Prefeitura diz à ALMG que devolverá quadra a escola de samba

Despejada de sua sede no dia 19 de agosto deste ano por ação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Grêmio Recreati...

12/11/2008 - 00:01
 

Prefeitura diz à ALMG que devolverá quadra a escola de samba

Despejada de sua sede no dia 19 de agosto deste ano por ação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim recebeu, nesta quarta-feira (12/11/08), a promessa de que poderá retornar ao local. A decisão foi informada à Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais por meio de carta assinada pelo secretário municipal de Políticas Urbanas de Belo Horizonte, Murilo Valadares. O secretário foi convidado a explicar o despejo da escola de samba em audiência pública realizada pela comissão. Não compareceu, mas enviou ofício informando que a prefeitura já providencia a reversão do despejo.

Na carta, Valadares afirma que o convênio para a devolução do galpão da escola de samba está sendo redigido pela assessoria jurídica da Secretaria de Políticas Urbanas. Em vista disso, a Comissão de Participação Popular aprovou, durante a reunião desta quarta (12), dois requerimentos direcionados ao prefeito Fernando Pimentel e ao secretário Valadares. Um deles solicita informações sobre o documento preparado pela prefeitura, sobre o prazo previsto para assinatura do convênio para devolução da quadra e o prazo para a efetiva reversão do despejo. O segundo requerimento é um apelo para que se autorize, de imediato, o retorno da escola de samba para sua sede, assim como a devolução do material e instrumentos apreendidos durante o despejo. Os requerimentos foram assinados pelos deputados André Quintão (PT), presidente da comissão; Carlin Moura (PCdoB) e Fábio Avelar (PSC).

Autor do requerimento para realização da reunião, Carlin Moura classificou o despejo da Escola de Samba Cidade Jardim como uma "afronta à cultura popular de Belo Horizonte". Ele lembrou que a escola tem mais de 40 anos de existência e está há mais de 30 anos no local. "Realiza não só um trabalho musical, mas também social", ressaltou o deputado, que também fez uma homenagem ao sambista Jorge Melodia, que faleceu nesta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro, aos 74 anos.

Presidente da escola de samba, Alexandre Costa ressaltou durante a audiência pública que a sede da entidade foi construída com recursos do próprio grêmio, há 31 anos. "Na época, o comodato nem pôde ser assinado porque se chegou à conclusão de que o terreno não era da prefeitura", afirmou Costa, questionando o direito da PBH sobre o terreno. Segundo ele, ao ser despejada a escola de samba desenvolvia em sua sede oito oficinas de capoeira, dança, artes plásticas e circo, que atendiam mais de 80 crianças e adolescentes.

Imóvel fica em área valorizada da Região Centro-Sul

O terreno da quadra da Escola de Samba Cidade Jardim tem 4 mil metros quadrados e fica no Conjunto Santa Maria, área hoje valorizada por estar próxima à Avenida Raja Gabaglia. A disputa surgiu quando a PBH manifestou a intenção de construir no local uma unidade municipal de educação infantil. Segundo os dirigentes da escola de samba, no dia 5 de agosto, pouco antes do despejo, Murilo Valadares chegou a assumir o compromisso de construir uma nova quadra no patamar inferior do terreno onde se encontra a sede da escola, e que haveria garantia de permanência na atual quadra até o momento em que a nova estivesse pronta.

O presidente de honra da escola de samba, João Angoleiro, afirmou que a comunidade do Conjunto Santa Maria pode perder outras áreas de lazer, tais como o campo de futebol. "É uma política urbana de castração da cultura popular", protestou Angoleiro, acrescentando que o bairro é uma área de risco, onde a juventude não tem muitas alternativas de lazer.

O músico Yé Borges, que também participou da audiência pública, afirmou que a carta da Secretaria de Políticas Urbanas é resultado da ação da Assembléia Legislativa. "Essa resposta que chega do secretário é uma amostra da força desta Casa", disse Borges. O músico afirmou que o despejo da escola de samba é mais uma de diversas ações recentes do poder público contra a cultura popular em Belo Horizonte. Ele citou ainda os exemplos do Circo de Todo Mundo - que foi despejado de sua sede por ação do Governo do Estado; da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais - que foi reestruturada pelo Estado em parceria com a iniciativa privada; e do Mercado de Santa Tereza, que está sendo reestruturado pela PBH e, para Borges, sofre ameaça de descaracterização.

O deputado André Quintão também criticou o despejo do Circo de Todo Mundo, caso que está sendo acompanhado pela comissão. "É interessante que o Governo do Estado conseguiu uma liminar em 24 de setembro, mas só usou em 27 de outubro, um dia depois do 2º turno", afirmou o deputado. Ele também lembrou que a Comissão de Participação Popular irá realizar uma audiência pública no dia 20 de novembro para discutir as três propostas da prefeitura para reestruturação do Mercado de Santa Tereza.

Os deputados Fábio Avelar (PSC), Gustavo Valadares (DEM), Eros Biondini (PHS) e Almir Paraca (PT) também declararam apoio à causa da Escola de Samba Cidade Jardim. Valadares disse estar satisfeito em saber que a prefeitura está voltando atrás em uma medida truculenta. Eros Biondini, que também é cantor, disse que suas atividades musicais aumentaram ainda mais seu respeito pelo samba. Já Almir Paraca ressaltou que os despejos da escola de samba e do circo são exemplos da dificuldade do poder público em lidar com iniciativas culturais populares.

Representantes do Circo de Todo Mundo, funcionários da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e da Escola de Samba Inconfidência Mineira também participaram da audiência pública e manifestaram solidariedade à Escola de Samba Cidade Jardim. O principal destaque da reunião, no entanto, foi a sambista, cantora e compositora Ana Elisa de Souza, que cobrou a devolução da quadra da escola com um samba, entoado no ritmo das palmas dos participantes da audiência pública - já que os instrumentos musicais dos sambistas permanecem apreendidos pela PBH.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente da comissão; Eros Biondini (PHS), vice; Carlin Moura (PCdoB), Gustavo Valadares (DEM), Fábio Avelar (PSC) e Almir Paraca (PT).

 

 

 

 

 

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