Polêmica marca audiência pública sobre a Serra da Moeda

Os conflitos de interesses de quem convive ou depende da Serra da Moeda ficaram evidentes durante a segunda audiência...

11/11/2008 - 00:05
 

Polêmica marca audiência pública sobre a Serra da Moeda

Os conflitos de interesses de quem convive ou depende da Serra da Moeda ficaram evidentes durante a segunda audiência pública da Comissão Especial das Serras da Calçada e da Moeda, realizada nesta terça-feira (11/11/08) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. De um lado, moradores, apoiados pelo Ministério Público, exigem a preservação da área, considerada o maior conjunto arqueológico histórico identificado até hoje em Minas Gerais. De outro, empresários defendem a atividade da mineração, que é o mais importante segmento econômico da região; e prefeitos dos municípios abrangidos pela serra almejam compatibilizar a exploração mineral com a conservação do patrimônio cultural e ambiental. O espaço ficou lotado por mais de 200 pessoas que acompanharam a reunião.

O presidente da empresa de consultoria Brandt Meio Ambiente, Wilfred Brandt, fez uma apresentação para mostrar a importância da Serra da Moeda, que vai de Belo Horizonte a Congonhas. A área concentra 33% das reservas minerais do Estado, 23% das nacionais e 7% das conhecidas no mundo. É também responsável por 36% do minério de ferro produzido no Brasil, 46% do total de Minas Gerais e representa 20% dos empregos gerados pelo setor no Estado.

Ele revelou, no entanto, que as mineradoras são proprietárias de 75% das terras da serra e, por isso, conservam 57% da área. A área possui uma importante reserva de águas subterrâneas, que abastecem cabeceiras de afluentes dos rios das Velhas e Paraopeba.

O representante do Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra), Júlio César Neri, afirmou que as mineradoras têm ajudado a preservar as riquezas da serra. Segundo ele, na Mata do Jambreiro existiam 120 pássaros em 1973, quando a MBR iniciou a mineração no local; em 2003, quando a atividade se extinguiu, foram encontradas 180 espécies. "Entendemos que é possível minerar preservando o que é importante. Precisamos é delimitar o que é relevante conservar", disse.

Embargo - O promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda citou o Atlas da Biodiversidade de Minas Gerais, elaborado pela organização não-governamental Biodiversitas, que aponta a Serra da Moeda como área prioritária para a preservação de répteis, anfíbios, invertebrados, flora e de fatores abióticos, ou seja, aqueles fenômenos que ocorrem sem a participação de seres vivos, como o clima, o relevo, o solo e a água. O Atlas, segundo ele, norteia as políticas públicas ambientais implantadas pelo Governo do Estado.

Ele também lembrou que o estudo apresentado pelo Sindiextra na audiência passada confirmou que a serra possui importantes sítios arqueológicos que explicam o surgimento da história do Estado. Marcos Miranda apresentou um vídeo mostrando a atuação de uma mineradora que ele não quis identificar e cujas atividades estão embargadas por uma liminar.

O representante dos moradores em condomínios da Serra da Moeda, José Eustáquio Machado de Paiva, defendeu que as negociações sejam claras e justas com vistas a compatibilizar a sustentabilidade da vida. Advertiu que é preciso considerar os moradores das comunidades da área, que há mais de 300 anos vivem ali, preservando tradições e modos de vida únicos no Estado.

O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo de Araújo, aproveitou para reivindicar melhor remuneração para os municípios mineradores. Ele reclamou que as prefeituras perderam recursos com alterações na distribuição do ICMS e com a Lei Kandir, que isenta do tributo o minério exportado. "A mineração do ouro nos trouxe o barroco; a do minério, o barraco", disse, ao comparar a diferença entre a riqueza da primeira atividade e a pouca compensação com a segunda.

Deputados defendem compatibilizar mineração com meio ambiente

Os deputados Délio Malheiros (PV), Dinis Pinheiro (PSDB) e Fábio Avelar (PSC) foram unânimes em afirmar que é preciso compatiblizar a atividade minerária com a preservação do meio ambiente. "Há meios de se extrair riqueza sem agredir brutalmente o verde. Há prefeituras que realmente gastaram mal durante anos os recursos advindos da mineração. Agora têm economias totalmente dependentes", disse Délio Malheiros, antes de citar os Emirados Árabes Unidos como exemplo a ser seguido. "Eles sabem que dependem muito do petróleo, mas têm consciência de que essa riqueza vai acabar em breve. Por isso estão investindo em alternativas", afirmou.

O presidente da comissão, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), considerou a reunião produtiva e explicou ao público a importância da Comissão Especial. "O parecer do relator servirá de base para os demais parlamentares na discussão e votação de matérias relacionadas ao tema, ou seja, vai orientar a ação legislativa da Casa. Certamente as decisões aqui tomadas não vão agradar a todos, mas posso afirmar que não haverá brechas para a mineração sem controle, tampouco radicalismo. É preciso encontrar o caminho da conciliação", disse.

O relator, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) afirmou que está estudando profundamente a situação da área para apresentar um relatório substancioso que atenda a todos os interesses apresentados durante as reuniões. Ao final da reunião, foi aprovado requerimento para a prorrogação do prazo da comissão por mais 30 dias.

Presenças - Deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), relator; Almir Paraca (PT), Fábio Avelar (PSC), Irani Barbosa (PSDB), Délio Malheiros (PV) e Dinis Pinheiro (PSDB).

 

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