Debate sobre PAC Criança lota o Plenário da Assembléia

As ações socioeducativas do PAC Criança, programa do Governo Federal voltado para crianças e adolescentes, têm como e...

04/07/2008 - 00:01
 

Debate sobre PAC Criança lota o Plenário da Assembléia

As ações socioeducativas do PAC Criança, programa do Governo Federal voltado para crianças e adolescentes, têm como eixo a parceria com governos estaduais e municipais. Lançado no ano passado, o programa conta com R$ 2,9 bilhões para investimentos em construção de unidades de internação, criação de um cadastro nacional de crianças para adoção e mais uma dezena de projetos. Em Minas Gerais, uma das principais atividades é o Reciclando Oportunidades, que objetiva retirar crianças que vivem dos lixões. As informações são do Debate Público "PAC Criança - Programa Social Criança e Adolescente e Conselhos Tutelares", promovido pela Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta sexta-feira (4/7/08).

O debate foi solicitado pelos deputados André Quintão (PT) e Carlin Moura (PCdoB), presidente e vice, respectivamente, da Comissão de Participação Popular. Realizado no Plenário, contou com a participação de movimentos de assistência social, conselheiros tutelares e ONGs. A apresentação do PAC Criança foi feita pela secretária executiva adjunta do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosilene Cristina Rocha., que usou dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2006.

O PAC Criança tem como eixos: o combate à violência institucional, com dois projetos, o "Caminho para casa" - que tem R$ 7 milhões previstos no Orçamento de 2008 -, e o Pró-Sinase"; o atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência, com o projeto "Quem ama protege"; gestão de agenda social, com a criação do "Observatório Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes". Todas essas ações visam reintegrar crianças às suas famílias, instituir o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, induzir a articulação das políticas públicas em território de grave vulnerabilidade e a expansão da rede de creches e pré-escolas. E o observatório consiste em um instrumento de monitoramento da agenda social, que inclui a constituição de um comitê gestor interministerial.

Minas Gerais é um dos principais beneficiários

Em Minas, as ações do PAC Criança estão sob responsabilidade da Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, que além das ações em parceria com o Governo Federal, prioriza os projetos Promover e Reciclando Oportunidades. Segundo a coordenadora, Fernanda Flaviana de Souza Martins, o primeiro destina-se às atividades de prevenção de violência sexual contra crianças e adolescentes e começa a ser implantado em seis municípios, começando pelo Vale do Jequitinhonha. A base do projeto é a inserção de adolescentes no mercado de trabalho formal, para diminuir a exploração sexual ao longo das estradas dessa região.

E o projeto Reciclando Oportunidades visa atender crianças e adolescentes que vivem dos lixões, tanto dos restos de alimentos recolhidos como de roupas e objetos que são vendidos. O projeto faz o acompanhamento das famílias e inclui as crianças no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS). Fernanda Souza informou que há interesse da União Européia em financiar o projeto no próximo ano, que começou em cidades da Bacia do Rio São Francisco.

Fernanda Martins destacou a parceria da Assembléia Legislativa com a Coordenadoria de Política Pró-Criança. "A Comissão de Participação Popular garantiu emendas ao Orçamento", informou a coordenadora.

Segundo o MDS, em Minas foram aplicados até março deste ano R$ 2 milhões no Peti e R$ 1,4 milhão no Agente Jovem. Para este ano está prevista a expansão dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) em 76 municípios, com recursos da ordem de R$ 4,4 milhões previsão de 206 mil famílias atendidas. E ainda a expansão dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), com o atendimento de mais 22 municípios, com R$ 793 mil por ano.

Diagnóstico - Números da Pnad indicam que há 50 milhões de crianças e adolescentes no Brasil; 90% das crianças brasileiras com até 3 anos não freqüentam creches; 932 municípios foram identificados como territórios de exploração sexual; 5,1 milhões de crianças trabalham e estimativa de 120 mil crianças e adolescentes abrigados, sendo 24% por motivo de pobreza. Mais de 57 mil adolescentes entre 10 e 19 anos foram assassinados entre 1998 e 2004; estima-se em 60 mil o número de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, com 15 mil na internação e 45 mil em meio aberto.

Deputados destacam conquistas para crianças e adolescentes

Para os deputados André Quintão e Carlin Moura, apesar da situação precária de crianças e adolescentes no País, muito se avançou com o Estatuto da Criança e do Adolescente. "Há o que se comemorar nesses 18 anos do Estatuto, como a queda na mortalidade infantil, a universalização do acesso ao ensino infantil e o envolvimento da sociedade civil na questão da violência sexual", comentou André Quintão. Para ele, há que se lutar ainda nas áreas do trabalho infantil, das dificuldades do primeiro emprego e da cooptação de jovens pelo narcotráfico.

Carlin Moura enfatizou a necessidade de que as políticas públicas enfoquem mais proteção e menos punição à criança e ao adolescente. Para ele, é preciso cada vez mais implantar as políticas públicas preconizadas e alguns dos principais instrumentos são os conselhos tutelares. "Muitas cidades não têm os conselhos, ou se os têm, eles são totalmente desestruturados". Para ele, é preciso convencer os administradores municipais de que é preciso um conselho tutelar atuante.

A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca), Regina Helena Cunha Mendes, apresentou dados de uma pesquisa realizada em 2006 pelo Instituto Telemig Celular para apontar as principais necessidades dos conselhos tutelares. Dos 785 conselhos localizados em 776 municípios do Estado, 385 responderam à pesquisa.

Os conselhos tutelares apresentaram bom desempenho na maior parte dos itens avaliados. As principais necessidades que a pesquisa aponta são, conforme destacou a presidente do Cedca, a formação continuada dos conselheiros, por meio da Escola de Conselhos; infra-estrutura adequada para o atendimento; equipe de apoio para trabalhar a comunicação e a interação com a comunidade; melhoria do atendimento nos finais de semana; e melhores condições de trabalho, com a garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários, por exemplo.

Regina Mendes enfatizou ainda que os conselhos tutelares são órgãos permanentes e autônomos. "Os conselhos não são subordinados a outros órgãos, e sim vinculados administrativamente", afirmou. Ela também informou que os conselhos tutelares surgiram com o fim da ditadura. "Os conselhos surgiram em um momento de mudança de paradigma, em que vários atores foram incluídos na construção de políticas públicas", concluiu.

Representante de conselheiros defende debate sobre condições de trabalho

O secretário-geral da Associação dos Conselheiros Tutelares de Minas Gerais e coordenador do Fórum dos Conselheiros Tutelares de Belo Horizonte, Davidson Luiz do Nascimento, disse que o PAC Criança é um avanço, embora os conselhos tutelares apareçam timidamente nas metas, frente ao papel que desempenham no Brasil. Ele informou que a associação está fazendo um diagnóstico da situação dos conselheiros com o intuito de apresentar um relatório com propostas concretas para melhorar o trabalho dos conselhos tutelares. "O debate sobre as condições de trabalho, as questões salariais e de saúde dos conselheiros deve ser feita paralelamente à defesa dos direitos da criança e do adolescente", ponderou.

Davidson Nascimento afirmou que as principais propostas dos conselheiros de Minas Gerais são piso salarial digno e unificação das eleições para compor os conselhos tutelares. Ele ainda acrescentou que duas propostas do PAC Criança, especialmente, os atendem - a criação da Escola de Conselhos e o Observatório Criança e Adolescente. De acordo com o representante dos conselheiros, a escola deveria ser ligada à universidade e sistematizar o atendimento dos conselhos, garantir a produção de conhecimento e a troca de experiências. Já o observatório servirá, segundo ele, para monitorar o atendimento à criança e ao adolescente, integrando as diversas ações voltadas para eles. Ele ainda propôs a criação de um grupo de trabalho para estudar propostas para essas duas ações do PAC.

Debates - Na fase de debates, os expositores e os deputados esclareceram dúvidas dos participantes sobre procedimentos, casos específicos e a legislação que dá suporte ao trabalho dos conselhos tutelares. No encerramento, o deputado André Quintão disse que a Assembléia está cumprindo sua obrigação de promover discussões, elaborar políticas públicas e intervir no orçamento estadual. Enfatizou que as ações do Legislativo para beneficiar a criança e o adolescente, além de uma obrigação, configuram "desafio ético e civilizatório". Ele também convocou os conselheiros a participarem das audiências de revisão do PPAG para que os recursos direcionados para os conselhos este ano (R$ 700 milhões) possam ser ampliados no próximo exercício.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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