Mudança de regra para transporte de trabalhador rural divide
opiniões
O debate sobre as condições do transporte dos
trabalhadores rurais do Estado trouxe à tona consensos e
divergências das entidades representativas do segmento. Se todos são
unânimes quanto ao direito dos trabalhadores ao transporte digno, as
condições para que isso ocorra dividem opiniões. O assunto foi
tratado pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (4/12/08),
a requerimento dos deputados Vanderlei Jangrossi (PP), Chico Uejo
(PSB), Padre João (PT) e Antônio Carlos Arantes (PSC). O objetivo
era debater a Resolução 52 da Secretaria de Estado de Transportes e
Obras Públicas (Setop), de setembro de 2008, que traz novas
exigências para a realização do transporte pelo empregador.
De acordo com o deputado Chico Uejo, 9.179 licenças
para transporte de trabalhadores rurais foram emitidas em 2008,
sendo que 57,8% dos veículos necessitariam de adaptações para
atender à Resolução 52. Essa norma determinou que o transporte só
poderá ser feito por meio de ônibus ou microônibus, com idade máxima
de 25 anos de fabricação, ficando proibido o transporte por
caminhão, ainda que adaptado. Os proprietários de veículos de até 15
anos deverão atestar a manutenção e conservação dos veículos. Já os
veículos de 15 a 25 anos terão que passar por inspeção semestral do
Inmetro. A Resolução 52 foi modificada pela 57, que prorrogou para
31 de dezembro deste ano o prazo para as adaptações.
Para o deputado Antônio Carlos Arantes, as
condições das estradas também precisam ser consideradas. "Em época
de chuva, nem ônibus novo passa na estrada", argumentou. Ele também
questionou a falta de fiscalização adequada dos veículos usados para
esse tipo de transporte. O diretor de Transporte Intermunicipal da
Setop, Lindemberg Ribeiro Garcia, disse que a Resolução 52 vem sendo
estudada há mais de três anos pelo Departamento de Estradas de
Rodagem (DER-MG) e há mais de um ano pela secretaria. Segundo ele, a
norma veio para atender antigas reivindicações dos trabalhadores.
MP diz que fiscalização ainda é precária
O procurador-chefe substituto do Ministério Público
do Trabalho, Antônio Carlos de Oliveira Pereira, defendeu a urgente
aplicação da resolução e também afirmou que a fiscalização do
transporte rural ainda é precária. O procurador ressaltou que os
acidentes com os trabalhadores repercutem no SUS e na Previdência,
por exemplo, e afirmou que a legislação em vigor determina que
empregadores devem arcar com os riscos do transporte dos
empregados.
O diretor de Fiscalização do DER-MG, Paulo Diniz,
garantiu que não falta fiscalização por parte do órgão, faltam
normas para coibir as irregularidades. "Não há uma norma que proíba
o licenciamento de veículos com mais de 30 anos, por exemplo. É
feita apenas a vistoria", explicou. A diretora de Assalariado da
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais
(Fetaemg), Aparecida da Penha do Lago Vieira, disse que os
trabalhadores estão ansiosos para que a resolução seja efetivada o
quanto antes e seja acompanhada com fiscalização, a partir de normas
claras.
A demora na solução do problema foi ressaltada pelo
secretário de políticas sociais da Federação dos Trabalhadores da
Agricultura Familiar (Fetraf-MG), Celso Antônio Moraes. "Há 22 anos,
em Santa Bárbara, houve uma greve dos trabalhadores rurais por
melhores condições de transporte", afirmou. Ele também reclamou que
falta fiscalização do transporte pelo DER-MG e acrescentou que o
trabalhador, na hora que precisa do emprego, não calcula os riscos
do transporte precário.
Produtores pedem mudanças na resolução da
Setop
"Não adianta baixar normas que o produtor não tem
condições de cumprir", afirmou o assessor jurídico da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Francisco
Maurício Barbosa Simões. Ele argumentou que os órgãos deveriam ouvir
todos os segmentos envolvidos para a edição de uma norma viável. "O
empregador não se opõe a qualquer melhoria para o trabalhador, mas
está vivendo um momento de crise mundial e do setor agrícola",
justificou.
Segundo ele, os produtores safristas estão passando
por um momento de dificuldade e nenhuma linha de crédito foi
oferecida para que pudessem se adequar à nova legislação. Ele também
criticou a vedação de que o transporte seja feito em veículo
particular. Outros pontos de questionamento da Resolução 52 pela
Faemg foram a determinação de que o transporte de trabalhadores
tenha um itinerário fixo e que veículo tenha no máximo 25 anos. Além
disso, Francisco Simões questionou o prazo curto para que os
empregadores se adaptem às novidades da norma.
A fala de assessor da Faemg teve apoio de vários
produtores que acompanhavam a reunião. Na fase de debates, eles
pediram a revisão da resolução, a prorrogação do prazo para
adaptação dos veículos e, ainda, que as normas fossem pensadas a
partir da realidade do campo. Para o transportador rural José
Oswaldir Honório, é preciso analisar as condições do veículo, e não
a sua idade. "A proibição do tráfego de veículos com mais de 25 anos
é como retirar nossas ferramentas de trabalho", argumentou. Ele
explicou que, se for impedido de fazer o transporte dos
trabalhadores, ficará sem condições de continuar pagando o
financiamento do seu veículo.
Fetaemg afirma que resolução foi amplamente
debatida
Ainda na fase de debates, Rômulo Campos, da
Fetaemg, disse que as entidades que representavam os trabalhadores
na audiência eram a Fetaemg e a Fetraf, e que os demais deveriam
falar pelo setor produtivo. Ele disse concordar que as normas não
devem ser feitas de forma abrupta e sem que partes envolvidas sejam
ouvidas, mas ponderou que não foi isso que aconteceu com a Resolução
52. "Há três anos a norma está sendo discutida, inclusive com
representantes da Faemg e de outras entidades do setor produtivo",
continuou. Segundo ele, os sindicatos estão mobilizados para apoiar
a resolução.
Rômulo Campos informou que a Fetaemg vai requerer
junto ao Ministério Público a notificação preventiva dos
empregadores que estão fazendo o transporte de trabalhadores de
forma precária e dos órgãos de governo a esse mesmo respeito. "Se
ocorrerem acidentes, vamos pedir indenizações por danos", afirmou.
Ele disse ainda que, se o DER-MG está concedendo licença para
veículo precário, a responsabilidade é do órgão. Rômulo Campos
sugeriu que fosse criada uma comissão para negociar com os governos
Federal e Estadual a isenção de impostos sobre os veículos de
transporte de trabalhadores e a criação de linhas de financiamento
para o setor.
O diretor da Setop, Lindemberg Garcia, disse ao
final da reunião que irá levar as reivindicações ao secretário, mas
observou que algumas preocupações não procedem. Segundo ele, na
resolução não consta nada sobre itinerário fixo, por exemplo. O
diretor também explicou que a declaração de responsabilidade do
veículo é para aqueles veículos com até 15 anos e tem o objetivo de
evitar vistorias do Inmetro, aplicadas aos veículos com mais de 15
anos; e que a regra de transportar trabalhadores em ônibus não
inviabiliza o serviço, pois pode-se optar pelo fretamento, tendo em
vista que muitas vezes a necessidade do trabalhador nas fazendas é
sazonal, por conta da safra. Há 7.045 ônibus e microônibus
cadastrados no DER-MG. Sobre a condição de o veículo ser de aluguel
ou particular, disse que o setor jurídico da Setop está analisando
esse aspecto.
Suspensão - A suspensão
temporária da resolução foi solicitada pelo deputado Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB) até que se chegue a um consenso sobre a norma. Ele
acredita que todos querem cumprir a lei e afirmou que muitos
produtores do Sul de Minas já estão procurando se adaptar às novas
exigências. O deputado Antônio Carlos Arantes disse ter saído mais
preocupado da reunião. "Não vejo outra solução: temos que investir
em rodovias e dar renda na mão do produtor; mesmo querendo, ele não
vai conseguir cumprir a lei".
Opinião semelhante teve o deputado Chico Uejo.
"Precisamos avançar, buscando o horizonte do transporte com
segurança, mas com viabilidade", afirmou. Ele cobrou uma saída
possível e real, a fim de que o produtor rural não fique na
marginalidade, como ocorre com relação à legislação ambiental. Ele
defendeu um prazo maior de adaptação e subsídios e crédito para
aquisição de veículos.
O deputado Vanderlei Jangrossi teve uma posição
mais otimista, dizendo que a discussão, quando provocada, surte
efeitos. Segundo ele, foi isso o que ocorreu com a reunião que
discutiu o preço do leite. Ele citou como desdobramento do debate a
entrega de reivindicações dos produtores ao presidente Lula pelo
governador Aécio Neves. "Precisamos cumprir a resolução. Mas de que
maneira? Essa é a grande questão", indagou, ponderando que muitos
veículos têm boa conservação, independentemente da idade.
Quatro requerimentos resumem as reivindicações dos
produtores
Quatro requerimentos foram aprovados pela comissão.
Do deputado Deiró Marra (PR), pedindo ao secretário de Estado de
Transportes e Obras Públicas a prorrogação do prazo para os
produtores rurais se adaptarem às Resoluções 52 e 57 em um ano. Os
outros três requerimentos são de autoria dos deputados Vanderlei
Jangrossi, Antônio Carlos Arantes e Chico Uejo. Eles pedem o envio
de ofício ao secretário de Transportes solicitando a revisão da
Resolução 52 de forma a possibilitar que o transporte de
trabalhadores rurais possa ser feito por meio de veículo próprio do
produtor ou transportador, e não obrigatoriamente por veículo de
aluguel.
Outro requerimento solicita o envio de notas
taquigráficas da reunião para a Setop. O último solicita
providências ao governador para a viabilização de financiamentos de
veículos para transportadores licenciados - transporte
intermunicipal de trabalhadores rurais - junto a agentes
financeiros, tendo como base a necessidade de substituição da frota
conforme exigências da Resolução 52.
Presenças - Deputados
Vanderlei Jangrossi (PP), presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC),
Chico Uejo (PSB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Antônio Júlio (PMDB).
Também participaram da reunião o superintendente de Economia
Agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, João Ricardo Albanez; e o diretor-geral do Instituto
de Pesos e Medidas (Ipem), Tadeu José de Mendonça.
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