Reunião discute situação e melhorias para o transporte escolar

A má situação do transporte escolar em inúmeros municípios mineiros, denunciada pela imprensa da Capital, motivou uma...

03/07/2008 - 00:01
 

Reunião discute situação e melhorias para o transporte escolar

A má situação do transporte escolar em inúmeros municípios mineiros, denunciada pela imprensa da Capital, motivou uma reunião conjunta das Comissões de Participação Popular, de Transporte, Comunicação e Obras Públicas e de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais na tarde desta quinta-feira (3/7/08), a requerimento dos deputados André Quintão (PT) e Carlin Moura (PCdoB).

Na abertura, Quintão afirmou que vem recebendo demandas de diversos municípios e de vereadores, e do próprio Ministério Público, pedindo uma discussão sobre a situação do transporte escolar em Minas. Segundo ele, uma das razões para a existência do trabalho infantil rural é exatamente a dificuldade de acesso dos jovens à escola. "Muitos deles passam mais horas no transporte do que na sala de aula", afirmou. Como isso, costumam chegar à escola já fatigados, o que dificulta um processo adequado de aprendizagem.

Carlin Moura, por sua vez, lembrou uma audiência pública da qual participou em Patrocínio, na qual constatou a precariedade dos veículos, como um desestímulo para as crianças permanecerem na escola. "Quase tudo recai nas costas dos municípios, exigindo-lhes sacrifícios às vezes acima de sua capacidade", disse o parlamentar. Por outro lado, Moura elogiou a criação, pelo Congresso Nacional, do piso salarial de R$ 950 para os professores, como incentivo à profissão.

O primeiro caso a ser exposto foi o de Fruta de Leite, no Norte do Estado. O vereador Aeldivan Pedro da Fonseca revelou que, desde 1997, quando o município foi emancipado, os alunos sofrem com o transporte escolar. Segundo ele, os ônibus são tão decadentes que chegam a soltar as rodas. As crianças acordam de madrugada e só regressam no meio da tarde, são transportadas de caminhão em meio à poeira e à lama. Aeldivan atribuiu as expectativas frustradas da comunidade escolar ao coronelismo que ainda impera na região.

Transporte escolar não é suplementar, mas fundamental

Legislação que discipline os direitos de acessibilidade dos estudantes à escola é o que não falta, segundo a promotora de Justiça da Infância e da Juventude Cláudia Oliveira, que citou inúmeros diplomas legais que asseguram esses direitos, inclusive o Estatuto da Criança e do Adolescente e a própria Constituição Federal. Para ela, o transporte não é parcela suplementar do acesso à educação, mas fundamental, como a merenda escolar e os livros didáticos.

Cláudia Oliveira disse que 4 milhões de alunos utilizam o transporte escolar em Minas, e a frota de veículos tem em média 16 anos. Citou um estudo da UnB segundo o qual muitos alunos vão à escola em ônibus sem vidros e sem poltronas, de camionetas, caminhões, motos, charretes e até montados a cavalo, e são corriqueiros os acidentes fatais causados pela deficiência de manutenção dos veículos. Para ela, a questão principal não é a falta de dinheiro no orçamento, mas as disputas políticas locais que impedem que os alunos da rede estadual entrem nos ônibus municipais.

O ponto de vista dos prefeitos foi trazido pelo coordenador de Transportes da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Isaías Tadeu Alves de Macedo. Segundo ele, cada município tem realidades distintas que não se encaixam nas exigências da legislação, como a proibição do uso de veículos para outras atividades, como transportar equipes de futebol e servir a batizados e casamentos. "Isto está impregnado na cultura das pessoas do interior, e o não atendimento acarreta ônus político para o prefeito. O ideal é que dentro da realidade municipal os estudantes recebam o melhor transporte possível", ponderou.

'Transporte escolar incentiva êxodo rural', afirma dirigente

Também os investimentos estaduais no transporte escolar, embora não estejam nos níveis ideais, são crescentes, pelas informações prestadas pelo subsecretário Gilberto José Resende dos Santos, da Secretaria de Estado de Educação. Respondendo ao questionamento do deputado João Leite (PSDB), ele disse que em 2003 os repasses para custeio do serviço foram de R$ 33 milhões e beneficiaram 723 municípios. Agora atingiram R$ 60 milhões e 843 municípios, com suplemento de R$ 18 milhões pela União. "É totalmente impossível para o Estado montar um departamento de transporte escolar em cada um dos 853 municípios. É mais racional fazermos o repasse para que o município atenda os alunos da rede estadual, mas manter a exigência de habilitação do condutor, vistoria do veículo e controle dos gastos com combustível".

Gilberto Santos alertou ainda para a necessidade de cuidar das escolas rurais, capacitá-las e equipá-las para evitar o êxodo rural que o transporte escolar também incentiva. Esse tipo de preocupação também é compartilhado pelo deputado João Leite, que elogiou o programa de educação do governo Aécio Neves. O deputado André Quintão pediu a Gilberto Santos que faça a apuração das denúncias trazidas pela imprensa quanto à situação de Fruta de Leite. "As crianças lá são transportadas como bóias-frias, e nem podemos concordar que os bóias-frias sejam transportados assim", disse ele.

Flávio Panetone, da União Municipal dos Estudantes Secundaristas, disse que "o que mantém o estudante carente na escola são a merenda, o livro didático e o transporte escolar". Disse também que 24% dos estudantes não estão na sala de aula porque não conseguem pagar a condução. Ele disse que a luta dos estudantes urbanos é pelo passe escolar, e que recentemente uma manifestação deles em Montes Claros foi dissolvida pela Polícia Militar com violência.

Ao final da reunião, João Leite elogiou o empenho da Secretaria de Estado de Educação em relação ao transporte escolar e disse acreditar que o Governo do Estado vai dar uma resposta firme à questão levantada sobre o Norte de Minas, principalmente no que diz respeito ao transporte de alunos em caminhões em Fruta de Leite.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), que presidiu a reunião; Carlin Moura (PCdoB) e João Leite (PSDB).

 

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