Estado busca recursos para apoiar produção de queijo
artesanal
A construção de centros de maturação de queijo
artesanal em Minas Gerais é a próxima meta do Governo do Estado para
apoiar a atividade, que foi tema de debate na Assembléia Legislativa
de Minas Gerais nesta terça-feira (30/9/08). A audiência pública foi
realizada pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, a
requerimento dos deputados Vanderlei Jangrossi (PP) - presidente da
comissão; Antônio Carlos Arantes (PSC), Padre João (PT) e Dalmo
Ribeiro Silva (PSDB).
O número de produtores de queijo artesanal em Minas
é estimado em 35 mil, segundo a Emater. Destes, 9.015 atuam nos 46
municípios que tiveram sua produção enquadrada no Programa Queijo
Minas Artesanal. Até o momento, 80 produtores já possuem
certificação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O programa,
por meio da Lei 14.185, de 2002, apoia a produção artesanal de
queijo que respeita formas tradicionais, características das regiões
do Serro (10 municípios), Canastra (sete municípios), Araxá (10
municípios) e Cerrado (19 municípios).
Essas quatro regiões produzem hoje queijo maturado,
que garante melhores condições de controle sanitário. Na região do
Serro, o período de maturação é de 10 dias, e de 21 dias nas outras
três áreas. A produção queijeira do Serro está hoje tombada pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha),
enquanto o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) reconheceu como patrimônio imaterial do País a indústria
queijeira da Canastra, Serro e Cerrado.
Mesmo a certificação oficial, no entanto, não
livrou os produtores de problemas, segundo o presidente da
Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), Luciano
Carvalho Machado. Ele afirmou que o respeito às normas oficiais
torna seu produto pouco competitivo em relação aos queijos
clandestinos. Além disso, as regiões enfrentam dificuldades para
viabilizar uma estrutura de maturação para uma produção de maior
porte, que atenda à legislação.
Para enfrentar o gargalo da maturação, a assessora
da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa),
Luciana Siqueira Rapini, afirmou que o Estado, por meio da Emater,
captou recurso do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) para a
construção de dois centros de maturação, nos municípios de Medeiros
e Rio Paranaíba. Para os demais municípios, a Seapa estará
apresentando, por meio da Secretaria de Estado de Planejamento e
Gestão (Seplag), projetos para tentar captar recursos de emenda
parlamentar federal, ainda este ano. Para que o Estado ganhe novos
centros de maturação, será necessária a liberação de recursos
federais. Luciana, que é assessora da Superintendência de Segurança
Alimentar e Apoio à Agricultura Familiar, admite que os dois
primeiros centros não resolvem o problema, mas são um primeiro passo
nesse sentido.
Secretaria tem proposta de ampliar programa
A Secretaria de Agricultura também tem uma proposta
para apoiar os demais produtores de queijo artesanal, que hoje
permanecem desassistidos pelo Programa Queijo Minas Artesanal. Hoje
esses produtores estão sujeitos à legislação federal, que é muito
rigorosa. Em função do alto custo para respeitar as exigências
federais, muitos produtores preferem continuar clandestinos. Para
buscar uma solução, a idéia da Secretaria de Agricultura é dinamizar
o programa Minas Artesanal, em articulação com o Projeto
Estruturador Certifica Minas. Com isso, segundo Luciana Rapini,
seria mais fácil o acesso a recursos, o que poderia viabilizar uma
nova estrutura normativa, de apoio logístico e à comercialização. Ou
seja, o governo teria melhores condições de regulamentar o setor,
criar programas de capacitação para os produtores, financiamento e
estrutura física de apoio.
O deputado Vanderlei Jangrossi ofereceu o apoio dos
deputados da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial na
busca de recursos federais para multiplicar a construção de mais
centros de maturação. O deputado Padre João disse que é preciso
buscar um equilíbrio na atuação do poder público, que garanta ao
mesmo tempo as condições sanitárias do queijo artesanal, mas que
também não inviabilize a atividade, relegando-a à clandestinidade.
Ele defendeu, por exemplo, o reconhecimento do processo tradicional
de produção de queijos de Faria, localidade do município de
Barbacena, representada na reunião pelo produtor Vicente de Paula
Almeida.
Um dos coordenadores do Programa Queijo Minas
Artesanal, Elmer Ferreira, explicou que o reconhecimento de outras
regiões de Minas é muito difícil, porque não há uma uniformidade no
processo de produção destas áreas. Além disso, elas não atendem
alguns itens da legislação, tais como a utilização do fermento
lático natural, chamado de "pingo". Pesquisador da Epamig,
Maximiliano Soares Pinto afirmou que a solução para os problemas do
setor só virá com a criação de uma rede de instituições que
viabilize projetos e investimentos, que dêem segurança às decisões
necessárias para a regulamentação. "Visitei mais de 400 produtores.
Todos dizem que seu queijo é bom. Precisamos de regras que digam o
que é esse queijo bom. Para isso, precisamos de pesquisa", afirmou o
técnico.
Presenças - Deputados
Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão; Padre João (PT),
vice-presidente. Também participaram da reunião o fiscal federal
Clério Alves da Silva, representando o Ministério da Agricultura; a
vice-presidente do Iepha, Maria Marta Martins; a gerente de
Patrimônio e Material do Iepha, Evelyn Meniconi; a gerente
substituta de Vigilância Sanitária de Alimentos, Joana Dalva
Miranda; o coordenador do programa Queijo Minas Artesanal, José
Manuel Martins; e a historiadora e técnica do Iepha, Vânia
Rocha.
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