Deputados divergem sobre projeto de regulamentação de raves

Debate realizado nesta quarta-feira (5/11/08) pela Comissão de Cultura da Assembléia Legislativa de Minas Gerais evid...

05/11/2008 - 00:01
 

Deputados divergem sobre projeto de regulamentação de raves

Debate realizado nesta quarta-feira (5/11/08) pela Comissão de Cultura da Assembléia Legislativa de Minas Gerais evidenciou as divergências a respeito da proposta de regulamentação das chamadas "raves", festas de longa duração com a utilização de música eletrônica. A polarização aconteceu tanto entre os deputados quanto entre os convidados presentes na reunião. De um lado, o deputado Sargento Rodrigues (PDT), autor do Projeto de Lei (PL) 1.874/07, que trata do tema, defendeu maiores restrições para eventos deste tipo, a fim de coibir sua utilização para o tráfico de drogas. Já os deputados Carlin Moura (PCdoB) e Chico Uejo (PSB) consideraram desnecessária nova regulamentação específica sobre raves, defendendo uma aplicação mais efetiva de normas já existentes sobre eventos do mesmo porte.

Originalmente, o PL 1.874/07 propunha a proibição das raves, definidas como "tipo de festa que acontece em galpões, sítios ou terrenos sem construções, com música eletrônica e de longa duração, geralmente acima de doze horas". Após exame das comissões parlamentares, o projeto foi modificado por meio do substitutivo nº 2, da Comissão de Cultura, que não proíbe, mas regulamenta as raves e bailes funk.

A presidente da Comissão de Cultura, deputada Gláucia Brandão (PPS), explicou no início da reunião que o substitutivo nº 2 exige que os organizadores dos eventos devem solicitar autorização da Secretaria de Defesa Social, com uma antecedência mínima de 30 dias, apresentando estimativa de público e horário de funcionamento, entre outros pontos. Outras exigências são a oferta de um sanitário para cada 50 participantes, detetores de metal, atendimento médico, distribuição de material contra o uso de drogas. Emenda da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária exige a existência de um bebedouro para cada 50 participantes.

O deputado Sargento Rodrigues citou dissertação de mestrado, artigos técnicos e jornalísticos para enfatizar a associação que existe entre as festas raves e o consumo de drogas. Ele afirmou que é irreal pensar que alguém possa dançar durante mais de 10 horas sem consumir drogas. "É preciso disciplinar essas festas", afirmou, acrescentando que a própria Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem a obrigação do Estado de assegurar os direitos e o bem-estar dos jovens.

Carlin Moura disse que a vinculação entre as raves e drogas é preconceito. "Tem-se dito que o consumo de drogas aumentou na porta das escolas. Deve-se fechar as escolas?", questionou. O comentário provocou a intervenção do subsecretário de Estado de Políticas Antidrogas, Cloves Eduardo Benevides. Ele afirmou que o tráfico de drogas nas proximidades das escolas vem sendo combatido por iniciativas como a patrulha escolar. Benevides defendeu a regulamentação das raves como uma forma de estender a estes eventos políticas de combate ao consumo de drogas que já existem em relação ao ambiente escolar.

Legislação específica para raves é polêmica

Outro ponto em que convidados e parlamentares divergiram foi a necessidade e conveniência de uma legislação específica sobre raves. O coronel Cláudio Teixeira, comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar, afirmou que o tipo de música não é critério importante para definir a periculosidade de um evento. Ele usou o exemplo dos jogos de futebol no estádio do Mineirão. "Antes da proibição da bebida alcoólica no Mineirão, tínhamos uma média de 400 a 500 atendimentos por jogo. Após a proibição, este número caiu para dez", afirmou. Teixeira chamou atenção para o impacto que estes eventos podem causar sobre os serviços públicos. "Já encontramos 100 jovens estirados, em princípio de coma alcoólico, em eventos deste tipo", declarou, complementando que há ainda o aumento do número de atropelamentos, acidentes e agressões.

Já o delegado da Polícia Civil Geraldo Toledo disse que as raves são um evento diferenciado, que merecem ser tratadas como tal. Ele disse considerar raves apenas as festas clandestinas, que precisariam mesmo ser proibidas. O coronel Claúdio Teixeira, por outro lado, afirmou que já existe legislação que regulamenta eventos temporários. "Eu mesmo já interditei três eventos de festas raves, porque não eram eventos de caráter cultural", afirmou.

O deputado Chico Uejo chamou atenção para o perigo de se pretender legislar a respeito de um evento sobre o qual não há clareza sobre sua natureza. "Deveríamos ampliar essa normatização para outros eventos ou nos darmos satisfeitos com a discussão aqui desenvolvida", afirmou. Já Carlin Moura chamou atenção para a legislação citada pelo comandante dos Bombeiros, afirmando que a medida recomendada não é a criação de mais uma lei, e sim o fortalecimento de estruturas que permitam uma aplicação mais eficientes das muitas normas já existentes, por meio de maior fiscalização. "Vamos jogar nas costas dos produtores de eventos a falta de fiscalização do Estado? Quantas regiões de Minas não têm Bombeiros?", questionou.

O representante da Associação Brasileira dos Produtores de Eventos, José Lúcio Mendes, disse que os organizadores que cumprem a lei são os que mais sofrem com os eventos clandestinos. Ele também afirmou, no entanto, que a regulamentação já existe, cobrando sim maior fiscalização do poder público.

Outra divergência apontada pelos debatedores é quanto à iniciativa da regulamentação. O deputado Chico Uejo e o vereador Léo Burguês defenderam que este tipo de evento deveria ser normatizado em nível municipal. Já o deputado Sargento Rodrigues considerou que uma lei estadual não impede o Estado de delegar aos órgãos regionais e locais o cumprimento da norma.

Presenças - Deputadas Gláucia Brandão (PPS), presidente da comissão; e Maria Lúcia Mendonça (DEM); deputados Sargento Rodrigues (PDT), Chico Uejo (PSB), Carlin Moura (PCdoB) e Weliton Prado (PT). Além das autoridades citadas na matéria, também estavam presentes o presidente do Conselho Estadual Antidrogas, Aluísio Andrade de Freitas; e a conselheira municipal Antidrogas de Belo Horizonte, Ana Regina Machado.

 

 

 

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