Lei Seca tem fragilidades que podem anular
punições
A Lei federal 11.705, aprovada em 2008, apelidada
de Lei Seca por impor penalidades severas por embriaguez ao volante,
tem obtido resultados expressivos de redução de acidentes e mortes
no trânsito nesses dois meses de sua vigência, mas tem fragilidades
jurídicas e sofre críticas de diversos setores porque não foi
precedida de ampla consulta aos especialistas. Essas revelações
foram feitas durante audiência pública da Comissão de Segurança
Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na
tarde desta terça-feira (19/8/08), a requerimento da deputada Ana
Maria Resende (PSDB).
A deputada justificou seu requerimento pela
necessidade de avaliar o andamento da aplicação da lei, se está
correta ou se necessita de ajustes. Segundo ela, "a sociedade
precisa mudar comportamentos e valores, e isso se faz através de um
trabalho de base nas escolas, voltado para evitar o consumo de
álcool ao volante".
Concordou com ela o major Adirson Barbosa do Prado,
diretor de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar, para quem a
lei tem imperfeições. A pior delas seria a falta de tempo para
entrar em vigor, muito rápida para uma lei que altera os códigos
Penal, de Trânsito, e a legislação de publicidade de bebidas. "O
Código de Trânsito, quando foi implantado, também teve um efeito
imediato de redução de acidentes, mas algum tempo depois, a curva
voltou a subir", exemplificou.
Márcio Lobato Rodrigues, coordenador de Operações
Policiais do Detran, afirmou que o grande mérito da lei foi trazer à
discussão nacional a embriaguez ao volante, mas desperta polêmica
porque talvez contenha vícios de inconstitucionalidade. Segundo ele,
dirigir embriagado sempre foi crime, e no ano passado o Detran
encaminhou à Justiça 1,5 mil inquéritos de motoristas apanhados
alcoolizados, 90% dos quais conduzidos pela PM.
Lobato Rodrigues lamenta que a Lei Seca tenha sido
aprovada a toque de caixa, sem ouvir especialistas e autoridades de
todo o País. Para ele, o artigo 306 é um "tiro no pé", ao
estabelecer que a concentração de álcool por litro de sangue seja de
até 6 decigramas. "Sem etilômetro e sem exame de sangue, não é
possível comprovar a materialidade da embriaguez, e a lei ficará
restrita aos grandes centros. Nas cidades menores, esses motoristas
continuarão impunes", advertiu.
Acidentes com motocicletas aumentaram 39% em um
ano
Vários dados sobre acidentes em Minas foram
fornecidos pelo coronel BM Cláudio Vinício Serra Teixeira,
comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar. Em 2006, foram
registrados em Minas 6.482 acidentes com 87.533 vítimas, sendo 2.254
fatais. Em 2007, o aumento foi de 28%. Essas estatísticas não
incluem motociclistas, que sofreram 10.311 acidentes em 2006, sendo
que esse número subiu 39% em 2007.
O coronel Teixeira condenou a sensação de
impunidade que persiste na sociedade para os crimes de trânsito, e
elogia a tramitação do Projeto de Lei Federal 613, do senador
Cristovam Buarque, que aumenta para até 12 anos a pena de reclusão
para quem mata com veículo. Levanta também uma incoerência da Lei
Seca, ao estabelecer penalidades duras para motoristas alcoolizados,
mas deixar restrições mais brandas para aqueles apanhados após
consumir drogas proibidas. O militar mencionou também o uso de
estimulantes por parte dos motoristas de caminhões de carga, para
suportar jornadas exaustivas ao volante. Para ele, campanhas
educativas tinham que usar imagens mais chocantes, de acidentes
verdadeiros, como se faz na Europa. Márcio Lobato apoiou a
idéia.
O deputado Délio Malheiros (PV) disse que a mídia
apresenta dados distorcidos e não informa verdadeiramente. Segundo
ele, o número de acidentes vem caindo paulatinamente ano após ano,
em termos proporcionais. "Em termos absolutos, os números aumentam,
como aumentam os da frota e dos motoristas, mas a fatalidade dos
acidentes, que era de 40 por 10.000 na década de 70, hoje é de 15
por 10.000. Nos países desenvolvidos, o número aceitável é de 10 por
10.000. Isso acontece porque os carros são mais seguros. Deveríamos
criar estímulos para renovação da frota, com redução de IPVA e
seguro para carros com freios ABS e air-bags", propôs.
Deputado quer redução de IPVA para veículos mais
seguros
Délio Malheiros defende também que as motocicletas
que não se envolvessem em acidentes no ano, teriam isenção no
próximo IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores).
Para ele, o custo de tratamento de um motociclista acidentado, para
o Estado, é muito maior do que o valor arrecadado com IPVA. O
coronel Teixeira acrescentou que os carros são mais seguros, mas as
estradas ainda são antiquadas, e que o Brasil gasta anualmente 10%
do Produto Interno Bruto com indenizações e tratamento de vítimas de
acidentes de trânsito.
Malheiros criticou também a discrepância entre a
alta arrecadação do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados
por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e a aplicação
irrisória dos recursos previstos para campanhas educativas.
O presidente da comissão, deputado Sargento
Rodrigues (PDT), fez um apelo ao presidente da ALMG para colocar em
pauta de votação um projeto de lei do deputado Alencar da Silveira
Jr. proibindo definitivamente a venda de bebidas alcoólicas dentro
dos estádios, pelo grande efeito de redução da violência durante os
jogos de futebol. Rodrigues considerou também erro gravíssimo do
legislador a transferência da competência de multas de trânsito para
os municípios. "Apenas 4% dos municípios mineiros têm condições de
montar um sistema de fiscalização de trânsito, e mesmo assim ficam
sujeitos ao interesse político do prefeito. A Polícia Militar sempre
teve melhor estrutura e maior poder coercitivo para disciplinar o
trânsito", assegurou.
Requerimentos - A comissão
aprovou cinco requerimentos apresentados pelo deputado Sargento
Rodrigues. Nos três primeiros, o parlamentar apresenta votos de
congratulações com forças policiais por apreensões de drogas. Ele
pede também o envio à Polícia Militar de elogio aos policiais que
apreenderam 500 kg de maconha e 6 kg de haxixe em Juiz de Fora.
Solicita também elogio a equipe da Polícia Civil que realizou
operação de apreensão de 200 kg de maconha numa fazenda em
Uberlândia. À Polícia Federal, Rodrigues solicita cumprimento aos
agentes que prenderam na entrada de Belo Horizonte um carro que
vinha de Rondônia com 30 kg de cocaína pura que vinha da Venezuela e
se destinava à Holanda.
No quarto requerimento, Sargento Rodrigues pede
providências sobre seu requerimento 1.897/08, em que denunciava
graves ameaças à vida de Felisberto Carneiro da Silva, preso da
penitenciária de Muriaé, e solicita informações sobre a
transferência. No último, pede ao governador, ao vice-governador, às
Secretarias de Estado de Planejamento e Gestão e de Defesa Social,
providências para a inclusão dos prestadores de serviços contratados
temporariamente como agentes de segurança penitenciária e agentes de
segurança sócio-educativa, no rol de benefícios do Prêmio por
Produtividade instituído pela Lei 17.600.
Presenças - Deputados
Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Délio Malheiros (PV), Getúlio
Neiva (PMDB), Carlos Pimenta (PDT) e a deputada Ana Maria Resende
(PSDB).
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