Redução de impostos pode conter alta no preço dos adubos

O aumento da produção nacional de adubos e fertilizantes é a solução, a longo prazo, para conter a elevação dos preço...

10/09/2008 - 00:01
 

Redução de impostos pode conter alta no preço dos adubos

O aumento da produção nacional de adubos e fertilizantes é a solução, a longo prazo, para conter a elevação dos preços desses produtos, que já chega a 59% em Minas Gerais só nos últimos 12 meses. No curto prazo, a única alternativa seria a redução dos impostos de importação, uma vez que mais de 60% dos insumos usados no Brasil para a produção desses fertilizantes são importados. Essas foram as alternativas apontadas pelos participantes da audiência pública realizada nesta quarta-feira (10/9/08) pelas comissões de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

O deputado Délio Malheiros (PV), que presidiu a reunião conjunta, disse que tem recebido muitas reclamações sobre o aumento do preço dos adubos e fertilizantes. Para ele, o motivo é a ganância pelo lucro fácil de um mercado monopolizado, dominado em 80% por três grupos econômicos, e a situação em Minas seria mais grave, por causa do peso do café e do milho em nossa pauta de exportações.

Malheiros disse que, em 2007, a Fosfértil teve um lucro líquido de R$ 444 milhões - R$ 215 milhões maior do que em 2006 -, e que isso desmente a alegação de que os preços internacionais subiram. O deputado quer uma união das Assembléias Legislativas de Minas, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul - os Estados que mais demandam insumos - para investigar e denunciar o jogo do lucro fácil das empresas de insumos.

De acordo com o assessor técnico da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Victor Soares Lopes, a necessidade de elevar a produção nacional já foi detectada pelo Ministério da Agricultura, que está sugerindo a criação de um consórcio cooperativo para extração e mistura de insumos - fora do oligopólio das três empresas multinacionais que controlam o mercado de adubos no Brasil.

Solos hoje demandam quantidades maiores de insumos

O assessor aponta a necessidade também de investimentos em pesquisas sobre adubação orgânica e sobre novas cultivares que dependam menos de adubos químicos. "Precisamos reforçar o orçamentos das empresas de pesquisa e isso passa pela Assembléia", afirmou. Para Wilson Rosa, coordenador da Emater-MG, é preciso ainda buscar a eficiência no consumo de fertilizantes. Segundo ele, houve um tempo em que eram usados 200 a 250 quilos de adubo por hectare. Hoje são usados até 500 quilos. "Algumas soluções passam pelo manejo do solo, com plantio direto e integração da lavoura e pecuária", exemplificou.

O chefe da assessoria técnica da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Rodolfo Osório de Oliveira, salientou que a desvalorização do dólar frente ao real deveria significar a redução de preços de adubos e fertilizantes. Porém, com o aumento da demanda mundial e a concentração do mercado brasileiro na mão de poucas empresas, houve grande elevação nos preços. "Essa situação deve permanecer no médio prazo", previu. Oliveira reforçou que esse tema interessa a todos os consumidores, e não apenas aos produtores rurais. "Na classe D, por exemplo, o percentual do salário destinado a alimentos, que era de 35%, está em 50%".

O cenário no campo, de acordo com os especialistas, é de achatamento de renda, justamente no momento de aumento de demanda por alimentos - que poderia significar uma oportunidade de recuperação das margens de lucro do produtor. O representante da Faemg citou o exemplo do trigo, produto no qual o adubo tinha peso de 18% no custo de produção, e que hoje chega a 26%. Já Victor Soares Lopes, da Secretaria de Agricultura, completou que a demanda por adubos no mundo cresceu 31% entre 1996 e 2008. Nos países em desenvolvimento, porém, o índice chegou a 56% no período. "A China é um dos maiores produtores de fertilizantes e já anunciou aumento das taxas de exportação, para garantir o abastecimento interno", reforçou, prenunciando mais dificuldades.

Órgãos de fiscalização do governo precisam esclarecer preços

Egnaldo Amaral, pesquisador da Epamig, afirmou que o Brasil é a maior potência agrícola tropical, e detém e exporta tecnologia. Ele acredita que a agricultura nacional pode crescer muito sem aumentar a área plantada e sem danos significativos ao meio ambiente. "O momento é favorável para recuperação de renda, mas sobrevém esse aumento disparatado dos insumos. Os órgãos de controle do governo precisam esclarecer a situação e trazer ao conhecimento público se são questões de mercado ou algum processo espúrio", disse ele.

Rodolfo Osório de Oliveira, assessor técnico da Faemg, fez críticas à legislação ambiental, que ele considera equivocada e prejudicial ao agronegócio. "Jazidas de fertilizantes foram descobertas na Amazônia, mas ninguém pode explorá-las. Em Minas, onde a cafeicultura é tradicional de encosta, a maioria dos cafezais está contra a legislação ambiental", afirmou.

O deputado Vanderlei Jangrossi (PP) relatou aos participantes os resultados de sua viagem a Maria da Fé, para conhecer o plantio de azeitonas numa fazenda experimental da Epamig, e a Teófilo Otoni, para o lançamento do Plano Safra Mais Alimentos, que dispõe de R$ 13 bilhões para subsidiar a agricultura familiar.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor; e Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da Comissão de Política Agropecuária. Também participou da reunião o gerente de Defesa Sanitária Vegetal do IMA, Natanael Diniz Nogueira.

 

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