Ministro destaca importância da Conferência de Direitos
Humanos
O ministro Paulo de Tarso Vannuchi, da Secretaria
Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, disse
nesta quinta-feira (11/9/08) que Minas Gerais inovou ao incluir o
eixo de discussão sobre o direito à memória e à verdade na
Conferência Nacional de Direitos Humanos. Ele participou da abertura
da 3ª Conferência Estadual de Direitos Humanos, que a Assembléia
Legislativa de Minas Gerais realiza em parceria com a Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) e mais 40 entidades. O
evento termina nesta sexta-feira (12), com a aprovação das propostas
mineiras e eleição dos delegados para a conferência nacional, que se
realiza em Brasília entre os dias 15 e 18 de dezembro.
Foi manifestada a expectativa de que a conferência
estadual contribua para que os direitos humanos deixem de ser, cada
vez mais, uma questão restrita a alguns grupos e se torne um
elemento central na sociedade, colaborando com o desenvolvimento e
formulação de políticas públicas de defesa da vida nos âmbitos
estadual e federal.
Centro de recente polêmica nacional, ao declarar
que a população tem direito à memória sobre a verdade da ditadura,
declaração interpretada como defesa da revisão da Lei da Anistia,
Vannuchi garantiu que não defendeu, defende ou defenderá a revisão
da lei. "Esta é uma discussão para o Judiciário, como foi no Chile e
Argentina, onde a punição aos torturadores virou crime de lesa
humanidade".
O ministro disse que o Judiciário tem uma
compreensão pobre da Lei da Anistia, ao igualar torturadores e
torturados. "O Judiciário é que deve se manifestar sobre o tema, mas
acredito que em breve o governo brasileiro irá seguir o exemplo dos
governos chileno, argentino e paraguaio, que se desculparam pelos
crimes da ditadura de seus países". Vannuchi disse ainda que assumir
a verdade dos fatos daquele período é uma forma de isentar as Forças
Armadas de uma mancha que foi cometida por outros membros em outra
época.
Essa linha de a população saber a verdade, o que
houve com seus presos políticos, com os desaparecidos, o direito aos
restos mortais, está incluída no eixo de discussão proposto por
Minas e que, segundo o ministro, será acrescido aos outros seis da
conferência nacional. Vannuchi destacou também que esse direito se
estende a fatos atuais, como tortura em cadeias, trabalho escravo e
outros direitos humanos violados.
Para o ministro, 60 anos após a Declaração dos
Direitos Humanos, os direitos ainda são um projeto, apesar dos
avanços. Segundo ele, um dos principais desafios é mudar a idéia de
que defender os direitos humanos é defender bandido. "Esta
percepção, assim como os excessos cometidos por agentes policiais,
são fruto da formação brasileira e de outros países, baseada numa
estrutura social de dominador e dominado, herança da escravidão e
das estruturas econômicas", comentou.
"A violência nos presídios, os incêndios em
cadeias, as torturas de presos revelam o vínculo da autoridade
policial com estas estruturas de poder", disse o ministro. "Mas não
podemos ser intolerantes e insensíveis com denúncias. Nosso desafio
é compatibilizar direitos humanos e segurança pública", acrescentou.
O ministro abordou ainda aspectos de desrespeito a outros direitos,
como o trabalho escravo e falta de condições para portadores de
necessidades especiais.
Direitos Humanos ganham espaço com conferência
A presidente do Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh), Emely Vieira
Salazar, defendeu que a conferência seja um marco na luta pelos
direitos humanos. "È importante que os compromissos retóricos se
tornem verdadeiros e que os direitos humanos se tornem o centro das
políticas públicas", defendeu. Ela avalia que a grande participação
na conferência indica que os direitos humanos estão ganhando espaço
na sociedade e nos governos, mas ainda falta muito a ser feito.
O secretário interino de Estado de Desenvolvimento
Social, Juliano Fisicaro Borges, lembrou que a conferência tem como
objetivo congregar os vários grupos e segmentos temáticos e propor
políticas públicos estaduais e federais. Ele destacou que houve uma
evolução no Governo do Estado em relação às políticas de direitos
humanos, citando como exemplos a criação da subsecretaria de
Direitos Humanos, o desenvolvimento de políticas de combate ao
trabalho infantil e o aumento de vagas no sistema prisional. "O
elevado quórum de participação nessa conferência indica que vamos
avançar ainda mais", destacou.
Conscientização popular - O
deputado Durval Ângelo (PT) destacou que a população está se
conscientizando da importância dos direitos humanos. Ele lembrou que
há 14 anos é integrante da Comissão de Direitos Humanos e vem
acompanhando a evolução do tema na sociedade. "Quando começamos essa
luta, havia entidades ligadas aos direitos humanos em apenas 30
municípios; hoje registramos mais de 200 comissões. Da mesma forma,
também registramos um grande crescimento no número de entidades da
sociedade civil", afirmou. Para o deputado, esse crescimento da
mobilização e dos mecanismos de controle da sociedade civil funciona
como um grande apoio para os gestores públicos que querem
desenvolver um trabalho sério.
Durval Ângelo lembrou ainda que, em 2008, além de
comemorar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
outros fatos históricos importantes também devem ser destacados,
como os 160 anos do Manifesto Comunista, os 40 anos das greves
operárias de Osasco (SP) e Contagem e os 20 anos da Constituição da
República. Segundo o deputado, esses eventos são marcos históricos
da luta pelos direitos humanos. Para ele, atualmente essa luta deve
ser traduzida na luta pela vida. "O novo nome de direitos humanos é
a vida. Devemos lutar para estabelecer novas formas de convivência
entre os humanos", considerou.
Representante cobra direito de voto para os
presos
O direito de voto para os presos e o respeito aos
direitos das pessoas em privação de liberdade e suas famílias e aos
direitos de manifestação dos grupos de religiosidade de matriz
africana foram cobradas pelas representantes do Grupo de Amigos e
Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Maria Teresa dos
Santos; e da Comunidade Tradicional Terreiro de Candomblé Bakise
Bantu Kasanje/Coletivo de Entidades Negras (CEN), makota Djanganga
Kiamaza. O ministro Paulo de Tarso Vannuchi apoiou essas
reivindicações. "Há muito bandido do colarinho branco votando com a
cobertura da mídia. Por que o bandido atrás das grades não pode
fazê-lo?", questionou.
Maria Teresa dos Santos afirmou que os presos são
torturados nas cadeias pelos policiais, o que significa um
desrespeito à Constituição Federal. "O sistema prisional não
funciona porque não há boa vontade, só maldade", afirmou. De acordo
com ela, o movimento organizado dos presos e seus familiares vem
ajudando a amenizar esse sofrimento. "Juntos parece que sofremos
menos", considerou. Ela lembrou ainda que as torturas sofridas pelos
presos e seus familiares estão sendo denunciadas pelo movimento, e o
poder público sabe o que está acontecendo nas prisões.
Makota Djanganga Kiamaza denunciou a ação de grupos
fundamentalistas que estariam pregando a intolerância religiosa. De
acordo com ela, esses grupos estariam pregando que a religiosidade
de matriz africana estaria ligada a forças maléficas. Ela lembrou
que durante o período do tráfico negreiro, mais de 4 milhões de
negros foram seqüestrados da África e trazidos ao Brasil. Makota
Djanganga Kiamaza cobrou uma reparação histórica aos descendentes de
africanos. "Já são 120 anos de abolição da escravatura inacabada",
destacou.
Na abertura do evento, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos foi lida pela integrante da Comunidade Religiosa de
Matriz Africana Manzo Ngunzo Kaiano, a menina Ayana Moreira de
Assis, e pelo deficiente visual José do Carmo Marciano. Já o Hino
Nacional o foi executado pelo sanfoneiro do Instituto São Rafael,
José Carmo do Couto.
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