Deputados defendem estímulo ao mercado interno para sair da crise

A solução para vencer a crise financeira que já se abate no Brasil é investir no mercado interno, reduzindo os juros ...

03/12/2008 - 00:03
 

Deputados defendem estímulo ao mercado interno para sair da crise

A solução para vencer a crise financeira que já se abate no Brasil é investir no mercado interno, reduzindo os juros para estimular o consumo. Este foi o consenso entre os participantes da audiência pública realizada na tarde desta quarta-feira (3/12/08) pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa de Minas Gerais para discutir os impactos desse problema mundial na economia mineira. Além de deputados, participaram da reunião representantes de empresários, trabalhadores e o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Raphael Guimarães Andrade.

Também houve unanimidade no reconhecimento de que ainda não há possibilidade de calcular a dimensão da crise e de que é preciso reagir rapidamente para evitar danos piores na economia brasileira e no Estado. Na avaliação do secretário, essa crise é diferente porque não é de demanda e, sim, de credibilidade, que gera uma retração no mercado. Ele acredita que com a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a confiança pode ser retomada. "Talvez 2009 não seja tão ruim assim", espera ele.

Em Minas, o setor mais atingido é o de produção de ferro-gusa, que não conseguiu fechar nenhum contrato para os três primeiros meses de 2009, de acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro (Sindifer), Paulino Cícero. A prática dessas indústrias é fazer vendas para entregas com prazo de 90 dias. Isso significa que desde outubro não foi realizada nenhuma venda pelas siderúrgicas mineiras.

Paulino Cícero afirmou que 78% dos 108 altos-fornos instalados em Minas estão desligados. Os demais que ainda estão funcionando são responsáveis por 35% da produção total. Ele lamentou que o setor viveu um crescimento exorbitante até agosto, quando o problema começou. De dezembro de 2007 até julho deste ano, o preço do ferro-gusa subiu de US$ 400 para US$ 900 a tonelada. Com a interrupção dos pedidos, não há mais referência de preço para o produto. Na opinião do empresário, o problema é conseqüência da crise sobre crédito. "Há carência de recursos para financiar o ferro-gusa", explicou.

Como a maioria das siderúrgicas estão localizadas em Sete Lagoas (Região Central do Estado), o município é o que mais está sendo ameaçado. Segundo o presidente do sindicato dos trabalhadores no setor, Ernane Geraldo Dias, já foram demitidos 2,5 mil empregados das indústrias e três siderúrgicas já avisaram que vão paralisar as atividades a partir do dia 15 de dezembro. "A cidade está parada. E não sabemos o que pode ocorrer daqui para frente", lamentou o sindicalista.

Reflexos negativos - A crise no setor guseiro atinge também outros segmentos. O deputado Délio Malheiros (PV), que também participou da audiência, denunciou que 3.750 caminhões que transportam carvão para alimentar os altos-fornos estão parados no Vale do Jequitinhonha. Os caminhoneiros, segundo o parlamentar, acreditaram no aquecimento do mercado e financiaram os veículos. Agora, muitos deles estão vendendo suas casas para pagar as dívidas. "É preciso sensibilizar a sociedade e pedir aos credores que tenham paciência, pois a inadimplência deve aumentar muito", sugeriu Malheiros.

Outro setor que já sente os reflexos da crise é da agropecuária. O assessor técnico da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Pierre Santos Vilela, disse que muitos produtores fizeram investimentos, otimistas com o aquecimento da demanda mundial por alimentos. Com a alta do petróleo, compraram insumos a preços altos e, agora, vivem a expectativa da queda na renda com a retração das compras pelos países desenvolvidos. "Para muitos, os ganhos não estão cobrindo os investimentos", reclamou.

Segundo Vilela, os reflexos deverão ser sentidos na safra de 2010, em função da suspensão dos investimentos dos produtores. Ele sugere que o governo garanta uma renda mínima para os agricultores para evitar a redução no plantio.

Deputados criticam inércia do Governo Federal

A crítica ao Governo Federal foi a tônica dos pronunciamentos de praticamente todos os deputados que participaram da reunião: Antônio Carlos Arantes (PSC), Braulio Braz (PTB), Domingos Sávio (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Neider Moreira (PPS). Na opinião dos parlamentares, o presidente Luís Inácio Lula da Silva demorou muito a reconhecer a crise e, por isso, não se preparou para ela.

Eles também reclamaram que o governo ainda não tomou as principais providências para contornar o problema, que seriam a redução dos juros e o corte nos gastos públicos. Ao contrário, como lembrou Antônio Carlos Arantes, o Executivo federal apresentou projeto de lei ao Congresso para elevar os salários dos funcionários públicos. "A fobia de controlar a inflação não deixou que o mercado crescesse o que poderia", completou Braulio Braz.

Cético, Neider Moreira prevê que o Brasil "mais uma vez na história vai ficar para trás na retomada do crescimento, por falta de um projeto sério". Domingos Sávio sugeriu que o governador Aécio Neves seja o interlocutor dos mineiros junto ao Governo Federal para pedir uma solução especialmente para o setor do ferro-gusa. Dalmo Ribeiro Silva encaminhou à Mesa da Assembléia requerimento para criar uma comissão especial para apurar mais profundamente a crise e apresentar soluções.

Para a presidente da comissão, deputada Rosângela Reis (PV), é preciso unir esforços de todos os setores da sociedade para se encontrar uma solução para sair da crise. "Há trabalhadores desempregados que não podem esperar nenhum dia, pois têm família para sustentar", disse.

Os deputados aprovaram requerimento para agendar uma visita da comissão ao governador, para discutir os impactos da crise na economia estadual e buscar soluções para minimizar os efeitos da recessão.

Aprovado parecer de projeto que obriga rodoviárias a ter cadeiras de rodas

Após a suspensão da reunião devido ao fim audiência pública que discutiu os impactos da crise, a Comissão retomou os trabalhos para analisar proposições. Foram aprovados pareceres de 1º turno a dois projetos de lei (PLs), dois requerimentos (além de um lido durante a audiência pública) e ainda nove proposições que dispensam a apreciação do Plenário.

Recebeu parecer favorável o PL 2.557/08, da deputada Gláucia Brandão (PPS), que obriga terminais rodoviários a manter no mínimo uma cadeira de rodas para pessoas com deficiência ou que necessitem ocasionalmente desse equipamento. Na ausência do relator, a presidente da comissão, deputada Rosângela Reis, redistribuiu o projeto para o deputado Dalmo Ribeiro Silva, que opinou pela aprovação do projeto com a emenda n° 1, da Comissão de Constituição e Justiça. A emenda altera o artigo n° 2 da proposição e estabelece que as cadeiras de rodas, além de terem uso gratuito, deverão estar em conformidade com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

A proposição prevê que o número de cadeiras de rodas deverá ser proporcional à média de circulação diária de pessoas nas estações de acordo com o seguinte critério: uma cadeira para uma média de circulação de até mil pessoas por dia; três cadeiras se essa média for entre mil e 3 mil pessoas; cinco cadeiras, com média entre 3 mil e 5 mil; oito cadeiras, para média entre 5 mil e 8 mil; e dez cadeiras, se a média for acima de 8 mil pessoas por dia. O PL 2.557/08 também determina que cabe à administração do terminal rodoviário afixar placas ou cartazes em locais visíveis, indicando a disponibilidade do equipamento e o local onde o usuário poderá solicitá-lo.

Acompanhante - Foi também aprovado o parecer favorável ao PL 2.690/08, da deputada Ana Maria Resende (PSDB), que obriga unidades de saúde a afixarem, em local visível, aviso com um direito do idoso. O aviso terá o seguintes termos: "Ao idoso internado ou em observação, é assegurado o direito a acompanhante em condições adequadas para sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico".

O relator original, deputado Walter Tosta (PMN), não estava presente e o projeto foi então redistribuído ao deputado Antônio Carlos Arantes. Ele opinou pela aprovação da proposição na forma do substitutivo nº 1, da CCJ, que prevê que o comando do projeto passa a integrar a Lei 12.666, de 1997, que dispõe sobre a política estadual de amparo ao idoso.

Convidados - Também na reunião, foram aprovados dois requerimentos de reuniões com convidados. O primeiro, de autoria do deputado Ronaldo Magalhães (PSDB), requer audiência pública conjunta com a Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização em Itabira (Região Central do Estado). O objetivo é discutir demissões realizadas pela empresa Vale e por empresas prestadoras de serviço à mineradora.

O segundo requerimento, da deputada Rosângela Reis, solicita que parte da reunião da comissão do dia 17 de dezembro seja utilizada para ouvir Antônio Eduardo de Noronha Amábile. Ele é o presidente do Conselho Estadual do Trabalho, Emprego, Geração de Renda e trará dados do trabalho e ações desenvolvidas pela entidade.

Presenças - Deputada Rosângela Reis (PV), presidente da comissão; deputados Délio Malheiros (PV), Antônio Carlos Arantes (PSC), Braulio Braz (PTB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Domingos Sávio (PSDB), Neider Moreira (PPS) e Ronaldo Magalhães (PSDB).

 

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