Cemig: chuva atípica de agosto explica danos na rede
elétrica
A intensidade das chuvas e dos ventos que atingiram
a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) no dia 30 de agosto
foi o argumento usado pela Cemig para justificar a interrupção do
fornecimento de energia elétrica para 400 mil residências. O
episódio foi debatido em reunião da Comissão de Defesa do Consumidor
e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta
quinta-feira (2/10/08), a pedido do deputado Délio Malheiros (PV).
Ele ressaltou, já no início da audiência, que recebeu várias
reclamações em seu gabinete e que algumas casas ficaram três dias
sem luz.
O superintendente do Centro Regional da Cemig, José
Aloíse Ragone Filho, afirmou que a empresa trabalha preventivamente
para antecipar as ocorrências comuns nos períodos de chuva, fazendo
a poda de árvores, a substituição de equipamentos obsoletos, a
capacitação dos técnicos e a retirada de papagaios dos fios. O
técnico explicou que, com a chuva, o papagaio se torna um condutor,
causando curto circuito e interrompendo a transmissão. José Aloíse
informou que no mês de agosto 3 mil pipas foram retiradas da rede da
Cemig.
A companhia também está investindo na blindagem da
rede aérea que, de acordo com o superintendente da Cemig, seria uma
alternativa mais barata à rede subterrânea. O superintendente também
anunciou que, para 2009, a Cemig fará duas podas de cada árvore e
não apenas uma, como acontece atualmente. A intenção também é que
sejam podadas mais 60 mil árvores na RMBH.
O hidrometeorologista do Planejamento Energético da
Cemig, Ruibran dos Reis, disse que a chuva de 30 de agosto foi
bastante atípica porque uma frente fria avançou rapidamente para o
Estado. Os ventos chegaram a 70 km/hora, um fato inédito na história
recente de Belo Horizonte. Segundo o técnico, em duas horas choveu
25 mm, mais que a média de todo o mês de agosto. Ruibran dos Reis
ponderou que, em setembro, quando a RMBH foi novamente atingida por
chuvas fortes por três dias seguidos, menos de 1% das pessoas
ficaram sem luz por mais de 24 horas, o que reforçaria a tese de que
a primeira chuva foi atípica.
Cemig trabalhava com equipe reduzida no dia da
tempestade
O gerente de Operação da Distribuição Centro da
Cemig, Danilo Gusmão Araújo, disse que o fato de a primeira chuva
ter ocorrido em um sábado também dificultou o rápido atendimento por
parte da Cemig, porque a empresa trabalha com uma equipe reduzida
nos finais de semana. Mesmo assim, de acordo com ele, vários
funcionários ligaram para a empresa oferecendo ajuda ao perceberem o
impacto das chuvas. "Com isso conseguimos aumentar de 110 para 180 o
número de equipes que trabalharam no fim de semana", explicou. Na
semana seguinte, ainda de acordo com Danilo Araújo, esse número
chegou a 220. "Os fenômenos atípicos acontecem de 3 a 4 vezes por
ano e não há como manter equipes constantemente mobilizadas em
função desses episódios, por causa do custo", justificou.
A demora na normalização do serviço de transmissão
de energia foi destacada pelo deputado Délio Malheiros, que cobrou
explicações dos representantes da Cemig. Segundo ele, 10 mil pessoas
teriam ficado sem atendimento por 48 horas e 5 mil por 72 horas. O
gerente da Central de Relacionamento com o Cliente, Manoel Xavier
Rodrigues, também usou a justificativa de que a chuva de 30 de
agosto foi um "evento atípico" para explicar a demora no atendimento
da empresa. "Quando se fala em 400 mil casas sem luz, significa
dizer que houve uma demanda muito grande de pessoas ao mesmo tempo",
afirmou.
Ele acrescentou que foram registradas 1,1 milhão de
chamadas na central de atendimento. Manoel Rodrigues também informou
que a Cemig tem a maior estrutura de atendimento ao consumidor do
sistema elétrico brasileiro, com 550 postos e 1.500 pessoas. O
gerente da Cemig também citou as ações que vão ser implementadas
para melhorar esse atendimento, como a ampliação do número de
funcionários em dias de chuva, a criação de um sistema de
atendimento eletrônico e estreitamento da relação com a
mídia.
Para MP, não se pode mais falar em "força
maior"
O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, José
Antônio Baeta de Melo Cançado, afirmou que o Ministério Público
concluiu, a partir das reclamações encaminhadas ao órgão, que a
Cemig não se preparou adequadamente para o período chuvoso e não
dimensionou bem suas equipes. "Não se pode mais falar em 'força
maior' se é possível prever as adversidades", afirmou. Para agilizar
o atendimento do consumidor e tranqüilizar o usuário, o promotor
sugeriu a utilização da internet aliada ao call center e a
criação de um gabinete de crise. Sugeriu também que as centrais de
atendimento utilizem gravações com mensagens mais positivas,
explicando o problema e dando uma previsão de restabelecimento dos
serviços.
A opção da Cemig por blindar a rede elétrica em vez
de adotar a rede subterrânea decepcionou o promotor. "A rede
subterrânea é a melhor saída para as adversidades", defendeu. E
atacou: "O preço da nossa energia elétrica é o mais elevado do mundo
e arcaria com a rede subterrânea. Se essa é uma opção de primeiro
mundo, o preço de nossa energia é mais alto que a de primeiro
mundo", concluiu.
Indenizações - O
coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Barbosa, questionou os
representantes da Cemig sobre a aplicação da Resolução Normativa da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 61, que trata do
ressarcimento de danos elétricos causados por perturbação no sistema
elétrico. A pergunta foi respondida pelo gerente da Cemig Danilo
Gusmão Araújo, que disse que as determinações da Aneel vêm sendo
seguidas criteriosamente. Ele informou que a Cemig recebeu 811
pedidos de indenização, dos quais 130 foram indeferidos. Dos pedidos
restantes, 407 já foram encaminhados para laudo e os demais estão
sendo analisados.
A representante do Conselho de Consumidores da
Cemig, Maria Mônica de Oliveira Castro, sugeriu que fosse formada
uma comissão com representantes da empresa, Corpo de Bombeiros e
Secretaria de Meio Ambiente para avaliar as condições das árvores e
substituir as que estiverem comprometidas, reduzindo os riscos de
danos à rede elétrica. Danilo Araújo informou que esse trabalho já
está sendo feito com a Prefeitura de Belo Horizonte, e que 300
árvores já foram substituídas.
Ao final da reunião, o deputado Délio Malheiros
criticou a alta carga tributária incidente sobre a energia
residencial - 30% de ICMS. "É uma ganância tributária do Estado e
uma injustiça com o usuário", afirmou o deputado, que considera o
custo da energia de Minas Gerais um absurdo. Ele também criticou a
cobrança da taxa de iluminação pública. O promotor José Antônio
Baeta de Melo Cançado reforçou que o consumidor paga um valor
superior à qualidade do serviço prestado.
Presenças - Deputado Délio
Malheiros (PV), presidente. Também participou da reunião o
vice-presidente da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais,
Lázaro Luiz Gonzaga.
|