Sindicato anuncia paralisação em Itabira contra demissões da
Vale
Com o objetivo de protestar contra as demissões
feitas pela Vale e pelas empresas que prestam serviços para a
mineradora, em virtude da crise econômica mundial, o Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos
(Metabase) anunciou, nesta terça-feira (16/12/08), a realização de
uma paralisação envolvendo toda a população do município de Itabira
no dia 8 de janeiro de 2009. Representantes do sindicato
participaram de audiência pública das Comissões do Trabalho, da
Previdência e da Ação Social e de Assuntos Municipais e
Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais e falaram
que 1.500 trabalhadores já foram demitidos na cidade. Na reunião,
que foi acompanhada por mais de 200 pessoas que lotaram o Plenário
da Câmara Municipal de Itabira, os parlamentares anunciaram que vão
agendar um encontro com o governador do Estado para tentar negociar
uma solução para a crise.
O presidente do Sindicato Metabase, Paulo Soares de
Souza, afirmou que, com a crise econômica, a Vale reduziu em 50% a
sua produção de minério de ferro, de 120 mil para 60 mil toneladas,
sendo que as duas minas de Itabira foram fechadas. Segundo ele, o
plano de ajustes anunciado pela empresa vai demitir 9 mil
trabalhadores da Vale e 25 mil das empresas que prestam serviços a
mineradora. "Ao longo de 11 anos, a Vale lucrou cerca de US$ 80
bilhões e são os trabalhadores que vão pagar pela crise?",
questionou.
Paulo Soares de Souza disse ainda que a empresa
anunciou que possui uma reserva de US$ 15 bilhões para enfrentar a
crise. "Mesmo com todo esse dinheiro é necessário demitir os
trabalhadores? Esse dinheiro poderia garantir o salário de todos os
trabalhadores durante 10 anos", destacou. O presidente do Sindicato
Metabase afirmou ainda que, mesmo com a crise, o lucro estimado da
empresa para esta ano é de US$ 25 bilhões. Ele lembrou que a Vale
nasceu há cerca de 60 anos em Itabira e que a população do
município, através do seu trabalho, é diretamente responsável pela
crescimento da empresa. Paulo Soares ainda cobrou que Governo
Federal se manifeste contra o fechamento das minas e as demissões.
Segundo ele, o Governo Federal possui ações da Vale que lhe dão
direito de veto sobre determinadas decisões da empresa, como o
fechamento de minas.
Dependência - Na audiência
pública, representantes do poder público de Itabira e da sociedade
civil também mostraram preocupação com as demissões. O prefeito do
município, João Izael Querino Coelho, lembrou que atualmente a
economia da cidade é muito dependente da Vale e que as demissões
terão um impacto negativo muito grande. Segundo ele, devido a crise
econômica, a arrecadação do município para o próximo ano terá uma
redução de 20%, o que equivale a cerca de R$ 30 milhões.
Já o presidente da Associação Comercial e
Industrial de Serviços e Agropecuária de Itabira, Reginaldo Calixto
Oliveira, defendeu que o município procure encontrar uma solução
para a situação, através da diversificação de suas atividades
econômicas. "Nós fizemos um levantamento de quais produtos e
serviços são importados pelo município e podemos incentivar o
desenvolvimento dessas atividades", afirmou. O presidente da Câmara
de Dirigentes Lojistas de Itabira, Maurício Henrique Martins, fez um
alerta de que as conseqüências das demissões já começaram a ser
sentidas no comércio. Segundo ele, neste ano, praticamente não foram
feitas contratações temporárias para o Natal, sendo que normalmente
eram contratadas cerca de 3 mil pessoas nesse período.
Sindiextra defende negociação entre empresa e
trabalhadores
O assessor do Sindicato da Indústria Mineral
(Sindiextra), Wilson Starling Júnior, defendeu que a Vale e os
sindicatos procurem negociar uma solução intermediária para as
demissões, que atenda aos dois lados. Ele falou que a situação é
muito séria, especialmente para o setor mineral. Segundo ele, no
mundo inteiro, 25 mil pessoas já foram demitidas no setor.
"Neste momento, ninguém está comprando os produtos
do setor mineral, o que não dá liquidez ao patrimônio das empresas",
afirmou. Wilson Starling disse ainda que é necessário que a Vale
leve em consideração a importância que seu corpo técnico, em
especial, os trabalhadores de Itabira, que tiveram participação na
construção do seu patrimônio, mas é preciso compreender que, diante
da crise, a empresa precisa necessariamente fazer alguns
ajustes.
O autor do requerimento para realização da reunião
e vice-presidente da Comissão de Assuntos Municipais, deputado
Ronaldo Magalhães (PSDB), defendeu que a empresa espere um pouco
antes de realizar as demissões. Ele lembrou que a Vale teve grandes
lucros nos últimos anos, diante do aumento do preço do minério de
ferro e do aumento das exportações, e que, portanto, teria como
suportar a crise durante algum tempo antes de fazer as demissões.
Ronaldo Magalhães afirmou ainda que já entrou em contato com os
diretores da empresa na tentativa de encontrar uma solução. Ele
solicitou ainda ao representante do Sindiextra que leve à Vale a
necessidade de os trabalhadores serem ouvidos.
Reunião com o governador -
O deputado Carlin Moura (PCdoB) também disse que os lucros obtidos
pela Vale nos últimos anos têm como garantir a manutenção dos
empregos dos trabalhadores. Carlin Moura defendeu ainda que seja
marcado em caráter emergencial um encontro entre empresa, sindicato,
parlamentares e governador para encontrar uma solução para as
demissões. O deputado sugeriu ainda a possibilidade de que seja
criada uma Frente Parlamentar em Defesa do Emprego e dos Municípios
Mineradores e condenou a ausência na audiência pública de
representantes da Vale e do Governo do Estado.
A presidente da Comissão do Trabalho, deputada
Rosângela Reis (PV), afirmou que, em reunião realizada pela comissão
no último dia 3 de dezembro, em que foram debatidos os efeitos da
crise econômica em Minas Gerias, já foi aprovado requerimento
solicitando a realização de reunião entre os parlamentares e o
governador para debater o assunto. Rosângela Reis também lamentou a
ausência de representantes da Vale na audiência pública e afirmou
que irá participar da paralisação em Itabira agendada para o dia 8
de janeiro. Já o deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) afirmou que a
crise já está atingindo a economia do Estado e que o trabalhador não
pode pagar sozinho por ela.
Presenças - Deputada
Rosângela Reis (PV), presidente da Comissão do Trabalho; deputados
Ronaldo Magalhães (PSDB), vice-presidente da Comissão de Assuntos
Municipais; Antônio Carlos Arantes (PSC) e Carlin Moura (PcdoB); e,
além dos convidados já citados, o presidente da Câmara Municipal de
Itabira, vereador José Celso de Assis; o vice-prefeito Roberto
Ferreira Chaves; a diretora-presidente da Interassociação dos Amigos
de Bairros de Itabira, Mônica Aparecida Reis Silva; e o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do
município, Cácio Francisco Cota.
|