Governo defende reserva particular na Serra da Calçada

Representantes do Governo do Estado preferem estabelecer uma parceria com a iniciativa privada para preservação da Se...

18/11/2008 - 00:02
 

Governo defende reserva particular na Serra da Calçada

Representantes do Governo do Estado preferem estabelecer uma parceria com a iniciativa privada para preservação da Serra da Calçada, por meio da criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), a transformar a área em parte de um parque estadual. Essa posição foi defendida pelo subsecretário de Estado de Gestão Ambiental, Ilmar Bastos Santos, em audiência pública realizada nesta terça-feira (18/11/08) pela Comissão Especial das Serras da Calçada e da Moeda, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

A audiência desta terça teve o objetivo de recolher depoimentos do governo, Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra), Ministério Público, entidades ambientais, condomínios e moradores da região sobre três propostas apresentadas na Assembléia a respeito de áreas de interesse ambiental nas Serras da Moeda, Calçada e Rola-Moça. Uma delas é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 16/07, do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que está tramitando em 2º turno. A PEC pretende incluir a Serra da Moeda entre as áreas tombadas do Estado.

O Projeto de Lei (PL) 124/07, do deputado Ivair Nogueira (PMDB), aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça. O projeto propõe reduzir em 6,5% a área do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, com o objetivo de regularizar áreas ocupadas por mineradoras e um empreendimento imobiliário. O parque abrange os municípios de Belo Horizonte, Brumadinho, Ibirité e Nova Lima, atingindo uma área de 3.688,63 hectares.

Já o Projeto de Lei 1.304/07, do deputado Délio Malheiros (PV), que foi anexado ao PL anterior, pretende integrar a Serra da Calçada ao Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Quase toda a serra pertence à mineradora Vale, que começou a fazer prospecções para lavrar minério de ferro. O trabalho foi embargado pela Justiça e a maior parte da Serra da Calçada foi tombada provisoriamente pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

O PL 1.304/07 foi o que levou o subsecretário de Estado a defender a implantação de uma RPPN. De acordo com Ilmar Santos, a Serra da Calçada, localizada 20 km ao sul de Belo Horizonte, na Região Metropolitana, é muito cara, dificultando a desapropriação, necessária para incorporação ao Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Por outro lado, ele argumentou que a própria empresa proprietária, a Vale, já manifestou interesse em criar uma RPPN, de forma que fosse implantado um plano de manejo conjunto dos setores privado e público. Santos considera que o recurso necessário para desapropriar essa área seria melhor usado para adquirir outras áreas de interesse natural, mais baratas e onde não há possibilidade de parceria com a iniciativa privada.

Sobre a idéia de criação de uma RPPN, a presidente da Associação para Recuperação e Conservação Ambiental em Defesa da Serra da Calçada (Arca-Amaserra), Jeanine Baraillon, disse que adoraria a proposta se ela incluísse toda a área da Serra da Calçada. Ela mostrou temer, no entanto, que isso não aconteça.

Tombamento da Serra da Moeda respeitaria empreendimentos

A idéia de tombamento da Serra da Moeda foi elogiada tanto pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente quanto pelo Ministério Público e entidades ambientais, na audiência desta terça-feira. Todos advertiram que esse tombamento não inviabilizaria atividades econômicas na região, que se estende por aproximadamente 70 km, do sul de Belo Horizonte até o município de Belo Vale. Isso porque os empreendimentos legalizados, que têm licença ambiental, serão respeitados.

A idéia de tombamento, no entanto, enfrentou outras considerações e ressalvas de representantes do Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra) e da Vice-Governadoria do Estado. O consultor jurídico do Sindiextra, Marcelo Souza, advertiu sobre o grande tamanho da área envolvida; a necessidade de definir melhor a área abrangida pelo tombamento; a necessidade de garantir segurança jurídica para os empreendimentos atuais e futuros; e para a importância econômica da região para a mineração.

O assessor empresarial da Vice-Governadoria do Estado, Adriano Magalhães Chaves, fez advertências no mesmo sentido, utilizando dois exemplos de áreas-problema que o Estado tenta administrar. Um deles é a proposta de criação de área protegida ao norte da Região Metropolitana, na região de cavernas e terrenos cársticos. "É uma área responsável por 80% da indústria de cal e cimento de Minas Gerais", afirmou Chaves. Ele advertiu que é preciso considerar os empregos e a renda que deixariam de existir se a criação de áreas de preservação desconsiderar aspectos econômicos.

Outro exemplo que Chaves usou foi o da criação do Parque Estadual da Serra do Papagaio. São mais de 22 mil hectares transformados em parque há anos, que jamais foram desapropriados. Os moradores, por esse motivo, nem podem usufruir de suas propriedades, nem tem condições de sair de lá. "Mais importante que criar uma área de preservação é a fase seguinte, de desapropriação. Não podemos esquecer o potencial econômico da área. É possível a convivência pacífica entre interesses econômicos e de conservação", afirmou o assessor da Vice-Presidência.

Um vídeo produzido pela entidade Arca-Amaserra ilustrou, durante a audiência, a importância da Serra da Calçada do ponto de vista de ocorrência de mananciais hídricos para a Região Metropolitana, de espécies endêmicas de fauna e flora e de vestígios arqueológicos.

Proposta de redução de parque é criticada

O Projeto de Lei 124/07, do deputado Ivair Nogueira (PMDB), que propõe reduzir em 6,5% a área do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, foi criticado durante a audiência pública desta terça-feira por representantes do Ministério Público, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, por entidades ambientais e de associações de condomínios.

O coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, promotor Marcus Paulo de Souza Miranda, disse não ser verdadeiro um dos argumentos do PL, o de que seria necessária a aprovação de uma lei para dar segurança jurídica ao Parque do Rola-Moça. Miranda afirmou que a Lei Federal 9.985, de 2000, em seu artigo 22, garante que as unidades de conservação podem ser criadas por ato do poder público, sem a necessidade de lei.

A respeito da idéia de criação de uma RPPN na Serra da Calçada, Miranda afirmou que a idéia foi proposta pelo Ministério Público à empresa Vale em 2007, mas que ela recusou. Segundo o promotor, a empresa alegou que não seria possível criar uma RPPN em área onde já foram concedidos direitos de lavra. Sobre esse comentário, o consultor jurídico do Sindiextra, Marcelo Souza, afirmou que uma posição da empresa de dois anos atrás pode perfeitamente ter outro entendimento hoje, apesar de não ter procuração para falar em nome da Vale.

Plenário - O deputado Fábio Avelar (PSC) explicou aos participantes o processo de tramitação de uma PEC e lembrou que não é fácil aprovar uma modificação no texto constitucional. "É preciso que 48 parlamentares digam sim, mas temos que votar com margem de segurança. Para tanto, deve haver pelo menos 60 deputados no Plenário", disse. Ele chamou atenção ainda para o fato de a PEC 16/07 ter começado a tramitar em 2003. "Unanimidade não é fácil, mas ficou claro que ninguém é contra a preservação", acrescentou.

O deputado Dalmo Ribeiro(PSDB), por sua vez, mostrou-se satisfeito com o resultado das três audiências realizadas com convidados. Segundo ele, os depoimentos serão analisados para a elaboração de seu relatório. "Só hoje, foram 26 pessoas ouvidas, entre moradores, trabalhadores e estudantes. Pessoas com os mais variados interesses. Todas as opiniões serão levadas em consideração", explicou.

Presenças - Deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da comissão; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Fábio Avelar (PSC) e Dinis Pinheiro (PSDB). Além dos citados na matéria, participaram da audiência o gerente de Criação e Implantação de Áreas Protegidas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Silvério Rocha; a vice-presidente do Iepha, Maria Marta Martins de Araújo; a conselheira do Sindiextra, Thaís Rego de Oliveira; o gerente de Meio Ambiente da Fiemg, Wagner Soares Costa; o representante da Associação dos Condomínios Horizontais, José Eustáquio Paiva; o gerente-geral do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, Edmar Monteiro Silva, além de representantes de outros condomínios, entidades ambientais e moradores da região.

 

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