Descaracterização preocupa feirantes da Afonso
Pena
A necessidade de se encontrar uma solução para o
comércio de produtos industrializados na Feira de Arte e Artesanato
da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, reuniu representantes dos
expositores, da prefeitura, do Ministério Público e do Procon-BH em
audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do
Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta
quinta-feira (10/7/08). A reunião foi solicitada pelo deputado Dinis
Pinheiro (PSDB), que está preocupado com a descaracterização da
feira. "A feira faz parte da história da cidade desde 1969, e é um
patrimônio dos mineiros", afirmou. No mesmo sentido, o deputado
Délio Malheiros (PV) defendeu a preservação da identidade da feira
para que ela não se transforme em uma feira de "quinquilharias",
como aconteceu com outras famosas pelo mundo afora.
O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor,
Amauri Artimos da Matta, alertou que a venda de produtos
industrializados na feira de artesanato é considerada propaganda
enganosa pelo Código de Defesa do Consumidor. Ele garantiu que o
Ministério Público buscará alternativas com todos os setores
envolvidos com a organização da feira, e que uma reunião deve ser
agendada para a próxima semana. "O Ministério Público não vai
permitir o descumprimento do regulamento da prefeitura nem esse
desestímulo aos artistas mineiros", afirmou.
A rotina de fiscalização das atividades dos
feirantes foi explicada pelo gerente regional de Regulação Urbana
Centro-Sul, William Rodrigues Nogueira. Segundo dele, todos os
domingos os fiscais percorrem a feira. Eles também vistoriam os
locais de produção dos feirantes para verificar a habilidade dos
artesãos para produzir aquilo que vendem. William Nogueira
acrescentou que, quando é necessário, é feito um relatório para ser
enviado à Gerência de Feiras para dar início ao processo de cassação
do cadastro do feirante.
Fiscais têm dificuldade em identificar produtos
industrializados
Para a coordenadora do Procon Belo Horizonte, Stael
Riani, a dificuldade de diferenciar os produtos artesanais dos
manufaturados acaba sendo um problema para a fiscalização dos
feirantes. Como freqüentadora da feira, ela acredita que hoje não há
mais exclusividade dos produtos, o que era um diferencial da feira.
"Infelizmente o consumidor vem priorizando o preço em detrimento da
qualidade", lamentou. Stael acrescentou que a aquisição de produtos
de origem irregular, os chineses, por exemplo, é arriscada para o
consumidor. "Até a troca em caso de defeito é mais complicada",
explicou. Ela defendeu que os expositores ajudem a prefeitura a
definir critérios de identificação do que não é artesanato.
O presidente da Federação Mineira de Expositores
das Feiras de Arte, Artesanto e Manufaturados, Apolo Costa, deu os
conceitos de artesanato, respondendo a questionamentos do promotor
Amauri. De acordo com ele, existem os produtos 100% artesanais, que
são feitos manualmente a partir de material bruto. O artesanato
semi-elaborado deve ter, no mínimo, 60% de trabalho manual. Já os
produtos industrializados são aqueles feitos em larga escala com
utilização predominante de máquinas. Segundo ele, há ainda o
atravessador, que apenas pega o produto pronto e revende.
Comissão técnica - Apolo
Costa disse que a verificação de procedência é simples, mas sugeriu
a criação de uma comissão técnica para avaliar o artesanato. Ele
acrescentou que os produtos industrializados estão presentes,
sobretudo, nas barracas de bijuterias, bolsas, tapeçaria e
vestuário. O coordenador da Associação de Expositores da Feira de
Arte e Artesanato (Asseap), Alan Vinícius Jorge, pediu cautela na
apuração das denúncias. Ele alegou que a imprensa noticiou, por
exemplo, que havia 300 barracas vendendo bolsas chinesas na feira,
enquanto só há 180 expositores desse artigo.
O representante dos expositores disse que uma
pesquisa realizada pela Belotur indicou que 92% dos belorizontinos
acham a feira o maior evento de Belo Horizonte. Outra pesquisa
apontou que a feira gera 11 mil empregos diretos. "Se não houvesse
produção, não seriam gerados todos esses empregos", ponderou. A
feira tem um faturamento mensal de R$ 1,5 milhão, em média. Alan
Jorge fez críticas à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), dizendo que
os 2.374 feirantes arrecadam R$ 60 mil em taxas e não entra nem um
centavo do poder público na feira.
A defesa da PBH foi feita pelo gerente da Regional
Centro-Sul. William Rodrigues Nogueira disse que o custo mensal da
feira para a prefeitura é de R$ 110 mil. Ele acrescentou que
participam da organização do evento, semanalmente, Polícias Militar
e Civil, Gerências de Feiras e de Fiscalização da Regional
Centro-Sul, BHTrans, SLU, Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária e
setor de Comunicação Social (Rádio Feira).
O presidente da Associação Casa do Artesão, Warney
Humberto Pereira Gomes, acredita que o aluguel de barracas para
terceiros é o maior problema da feira. "Os locatários não têm
compromisso com a feira", afirmou. Ele também disse que o nome da
feira foi modificado para Feira de Artesanato e Variedades, o que
abriria espaço para distorções. O advogado da Associação dos
Montadores e Guardadores de Barraca da Feira de Arte e Artesanato da
Avenida Afonso Pena, Lincoln da Silva Amaral, disse que o problema é
que "algumas entidades ficam passando a mão na cabeça do expositor".
Ele afirmou ainda que as denúncias não são infundadas e são feitas
em defesa do consumidor e dos verdadeiros artesãos.
Presenças - Deputados Délio
Malheiros (PV), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Célio
Moreira (PSDB) e Dinis Pinheiro (PSDB). Além dos convidados citados
na matéria, participaram da reunião o comandante da 4ª Companhia
Especial do 1° Batalhão da PM, major Luiz José Francisco Filho; e o
presidente da Associação de Expositores da Feira de Arte e
Artesanato da Avenida Afonso Pena, Odilon Higino de Carvalho
Morgado.
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