Deputados pedem apoio às reivindicações dos indígenas de Roraima

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou uma reunião, nesta segunda-feira (1...

18/08/2008 - 00:01
 

Deputados pedem apoio às reivindicações dos indígenas de Roraima

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou uma reunião, nesta segunda-feira (18/8/08), em solidariedade aos povos indígenas que habitam a reserva Raposa Serra do Sol, homologada em 2005 pelo Governo Federal. O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT) convocou a todos que se preocupam com a causa indígena que enviem e-mails aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que no dia 27 de agosto deverá julgar petição que contesta a demarcação em área contínua da reserva.

A demarcação foi homologada pelo Governo Federal em 2005, o que deveria garantir a integridade da reserva de forma definitiva. A petição apresentada no STF favorece grandes produtores de arroz instalados na reserva, que reivindicam sua fragmentação em áreas descontínuas, de forma a permitir a regularização das propriedades agrícolas. O conflito já provocou episódios violentos na região, entre os quais um ataque de homens armados e encapuzados contra um grupo de índios que montavam um acampamento, em 5 de abril. Agredidos com bombas e armas de fogo, diversos índios foram feridos, entre os quais alguns adolescentes. Imagens do episódio foram exibidas na reunião da Comissão de Direitos Humanos.

A reserva Raposa Serra do Sol tem uma extensão de 1,74 milhão de hectares, que representam 7,7% do território de Roraima. Vivem ali 19 mil indígenas, em 194 comunidades de cinco povos diferentes: macuxis, tauperang, patamona, ingaricó e wapichana.

Índios registram história de violência

Líder da tribo Macuxi, Djacir Melquior da Silva foi um dos convidados da Comissão de Direitos Humanos. Ele resumiu uma história de 30 anos de lutas dos povos da reserva Raposa Serra do Sol. Desde 1977, segundo Melquior, foram 21 homicídios contra os indígenas, 46 tentativas de homicídio, 86 ameaças de morte, 33 prisões ilegais, 10 estupros e 90 casas destruídas. A última ocorrência de maior gravidade foi em 5 de maio, quando dez indígenas foram baleados. "Ninguém foi preso", se queixou Melquior, que presenciou o ataque.

O procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda Teixeira, coordenador do CAO-Conflitos Agrários, assim como outros participantes da reunião na Assembléia, criticou a proposta de fragmentação das terras indígenas. "A demarcação destas terras é uma tentativa de resgatar um débito que jamais será pago", afirmou Teixeira. Ele acrescentou que a área demarcada, segundo a Constituição da República, deve refletir os usos, costumes e tradições dos povos envolvidos e não interessa se existem posseiros na região, mesmo que estejam ali há muitos anos.

O coordenador da Regional Leste do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antônio Eduardo Serqueira de Oliveira, enfatizou que a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol cumpriu todas as etapas e requisitos legais. Ele criticou o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim, por sua atuação quando ocupou o Ministério da Justiça. Oliveira afirmou que um decreto proposto por Jobim favoreceu a contestação de terras indígenas já demarcadas, dando início a um processo perverso que ameaça todos as comunidades do País. "Como advogado, o ministro defendeu os interesses da Aracruz Celulose contra os tupiniquim, no Espírito Santo, entre outros casos", afirmou o coordenador do Cimi.

O deputado Durval Ângelo também criticou as manobras jurídicas contra demarcações. "Um recuo que aconteça agora no STF coloca em riso todas as terras indígenas no País. Peço um grito de solidariedade e de apoio de Minas Gerais à preservação da reserva Raposa Serra do Sol", afirmou.

Minas Gerais também agride seus índios

Antônio Oliveira e Durval Ângelo também comentaram a violência contra indígenas de Minas Gerais, em especial o caso dos Xakriabás de Itacarambi e São João das Missões (Norte de Minas). São 5 mil índios que ocupam uma reserva de 54 mil hectares. De acordo com o Cimi, desde 2007, aconteceram três assassinatos de índios xakriabás, resultantes da disputa com pecuaristas da região. "O último assassinato aconteceu em 10 de agosto de 2008, há poucos dias. Há uma grande omissão da Polícia Federal, a quem cabe a defesa dos povos indígenas", afirmou Antônio Oliveira. Durval Ângelo afirmou que os assassinatos, também em Minas Gerais, são frutos das imprecisões nas demarcações de terras.

Antônio Oliveira também cobrou a regulamentação do Estatuto dos Povos Indígenas, proposta que tramita há 20 anos no Congresso Nacional. "Hoje, todas as políticas voltadas para os povos indígenas são administradas por meio de decretos, seja nas áreas de saúde, educação ou a própria demarcação de terras", afirmou o dirigente do Cimi. Para ele, isso fragiliza os direitos dos povos indígenas e não pode continuar.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão; e Antônio Carlos Arantes (PSC); além das autoridades citadas no texto.

 

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