Deputados querem resolver problema de inundações em Ibirité

Uma obra inútil para o tratamento de esgotos, construída em Ibirité com recursos de R$ 7 milhões doados pela Petrobra...

03/12/2008 - 00:01
 

Deputados querem resolver problema de inundações em Ibirité

Uma obra inútil para o tratamento de esgotos, construída em Ibirité com recursos de R$ 7 milhões doados pela Petrobras, estaria represando as águas de chuva e fazendo com que elas refluam sobre as casas dos moradores dos bairros Jardim das Oliveiras e Jardim das Rosas, onde vivem 4 mil pessoas. Esse problema foi discutido em audiência pública pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa na tarde desta terça-feira (3/12/08). Segundo o autor do requerimento, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), esse problema "é uma novela dura, cruel e injusta que se arrasta há dez anos, e um desrespeito contra a população de Ibirité, especialmente a mais carente".

O deputado relatou que a Lagoa da Petrobras, em Ibirité, é imprescindível para o funcionamento da Refinaria Gabriel Passos (Regap), e nela são despejados materiais tóxicos letais pela empresa através do Córrego Pintado, além dos esgotos da cidade. A estação de tratamento de águas fluviais (Etaf), mal planejada, foi construída a montante do lago, numa várzea de dispersão das cheias. Além de sua inutilidade, o aterro da obra e o barramento de 1,5m de altura teriam sido suficientes para provocar o refluxo que invade as casas.

Quatro autoridades da prefeitura de Ibirité relataram o drama das famílias e se queixaram do descaso da Petrobras, que estaria evitando dialogar positivamente com a municipalidade em busca de uma solução. O gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Regap, Fábio Santos Dutra, relatou que o convênio entre a empresa, a prefeitura e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) previa responsabilidades distintas: o Igam cuidaria da construção, a prefeitura assumiria a operação e à Petrobras coube apenas pagar os custos.

Custos de operação seriam proibitivos para prefeitura

A procuradora-geral Ângela Gonçalves disse que a prefeitura foi enganada quanto aos custos de operação, que seriam de R$ 60 mil mensais, quantia que poderia ser bancada pelos cofres públicos. "Mas o custo passaria de R$ 200 mil, o que é inviável para um município pobre como o nosso. A Copasa se recusou a assumir a operação da Etaf, não só pelos custos, mas também por considerá-la inútil", disse a procuradora.

A estação de tratamento de águas fluviais começou a ser construída em março de 2002 e ficou pronta no final de 2004, mas jamais funcionou. A decisão de construí-la veio após uma forte ocorrência, em 1998, de cianobactérias que liberavam toxinas e inviabilizavam o uso da Lagoa da Petrobras para lazer. Após o fracasso do projeto, a prefeitura teria realizado várias reuniões com Igam, Petrobras, Ministério Público, Copasa e comunidade, também sem resultado: "Não conseguimos chegar a bom termo porque todos procuravam culpados, e não uma solução", disse Ângela Gonçalves.

A diretora-geral do Igam, Cleide Pedrosa de Melo, explicou que a opção por aquele tipo de projeto se baseou na experiência bem-sucedida de Belo Horizonte com os córregos da Ressaca e Sarandi, que poluíam a Lagoa da Pampulha. A procura de culpados e sua responsabilização é dever do Ministério Público, segundo o promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira. "Há um inquérito civil em Ibirité, e vou solicitar a meus superiores que me permitam atuar nesse caso junto ao colega da cidade. É inadmissível que os danos ambientais e sociais continuem".

Segundo Ronaldo Matias, da Copasa, a empresa precisa investir de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões para implantar todo o sistema de saneamento de Ibirité, fazendo as redes de coleta, estações elevatórias e o tratamento abaixo da lagoa. "A estação construída não funciona para tratamento de esgotos, e tem um custo operacional muito elevado", disse ele. A conclusão do projeto está prevista para 2014, o que foi questionado pelo ambientalista Mauro da Costa Val, secretário-geral do Cibapar. "Até 2014 a lagoa da Petrobras, que é a Copacabana do povo de Ibirité, já estará morta", previu.

Relatório da UFMG comprovaria poluição pela Petrobras

Moradores dos bairros Jardim das Oliveiras e Jardim das Rosas relataram seus problemas com o refluxo das águas da chuva, que chega a invadir as casas até a altura das portas, e também denunciaram que o próprio esgoto da Copasa reflui para dentro das moradias. Foram ao microfone de aparte Carlos Renato Celestino, Sileir José Leite, José Osmar Gomes, João Albino de Souza e José Fonseca Neto.

A cada relato, o deputado Dinis Pinheiro ia ficando mais exaltado contra "a indiferença e a desumanidade" da Petrobras. Pinheiro leu um relatório da UFMG segundo o qual fica provado que a estatal polui o Córrego Pintado com nitrato, nitrito e materiais condutores que são subproduto do refino do petróleo. Manifestou sua estranheza contra o fato de o Igam e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que receberam esse relatório, jamais tenham aplicado penalidade alguma à empresa. As autoridades ambientais presentes se comprometeram a pesquisar e enviar à Comissão cópias dos autos de infração que possivelmente tenham sido lavrados contra a Petrobras.

Presenças - Deputados Weliton Prado (PT), presidente; e Dinis Pinheiro, 1º-secretário da Assembléia. Também participaram da reunião Gastão Vilela, vice-presidente da Feam; André Gustavo Diniz, secretário de Meio Ambiente de Ibirité; César Prado, diretor da Secretaria Municipal de Obras de Ibirité; Éver Melo, superintendente de Educação de Ibirité; Eduardo Moisés Santana dos Santos, da Refinaria Gabriel Passos; e Rodrigo Viana Lima, da Copasa.

 

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