. As 17 comissões permanentes da ALMG e as comissões temporárias realizaram 903 reuniões, incluídas 36 audiências no interior do Estado, e outras 43 visitas. Foram transformadas em leis 487 proposições de deliberação conclusiva das comissões. Cinco debates públicos aconteceram no ano: para discutir o projeto que criou a Bolsa Verde; residência médica; a implantação em Minas do Programa Social Criança e Adolescente (PAC Criança); os 100 anos de nascimento do escritor Guimarães Rosa; e a revitalização do Rio das Velhas.

Bolsa Verde e Várzea do Moinho: exemplos de participação com resultados

Os debates em comissão com o objetivo de aprimorar projetos têm resultados concretos para mostrar. Um exemplo é a Lei 17.727, que criou a Bolsa Verde, primeiro instrumento econômico de gestão ambiental do Estado. Originada do Projeto de Lei (PL) 952/07, do deputado Roberto Carvalho (PT), a lei prevê benefício financeiro anual a ser concedido a produtores ou posseiros rurais que promovam ações de recuperação, preservação e conservação da biodiversidade ou de recursos hídricos em áreas de sua propriedade ou posse. Entre as fontes de recursos, está a verba do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas (Fhidro).

O processo de elaboração da lei, liderado pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, contou com a participação do governo, produtores e movimento ambientalista. A norma estimula novo modelo de gestão ambiental, não mais baseado em instrumentos de comando e controle, mas em outros, como o pagamento por serviços ambientais. Cabe ao Executivo regulamentar a norma e, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a minuta do decreto está sendo analisada pela Secretaria de Governo.

O assessor jurídico da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Francisco Simões, foi um dos que participaram desse processo no Parlamento mineiro. Ele ressalta que a Assembléia foi receptiva às reivindicações do meio rural e lembra a importância do debate público, momento em que os diversos segmentos interessados puderam apresentar suas sugestões.

Agradecimento - Outro resultado concreto da atuação das comissões, mesmo que não sob a forma de lei, é destacado pelo ouvidor da Guarda Municipal de Belo Horizonte, William dos Santos. O ano de 2008 foi um marco para as 829 famílias que há 12 anos lutavam pelo direito à moradia no terreno conhecido como Fazenda Várzea do Moinho, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Em setembro, eles participaram de reunião da Comissão de Direitos Humanos com o objetivo de agradecer aos deputados e apresentar a escritura definitiva da área, que lhes foi concedida após acordo feito com o poder público.

A presidente da Associação dos Lesados da Várzea do Moinho, Jaqueline Luzia de Lima, afirmou que o apoio da comissão foi fundamental ao longo dos últimos anos. Audiências, visitas ao local e aprovação de requerimentos cobrando providências das autoridades foram instrumentos utilizados para chamar atenção para o assunto. William Santos, que é advogado e parceiro da Comissão de Direitos Humanos desde a época em que atuava na Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese da Capital, elogia o dinamismo da comissão. Ele lembra que, ao não se restringir ao processo de elaboração de leis e exercitar uma espécie de arbitragem, a comissão torna-se parceira fundamental do cidadão na resolução de conflitos em seu cotidiano.

Leis sobre cultura e direito do consumidor são aprimoradas

Outras duas leis sancionadas pelo governador em 2008 são exemplos de atuação das comissões com resultados concretos. É o caso da Lei 17.615 (ex-PL 1.022/07, da deputada Elisa Costa, do PT), que criou um escalonamento de dedução do ICMS devido, conforme a renda bruta anual da empresa, no caso do contribuinte que apoiar financeiramente projeto cultural. Também inovou ao criar um mecanismo de descentralização da aplicação dos recursos, para fomentar a participação do interior. Para se chegar ao texto da lei, foram anos de discussão, com a realização de audiências públicas da Comissão de Cultura e reuniões com entidades do setor e governo.

Outro exemplo é o da Lei 17.506 (ex-PL 973/07, dos deputados Fábio Avelar, do PSC, e Adalclever Lopes, do PMDB), que determinou que a Copasa fará a medição individualizada do consumo de água nos edifícios, a partir de requerimento do síndico ou responsável. Os debates foram conduzidos, entre outras comissões, pela de Defesa do Consumidor e do Contribuinte. Participaram Copasa, Federação das Indústrias (Fiemg), Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) e Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais (Abrasip).

Acesso à Justiça - Também depois de muito debate nas comissões e, em especial, na Comissão de Administração Pública, a Assembléia também deu o formato final ao Projeto de Lei Complementar (PLC) 26/07, do Tribunal de Justiça, que atualizou a organização e a divisão judiciárias de Minas. Ele resultou na Lei Complementar 105, que cria mais de 300 cargos de juiz; aumenta o número de desembargadores de 120 para 140; eleva o número de comarcas de entrância especial de 12 para 23 e cria quatro novas comarcas (Juatuba, Fronteira, Pains e Carneirinho).

Dar voz ao cidadão é ponto de partida para o trabalho das comissões

O presidente do Sindicato Rural de Cássia, Domingos Inácio Salgado, resume o espírito das audiências das comissões. Ele fala que a sociedade é o "combustível" que abastece a ação parlamentar, pois quem está na base conhece os problemas e pode levar ao deputado informações sobre a realidade. "O deputado está distante das regiões por causa do seu cotidiano. Nesse sentido, a audiência é importante quando promove a participação efetiva. Nossa fala deve ser prática e ter embasamento técnico para sensibilizar a sociedade", opina ele. Salgado já participou de eventos das Comissões de Meio Ambiente e de Política Agropecuária e Agroindustrial, entre outros.

Entre os exemplos de audiências de comissões em 2008, destacam-se: a série promovida pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização para avaliar a execução do Programa de Eletrificação Rural Luz para Todos; audiência da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática que viabilizou entendimentos entre a Secretaria de Educação e diretores de escolas, que reivindicavam reajuste salarial; debate da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social em Governador Valadares, a fim de levantar sugestões para minimizar efeitos do fluxo migratório para o exterior; vistorias para verificar as condições das estradas mineiras pela Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas; e audiência para colher sugestões do Fórum Estadual de Turismo sobre o PL 1.789/08, do governador, que reestrutura o Conselho Estadual de Turismo.

A Comissão de Política Agropecuária também se destacou na realização de audiências, como a que lotou o Plenário de produtores de leite em novembro. Eles cobraram linhas de crédito diferenciadas, compra de estoques excedentes pelo Governo Federal e criação de um fundo de marketing para sustentar campanhas de incentivo ao consumo do produto. Dez requerimentos com sugestões ou providências ao poder público foram aprovados nessa reunião, entre eles o de convocação do Ministério Público para explicar as providências tomadas a partir do relatório da CPI do Preço do Leite, que funcionou em 2001.

Uma audiência da Comissão de Saúde desencadeou, em 2008, um processo de negociação que resultou no anúncio, pelo governo, da concessão de gratificação de cerca de R$ 1,5 mil para os médicos do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Os médicos pediram o apoio da comissão, que obteve do Executivo a sinalização de que o governo está disposto a dar reajuste salarial diferenciado para esse segmento, tendo em vista o elevado grau de complexidade do hospital.

Já a Comissão de Segurança Pública apresentou ao Executivo, depois de uma maratona de viagens, relatório aprofundado das condições das cadeias que poderá subsidiar ações de governo. O documento aponta superlotação, falta de infra-estrutura e carência de servidores em Coronel Fabriciano, Governador Valadares, Frutal, Muriaé, Leopoldina, Ubá, Cataguases e Patrocínio.

CCJ e Redação - Na análise dos projetos, duas comissões têm papel fundamental: a de Constituição e Justiça, que dá o primeiro parecer e analisa se a proposição é constitucional; e a de Redação, que dá o formato final ao projeto, adequando-o à boa técnica legislativa. Em 2008, a CCJ analisou 316 proposições sujeitas à apreciação do Plenário, com 232 pareceres pela constitucionalidade e 84 pela inconstitucionalidade. Outros 82 projetos sujeitos à deliberação do Plenário foram convertidos em diligência, ou seja, encaminhados ao autor ou ao poder público, para obter informações. Já a Comissão de Redação aprovou 721 pareceres, sendo 188 de proposições sujeitas à apreciação do Plenário e 533 de deliberação conclusiva das comissões.

Reforma tributária e transferência de vôos para Confins provocam ações legislativas

Duas comissões temporárias que tiveram atuação destacada em 2008 concluíram seus trabalhos. Uma delas é a Comissão Especial da Reforma Tributária, que unificou sugestões para o aperfeiçoamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 233/08, do presidente Lula, que traz o texto da reforma tributária da União. O relatório traz propostas para preservar a autonomia dos Estados e municípios para legislar sobre matéria tributária, em especial sobre o ICMS. O texto foi encaminhado ao Colegiado de Presidentes de Assembléias Legislativas e ao Congresso Nacional.

Para a assessora da Superintendência Tributária da Secretaria da Fazenda, Sara Costa Félix Teixeira, o Executivo tem grandes expectativas de que o esforço de Minas seja incorporado à PEC federal. "O relatório não se limitou às críticas, foi extremamente propositivo", afirmou.

Outra que já concluiu seus trabalhos foi a Comissão Especial dos Aeroportos, que apurou a veracidade das informações da imprensa sobre a transferência de vôos nacionais de Confins para a Pampulha. O relatório traz um elenco de restrições técnicas, trabalhistas e ambientais e manifesta firme oposição política contra a pressão das companhias aéreas sobre a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para retornar vôos comerciais para a Pampulha. Cópias serão enviadas ao Governo Federal, chefias da Anac, da Infraero e dos aeroportos.

 

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