Deputados pedem a Pimentel que retire projeto de aumento do IPTU

O Projeto de Lei 1.891/08, em tramitação na Câmara Municipal, pretende aumentar o IPTU de Belo Horizonte em até 150% ...

15/12/2008 - 00:01
 

Deputados pedem a Pimentel que retire projeto de aumento do IPTU

O Projeto de Lei 1.891/08, em tramitação na Câmara Municipal, pretende aumentar o IPTU de Belo Horizonte em até 150% através de um Mapa de Valores Genéricos que não foi apresentado nem mesmo aos vereadores. Essa iniciativa, apresentada como forma de corrigir distorções tributárias, foi severamente criticada por deputados e convidados da reunião conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta segunda-feira (15/12/08). Os deputados aprovaram por unanimidade requerimento a ser encaminhado ao prefeito Fernando Pimentel pedindo que o projeto seja retirado de tramitação.

A reunião, realizada a requerimento dos deputados Délio Malheiros (PV) e João Leite (PSDB), atraiu dezenas de representantes comunitários. Malheiros falou em "voracidade" do município, e alertou que o projeto levará a mais de 200 mil processos de execução judicial por dívida. Ele criticou particularmente a oneração tributária dos terrenos vagos, o que provocaria uma favelização da cidade ou a ocupação desnecessária, para que o proprietário não perca seu terreno. Para o parlamentar, o objetivo dessa arrecadação extra seria "inchar a máquina administrativa com novas contratações".

João Leite, por sua vez, disse que o projeto foi preparado pelo Ipead, através de consultorias contratadas com dispensa de licitação. "A terceirização come grande parte do Orçamento da prefeitura", afirmou. "Esse aumento disparatado de IPTU será um indigesto presente de Natal para a população da Capital, que vê os exemplos das cidades vizinhas, como Contagem, que não cobra IPTU, e Nova Lima, onde os valores são baixos". Para o deputado, Pimentel está deixando um rombo que precisa ser preenchido com receita futura.

Essa afirmação é confirmada pelo deputado Gustavo Valadares (DEM), para quem a prefeitura, apesar de arrecadar R$ 6 bilhões por ano, mostra-se em estado de insolvência. Valadares orientou os vereadores do seu partido na Câmara a não votarem o projeto.

Com arrecadação de R$ 6 bilhões, BH é considerada capital falida

Os ataques mais exaltados à iniciativa do prefeito Fernando Pimentel partiram do deputado Sávio Souza Cruz, mas até mesmo André Quintão (PT), da base partidária do prefeito da Capital, endereçou críticas à maneira impositiva como o projeto estaria tramitando e recomendou que o assunto fosse tratado com prudência. Souza Cruz disse que o prefeito "auto-intitulado bom de serviço" está sendo cogitado para ser ministro da crise, e ironizou a escolha do presidente Lula como acertada, "se ele quiser aprofundar a crise". A dívida pública da PBH teria aumentado de R$ 527 milhões para R$ 1 bilhão em apenas um ano, e a cidade estaria na lista das cinco capitais consideradas falidas.

"É difícil tratar desse assunto com seriedade, já que o projeto é um verdadeiro estelionato eleitoral. Foi apresentado à Câmara em 17 de novembro, apenas 20 dias depois da eleição, e querem que a Câmara vote sem conseguir explicá-lo aos próprios vereadores. Sabemos que o preço do metro quadrado de terreno varia de bairro para bairro, mas qual é a influência do padrão de acabamento de um prédio no valor do imposto?", indagou. Por fim, concluiu com uma sugestão: "Só há uma maneira de brecar esse projeto: é apelarmos a um morador do Belvedere, Roberto Sena, a única pessoa capaz de demover o prefeito Pimentel dessa idéia". Roberto Sena seria um mega-empresário com grande poder de influência sobre o prefeito.

André Quintão admitiu que os argumentos contra o projeto são incontestáveis. "O bom senso recomenda que a Câmara não aprove neste ano, nesta forma, sem debates com a população. Não há legitimidade para votá-lo agora, com a atual legislatura em final de mandato. Essa responsabilidade deve caber aos novos vereadores eleitos e aos reeleitos", defendeu o petista. São 17 os novos vereadores que estréiam na Câmara a partir de janeiro. Quintão acrescentou que "adesão não pode ser imposta, e por essa razão os vereadores não têm obrigação de seguir a decisão, e devem antes ouvir o sentimento da população".

Cenário previsto para 2009 é de recessão

Dois outros deputados também exigiram o aprofundamento da discussão, com a participação de tributaristas e das entidades da sociedade civil: foram eles Fábio Avelar (PSC) e Vanderlei Miranda (PMDB). Miranda lembrou que o cenário projetado para 2009 é de recessão, e que o governador Aécio Neves está concedendo adiamento no prazo para o IPVA dos caminhões. Propôs que Pimentel também conceda adiamento para o pagamento do IPTU.

O vereador Fred Costa se refere ao projeto como "famigerado" e relatou seus esforços vãos para suspender a tramitação, por considerá-lo matéria tão polêmica que não pode ser decidida de afogadilho. No entanto, alertou que já passou pela Comissão de Constituição, mesmo sob suspeita de ilegalidade, e também criticou a falta de informações sobre os critérios e sobre as 50 faixas de classificação segundo o acabamento. Fred Costa informou que a cada dia cresce o número de vereadores que já não querem votar o projeto.

Marcelo Marinho Franco, presidente das associações da União de Bairros da Zona Sul, criticou o que ele chama de "síndrome da imposição". Para ele, a pressa em aprovar o projeto é injustificada, já que a vigência do imposto seria a partir de 2010. "Dá tempo para discutir amplamente com a sociedade civil e as entidades de classe. O mapa de valores genéricos jamais nos foi apresentado, mas soubemos que se refere ao valor de mercado dos imóveis. Sabemos muito bem a grande diferença entre valor venal e valor de mercado. As simulações parciais que fizemos mostram que, no Belvedere, haverá aumentos de 50% a 100%. Há previsão também de desvalorização de 40% no preço dos imóveis em 2009", disse Franco.

O economista Eduardo Senra Coutinho, professor da Faculdade Ibmec, disse que o preço dos imóveis em Belo Horizonte subiu artificialmente por causa da proliferação do crédito, e não pelo aumento de renda do mutuário, e sustentou que o IPTU nos últimos anos cresceu 10% acima da renda média do trabalhador. Ele também alertou contra o preço inflado dos imóveis, que deverão cair de preço no próximo ano, com o risco do imposto continuar superfaturado.

Apartamento de 3 quartos no Belvedere pagaria R$ 6 mil

Ubirajara Pires Glória, presidente da Associação dos Moradores do Belvedere, leu vários estudos simulados em bairros nobres, como o seu, a Cidade Jardim e o Santo Antônio, onde os aumentos serão altos, e bairros da classe média, como Santa Efigênia e Planalto, onde serão mais moderados, para demonstrar que as classes serão penalizadas pelo bairro, e não pelo tipo de imóvel. Informou que o mesmo prédio, se construído no Belvedere, será classificado como P5. Se construído na Cidade Nova, seria P3.

Pires Glória argumentou que, em 1999, um apartamento de 2 quartos no Belvedere custava R$ 90 mil, e que hoje esses moradores, que ainda estão pagando seus financiamentos, seriam considerados milionários pela prefeitura. "Um apartamento de 3 quartos vai pagar R$ 6 mil. Isso não é IPTU, é aluguel. O projeto é distorcido. Se fosse apresentado antes da eleição, Lacerda seria derrotado", desabafou.

Requerimentos - Além do requerimento assinado por todos os deputados, pedindo ao prefeito Pimentel que retire o PL 1.891/08 de tramitação, foi aprovado outro, de iniciativa do deputado Sávio Souza Cruz, solicitando informações sobre o pagamento de IPTU do BH Shopping após cada uma de suas cinco fases de expansão. Souza Cruz pediu também que seja enviada cópia desse requerimento ao empresário Roberto Sena.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), que presidiu a reunião; André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular; Gustavo Valadares (DEM), Eros Biondini (PHS), João Leite (PSDB), Sávio Souza Cruz (PMDB), Fábio Avelar (PSC) e Vanderlei Miranda (PMDB).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715