Direitos Humanos recebe queixas contra INSS em Pouso Alegre

Contribuintes do INSS na região de Pouso Alegre, Sul de Minas, estão recorrendo à Justiça para reverter o resultado d...

10/07/2008 - 00:01
 

Direitos Humanos recebe queixas contra INSS em Pouso Alegre

Contribuintes do INSS na região de Pouso Alegre, Sul de Minas, estão recorrendo à Justiça para reverter o resultado de perícias médicas consideradas excessivamente rigorosas. Na Justiça Federal da cidade, tramitam cerca de 8 mil processos contra o instituto, e em quase 60% dos casos, a decisão tem sido reformada. Por outro lado, 70% dos pedidos de auxílio em Pouso Alegre são atendidos. Os dados foram apresentados à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, durante audiência pública realizada no município, nesta quinta-feira (10/7/08). O encontro reuniu representantes do INSS, segurados, advogados e outros especialistas, que fizeram um debate esclarecedor.

De acordo com o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), autor do requerimento para a audiência, várias são as queixas de contribuintes que não conseguem auxílio ou aposentadoria no INSS e que são penalizados também pela demora no atendimento. Embora o assunto seja de competência da Câmara dos Deputados, o parlamentar afirmou que a ALMG pode sugerir à bancada mineira e à comissão temática da Câmara ações ou alterações na legislação. "As pessoas aguardam dos agentes políticos essa solução ou esse encaminhamento", frisou.

O diretor da Justiça Federal em Pouso Alegre, Robson Pereira Pequeno, salientou que o grande número de processos contra o INSS acarreta despesas elevadas e também um trabalho desumano. Segundo ele, em 20% dos casos, o Judiciário tem que fazer uma nova perícia, ao custo unitário de R$ 234,00. "O Judiciário está atento, mas estamos tentando ampliar nosso orçamento e trazer outra vara para a região", afirmou. Outras críticas que surgiram durante o encontro são quanto à falta de justificativa para alta de pacientes; mau atendimento e intimidações; e até a existência de "atravessadores" que atuam no INSS e que acabam por prejudicar os contribuintes.

O delegado do Conselho Regional de Medicina em Pouso Alegre, José Carlos Corrêa, lembrou que o problema tem vários lados, entre eles o assassinato de peritos do INSS, o baixo valor de aposentadorias, a existência de quadrilhas que assaltam a previdência, a existência de pacientes que simulam doenças, entre outros. Ele lembrou que os médicos estão sujeitos a regras e que não há nenhum prazer sádico em se negar uma aposentadoria ou benefício.

INSS relaciona rigor ao maior profissionalismo de peritos

De acordo com o perito Célio Fernando Ferreira, da Gerência de Benefícios do INSS em Poços de Caldas, por muitos anos as perícias foram feitas por médicos assistentes contratados, sem o treinamento específico. Isso teria levado à concessão de benefícios em larga escala. Há cerca de quatro anos, segundo ele, foi realizado concurso para perito e ocorreu uma grande incidência de altas médicas. "Os peritos têm elementos clínicos para identificar uma hiper-valorização de sintomas, simulações etc.", frisou.

Como exemplo, Ferreira citou que uma atrofia da mão pode dar a aposentadoria a um médico cirurgião, mas não garante o benefício a um médico psiquiatra. "Situações como essa causam estranheza em pacientes e advogados, mas o conceito é dar o benefício a quem é incapaz de exercer a profissão", frisou. Por outro lado, o perito admitiu a ocorrência de equívocos, que podem ser revistos durante recursos, e também impedimentos administrativos, como a existência de carência para certas doenças. Os representantes do INSS informaram ainda os contatos da ouvidoria do órgão, para que o cidadão possa formalizar queixas sobre mau atendimento.

Durante os debates, vários contribuintes expuseram as dificuldades encontradas para o acesso ao benefício previdenciário. Em muitos casos, o trabalhador não pode trabalhar, porque o médico da empresa o considera inapto. Mas também não pode aposentar, porque a perícia do INSS o considera apto ao trabalho. Como conseqüência, o trabalhador fica sem salários. É o caso da professora Jucilene Boazi, que diz ter cinco hérnias na coluna, além de doenças ocupacionais. Desde 1999, ela intercala períodos de afastamento e de retorno ao trabalho, sem conseguir se aposentar. "Fiz curso de música, para fugir da depressão. E os peritos apresentaram o convite de uma apresentação que fiz como prova de que tenho uma segunda profissão", contou.

O líder comunitário Carlos Barreto, com câncer e problemas na coluna, contou que tem que se submeter a um procedimento médico a cada três meses, em São Paulo, mas consegue apenas o afastamento temporário no INSS. A Associação dos Aposentados e Pensionistas de Pouso Alegre e Região (Asapar) se comprometeu a encaminhar para a comissão os nomes de todos os contribuintes em demandas com o INSS. O deputado Dalmo Ribeiro Silva anunciou ainda que apresentará requerimentos interpelando o INSS sobre as perícias.

Também o deputado João Leite (PSDB) analisou que direitos fundamentais foram explicitados na audiência, com participação popular. Segundo ele, cada caso é importante para a ALMG, que poderá provocar a Comissão de Seguridade na Câmara dos Deputados. "É papel do Legislativo a interlocução, a proximidade com o povo", salientou, lembrando que o tema das perícias médicas também já foi discutido em outra audiência da comissão.

Presenças - Deputados João Leite e Dalmo Ribeiro Silva, ambos do PSDB. Além das autoridades citadas, compuseram a mesa o prefeito de Pouso Alegre, Jair Siqueira; os vereadores do município Walter Modesto e Rafael Prado; a prefeita de Ijaci, Maria Horaci de Oliveira; o presidente da Asapar, Freitas Nobre; os advogados Rodrigo Otávio de Oliveira Modesto e Síntia Barbosa Duarte; o professor de Direito Previdenciário da Faculdade de Direito do Sul de Minas, Amauri Ludovico dos Santos; o coordenador regional da Seplag em Pouso Alegre, João Romão Lima; o presidente da OAB em Pouso Alegre, Carlos Muniz; e as funcionárias do INSS em Pouso Alegre Silvana Viviani de Campos e Nilza Maria Barbosa Cruz.

 

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