Comissão pedirá revogação de portaria sobre médicos peritos

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai encaminhar requerimento à Secretaria de Estado de D...

08/10/2008 - 00:07
 

Comissão pedirá revogação de portaria sobre médicos peritos

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai encaminhar requerimento à Secretaria de Estado de Defesa Social para a revogação de portaria da Delegacia de Polícia Civil de Monte Carmelo (Alto Paranaíba) que obriga os médicos plantonistas de serviços de urgência e emergência a atuarem como peritos. Este foi um dos resultados da audiência pública realizada nesta quarta-feira (8/10/08), em que foi debatido o problema, a requerimento do presidente da comissão, deputado Carlos Mosconi (PSDB).

Além disso, a Polícia Civil Técnica deverá editar uma norma esclarecedora a todos as delegacias com os critérios legais para a realização de perícias e ainda com algumas recomendações, como a de visitas periódicas a todas as cidades integrantes das regionais da Secretaria de Defesa Social pelos médicos peritos. E para que a perícia seja feita pela forma indireta devem ser utilizados o laudo e a ficha médicos, quando não for possível a perícia direta, ambos procedimentos já previstos no Código de Processo Penal. Quanto à nomeação ad hoc de um médico não perito, ela deve ser feita para atuação em uma situação específica.

A reunião foi pedida pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), por discordância da portaria emitida pela delegacia de Monte Carmeto, e que resultou, segundo o representante do órgão, médico perito André Lorenzoni de Oliveira, na demissão voluntária de sete dos 15 profissionais do pronto-socorro da cidade. Lorenzoni e a procuradora da entidade, Maria Karla Soares, criticaram a norma, lembrando o impedimento ético do médico de atuar como perito de seu próprio paciente, além do despreparo técnico para exercer a atividade.

Convidados concordam que interpretação é equivocada

O presidente e o vice do Instituto Médico Legal, José Mauro de Moraes e Rui Lopes Filho, bem como a representante da Polícia Técnica, delegada Luciana Rossi Carvalho, concordaram que houve uma interpretação equivocada do delegado de Monte Carmelo. Os três dizem que a nomeação ad hoc não pode ser ampla e sem tempo definido, mas para uma situação específica.

Além do mais, destacaram que não há demanda para médicos peritos, o que indicaria o equívoco da exigência feita em Monte Carmelo. Segundo José Mauro Moraes, existem médicos peritos nomeados para cada regional da Polícia Civil. "São três profissionais em cada regional desde o ano passado, quando foram contratados por concurso público 180 peritos, número que é suficiente para atender a demanda", disse.

Mauro Moraes só teme que este número seja reduzido para um único profissional em cada regional, "como indica um estudo que está sendo feito pelo Estado", informa o presidente do IML. Ele pediu que a Comissão de Saúde não deixe acontecer a diminuição, "caso contrário a coisa pode se complicar mais à frente".

Já Luciana Rossi manifestou preocupação com as novas exigências da lei seca, que pede a comprovação do alcoolismo para instruir o inquérito contra motoristas infratores. "Nesses casos precisamos de uma perícia mais momentânea, já que os efeitos do álcool são deletérios. E também em casos excepcionais, como um estupro, em que o laudo pericial é essencial para compor a denúncia contra o autor do delito", acrescenta.

Mas até nesses casos excepcionais os convidados encontraram a solução: a nomeação ad hoc, desde que com a concordância do médico e o conhecimento da autoridade judiciária, conforme prevê o Código Penal. "Mas não pode haver imposição", destacaram os representantes do CRM. A imposição foi também lembrada pelo promotor Antônio Joaquim Fernandes Neto, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa da Saúde, como o principal problema a ser discutido. Para ele, se há soluções, é preciso investigar por que em algumas cidades, como Monte Carmelo, não está funcionando.

Deputados - Para Mosconi, o médico plantonista não tem de fazer perícia, "tem é que cuidar da saúde do paciente. Quem faz perícia é médico perito". Ele também destaca o problema ético, com a quebra do sigilo médico. O deputado informou que a exigência vem sendo feita em várias cidades, como na região de Uberaba, Poços de Caldas, Governador Valadares, "e em alguns casos, quando o médico se recusou a cumprir a determinação, houve até ameaça de prisão". O deputado Doutor Rinaldo (PSB), que dirigiu a audiência ao final, se solidarizou com os médicos que se recusaram a cumprir a determinação em Monte Carmelo. Segundo ele, o médico que for fazer perícia sem a qualificação necessária corre o risco de ter um processo a responder de imediato. Ele pediu o encaminhamento das notas taquigráficas para o Tribunal de Justiça, para serem anexadas no processo de mandado de segurança impetrado contra a portaria pelo CRM.

O exame de corpo de delito é procedimento obrigatório por lei (art. 158 do Código do Processo Penal), sendo indispensável sempre que uma infração deixar vestígios. Já o art. 159 determina que tais exames sejam feitos por dois peritos oficiais, geralmente médicos legistas ou médicos ad hoc, designados pela autoridade judiciária.

Requerimentos - Foram aprovados três requerimentos: da deputada Ana Maria Resende (PSDB), de audiência pública para discutir o aumento da doença de Chagas no Norte de Minas; do deputado Carlos Mosconi, de audiência para conhecer o resultado da reunião entre representantes do Ministério Público do Trabalho, Delegacia Regional do Trabalho e auditores trabalhistas, sobre as punições aplicadas a cooperativas médicas. E dos deputados Durval Ângelo (PT) e João Leite (PSDB), para uma reunião conjunta da Comissão de Direitos Humanos com a Comissão de Saúde, para debater denúncias de falta de condições de funcionamento do hospital da Polícia Civil em Belo Horizonte.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely Tarqüínio (PV), vice; Carlos Pimenta (PDT) e Doutor Rinaldo (PSB).

 

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