Polêmica marca votação sobre destino do mercado de Santa Tereza

A revitalização do Mercado Distrital de Santa Tereza não deverá ser decidida pelo voto virtual dos belo-horizontinos....

02/12/2008 - 00:01
 

Polêmica marca votação sobre destino do mercado de Santa Tereza

A revitalização do Mercado Distrital de Santa Tereza não deverá ser decidida pelo voto virtual dos belo-horizontinos. Em reunião da Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta terça-feira (2/12/08), deputados e representantes do Ministério Público (MP) e dos proponentes que disputam a gestão do mercado concluíram que o processo de votação eletrônica é falho e não pode servir de parâmetro para um contrato definitivo entre a Prefeitura de Belo Horizonte e os autores da proposta vencedora. Deverá ser realizado um novo encontro entre os gestores dos projetos e o MP, com a participação da Assembléia, para se buscar uma conformação jurídica que viabilize legalmente a revitalização do espaço. Os entendimentos deverão ser feitos com o prefeito eleito Márcio Lacerda.

A audiência foi solicitada pelo deputado Délio Malheiros (PV), após denúncias de irregularidade nas votações. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Gláucia Maria da Cunha, que não conseguiu votar porque seu título de eleitor havia sido usado por outra pessoa. O mesmo ocorreu com outros participantes da reunião. No início do encontro, o promotor de Justiça Leonardo Duque Barbabela chegou a anunciar que o MP ajuizaria uma ação civil pública para invalidar a eleição virtual. Segundo ele, há terminais de computador de onde já foram feitas mais de 300 votações. "É importante saber se o processo é só para orientação ou se é para determinar a soberania popular. Se for para determinar, está viciado", afirmou.

O promotor citou que a Prodabel (empresa da Prefeitura de Belo Horizonte) recebeu a listagem de todos os eleitores da Capital para alimentar o sistema de votação, o que implicaria o risco de vazamento da lista. Ainda segundo ele, a prefeitura teria se recusado a aceitar um termo de ajuste de conduta para identificar os eleitores. A PBH não mandou representantes à audiência. Um novo encontro sobre o assunto está agendado para esta quarta-feira (3), às 13h30, na Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Deputados questionam processo de votação

Os deputados presentes à audiência citaram a luta popular contra a decisão da prefeitura de instalar a sede da guarda municipal no Mercado de Santa Tereza. Eles defenderam a participação da população na escolha do destino que será dado ao local, mas questionaram a validade de um processo de votação tão sujeito a falhas. O deputado Délio Malheiros salientou que a prefeitura não pode conceder um equipamento público à iniciativa privada a partir de um sistema eletrônico vulnerável. Segundo ele, isso abriria brechas para questionamentos judiciais posteriores.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) sugeriu diálogo entre os projetos e opinou que o procedimento de escolha deveria ser mudado, em respeito à comunidade e ao importante patrimônio cultural da cidade. E o deputado André Quintão (PT) abordou a grande conquista da cidade ao poder participar do processo, mas também defendeu cuidados técnicos para legitimar a escolha. Já o deputado João Leite (PSDB) disse esperar um desfecho em favor de Belo Horizonte. O deputado Fábio Avelar (PSC) completou pedindo uma solução que não prorrogue a decisão, mas que garanta a lisura do processo.

Os proponentes que disputam a eleição para gerir o mercado de Santa Tereza lamentaram o desfecho que se anuncia para o processo de escolha do projeto vencedor. Ibiraci José do Carmo, presidente da Associação Comunitária de Santa Tereza e defensor do projeto "Mercado Mineiro", afirmou que o Ministério Público deveria ter buscado uma solução antes, durante as investigações sobre a votação do Orçamento Participativo (OP) Digital. Segundo ele, os proponentes já haviam registrado a insatisfação com a escolha virtual desde a abertura das propostas, mas esperavam uma solução administrativa.

Também Tarcísio de Campos Ribeiro Júnior, defensor do projeto "Centro de Artes, Cultura e Tecnologias Socioambientais", queixou-se da exposição sofrida por artistas e gestores culturais que estão à frente das propostas. "Ninguém se manifestou antes. Estamos a três dias do encerramento das votações", reclamou. Segundo ele, o OP Digital foi usado como bandeira de todos os candidatos à prefeitura e, por essa razão, foi entendido pelos gestores como um processo lícito. Os deputados Délio Malheiros e André Quintão esclareceram que a reunião foi marcada para agora em função da agenda da ALMG e da Comissão de Participação Popular, que atualmente analisa dezenas de propostas ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG).

Já Francisco Paula Pelúcio, defensor do projeto "Mercado Cultural", deixou claro que os proponentes entraram no processo de escolha sabendo "as regras do jogo". "Sabemos das brechas, mas apostamos em um mecanismo valioso para a cidade, em uma campanha lícita", afirmou. Ele disse ainda que a PBH autorizou os proponentes a votarem por terceiros, desde que houvesse a autorização formal de eleitores, por meio de lista com assinatura e número de título de eleitor. Esse mecanismo garantiria a participação mesmo de eleitores sem acesso a computadores.

Propostas enfatizam arte e cultura

As três propostas de revitalização do mercado de Santa Tereza também foram apresentadas durante a reunião. Conforme o site da PBH, a proposta vencedora será conhecida nesta sexta-feira (5), como parte das comemorações dos 111 anos da Capital, e receberá prêmio de R$ 30 mil. Os projetos habilitados são "Mercado Cultural de Santa Tereza", elaborado pela Associação Galpão, Galpão Cine Horto, Grupo Giramundo, Galápagos e Agentz; "Mercado Mineiro de Santa Tereza", da Associação Comunitária do bairro; e "Mercado de Santa Tereza - Centro de Artes, Cultura e Tecnologias Socioambientais", projetado pelo Mundo Mico, Tambor Mineiro, Lume Ambiental e Instituto de Ensino Tecnológico.

Durante os debates, diversos moradores de Belo Horizonte, incluindo ex-permissionários do mercado, pediram uma solução que garanta a revitalização do espaço e chegaram a sugerir a união dos proponentes. Eles se dividiram entre a continuidade e a paralisação da escolha virtual. Para Arlan Vinícius, a maior falha do processo de votação foi a exclusão de moradores sem acesso a computadores. "Mais de 20 mil pessoas já votaram e merecem respeito", afirmou. Já a dona de casa Alessandra Belo questionou a votação. "Como falar em ética e cidadania com uma eleição fraudulenta?", questionou. Não faltaram críticas à prefeitura, acusada de abrir mão de seu papel institucional e se omitir diante do problema.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente da comissão; Carlin Moura (PCdoB), João Leite (PSDB), Délio Malheiros (PV), Fábio Avelar (PSC) e Weliton Prado (PT). O músico Tizumba também participou da audiência.

 

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