Especialistas defendem fundo para custeio de perícias judiciais

A criação de um fundo e de um corpo de peritos na estrutura do Estado foram as alternativas apresentadas, na reunião ...

08/10/2008 - 00:01
 

Especialistas defendem fundo para custeio de perícias judiciais

A criação de um fundo e de um corpo de peritos na estrutura do Estado foram as alternativas apresentadas, na reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais desta quarta-feira (8/10/08), para solucionar o problema dos processos judiciais parados na Justiça devido à falta de condições das partes envolvidas de pagarem os custos desses procedimentos. A reunião contou com a presença de representantes do Judiciário, Executivo, Defensoria Pública e peritos judiciais, que debateram a urgência de solucionar os problemas da prestação jurisdicional para os mais necessitados.

A presidente da Associação dos Peritos Judiciais de Minas Gerais (Aspejud), Maria Elisa Brasil Vieira dos Santos, afirmou que pesquisa feita junto à Corregedoria-Geral de Justiça indica que atualmente existem mais de 64 mil processos nas varas cíveis e mais de 35 mil nas varas de família, em que as partes envolvidas são carentes e utilizam a assistência jurídica gratuita. Entretanto, segundo ela, 40% desses processos são convertidos em perícias judiciais, sendo que a tramitação da maioria fica parada, pois as partes não possuem recursos para pagar a realização dos procedimentos e a produção das provas. O defensor público-geral de Minas Gerais, Belmar Azze Ramos, afirmou que a Defensoria Pública convive diariamente com vários desses processos parados devido à falta de recursos para a realização das perícias. "Justiça tardia é a mesma coisa que injustiça", destacou.

O presidente da comissão e autor do requerimento para realização da reunião, deputado Durval Ângelo, lembrou que em São Paulo já existe o Fundo de Assistência Judiciária, criado com o objetivo de custear as perícias judiciais nos processos que envolvem necessitados. O fundo foi regulamentado inicialmente em 1985, através do Decreto 23.703, e sofreu alterações em 2001, com o Decreto 34.462. Durval Ângelo afirmou que o fundo em São Paulo é composto com recursos das custas judiciais e emolumentos, além de doações. "A experiência de São Paulo mostra que o fundo ajudou na redução do tempo de tramitação dos processos cujas partes utilizem a assistência jurídica gratuita e que envolvem a realização de perícias", destacou. Durval Ângelo lembrou ainda que a formulação de um projeto de lei prevendo a criação do fundo em Minas Gerais é de iniciativa do Executivo.

Fontes alternativas - O assessor especial da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), Osmar Teixeira de Abreu, afirmou que o Executivo está disposto a discutir a criação do fundo ou de outras alternativas para solucionar o problema. Entretanto, ele destacou que é importante que o fundo preveja a captação de recursos não apenas do Orçamento do Estado, mas de outras fontes alternativas de financiamento. Osmar Teixeira de Abreu lembrou também que a iniciativa de criação desse fundo é da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), que deve ser chamada para participar das discussões.

Já o secretário da Corregedoria-Geral de Justiça, Renato Cardoso Soares, considerou ser necessário solucionar esses problemas das perícias judiciais, mas que é importante lembrar que atualmente o Judiciário estadual conta com um orçamento muito apertado. "Nos moldes em que é feito em São Paulo, o desvio de parte das custas judiciais para o fundo pode trazer sérios prejuízos para a prestação jurisdicional", destacou. Durval Ângelo afirmou que, nesse caso, caberia ao Estado repor ao Judiciário os recursos desviados para o fundo.

Corpo de peritos é outra alternativa debatida

A criação de um corpo de peritos na estrutura do Estado foi uma alternativa apresentada pelo juiz auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça e diretor do Foro da comarca de Belo Horizonte, Marco Aurélio Ferenzini. Ele lembrou que o direito à assistência jurídica é garantido pela legislação brasileira. "A Corregedoria de Justiça está disposta a conversar com a Comissão de Direitos Humanos e com os outros setores envolvidos com o objetivo de encontrar a solução para o problema das pessoas carentes que não têm como pagar as perícias judiciais", considerou.

O vice-presidente da Aspejud, Marco Antônio Pires, concordou com a idéia de criação de um corpo de peritos. Para ele, esse corpo, formado através de concurso público, pode ser a solução para o problema, já que o fundo poderia desviar recursos do orçamento do Judiciário. Durante os debates, também foi lembrado na reunião o fato de o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ter estabelecido parâmetros para o custeio pelo Estado da Justiça gratuita. Segundo a presidente da Aspejud, Maria Elisa dos Santos, a Justiça Federal e a Justiça do Trabalho teriam uma verba destinada para o custeio da Justiça gratuita, de acordo com o modelo estabelecido pelo CNJ.

Diante das sugestões colhidas na reunião, o deputado Durval Ângelo afirmou que irá apresentar requerimentos com o objetivo de encaminhar as notas taquigráficas e os documentos apresentados para a Corregedoria-Geral de Justiça, Seplag, SEF e Defensoria Pública. Ele também afirmou que irá realizar uma reunião com o secretário de Fazenda no início de dezembro com o objetivo de discutir a destinação de verbas no orçamento para o pagamento das perícias judiciais. Durval Ângelo ainda solicitou que o Tribunal de Justiça forneça os dados sobre os números de processos parados devido à falta de realização de perícias, e que a Justiça Federal e a Justiça do Trabalho forneçam informações sobre as verbas para custeio da Justiça gratuita.

Na fase de "pinga-fogo" da reunião, o deputado Durval Ângelo recebeu ainda denúncia de agressão a presos.

Presenças - Deputado Durval Ângelo, presidente da comissão. Também participaram da reunião o diretor do Instituto de Criminalística de Belo Horizonte, Sérgio Márcio Costa Ribeiro; o perito criminal Levy Eduardo dos Santos; e diretora do Departamento de Apoio do Advogado de Belo Horizonte, Raquel de Oliveira Souza Santiago.

 

 

 

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