Comissão de Direitos Humanos faz reunião de quase sete horas em
MOC
Dois meses depois de ocorrido, incidente envolvendo
o movimento estudantil e a Polícia Militar em Montes Claros, no
Norte de Minas, ainda gera indignação e controvérsias. Policiais
teriam usado de violência excessiva para reprimir uma manifestação
em favor do meio-passe no transporte coletivo, no prédio da
prefeitura, no dia 24 de abril. Esse foi um dos assuntos discutidos
pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais, que realizou audiências na Câmara Municipal de Montes Claros
nesta quinta-feira (26/6/08). O vice-presidente da comissão,
deputado Luiz Tadeu Leite(PMDB), prometeu encaminhar as notas
taquigráficas das reuniões, que duraram mais de seis horas, a
diversas autoridades, pedindo providências.
O major Luiz Marcos Rezende, que representou o
comando da Polícia Militar da região, disse que procedimento
administrativo já foi instaurado para apurar o ocorrido. No entanto,
ele negou que os policiais tenham iniciado as agressões. Vereadores,
estudantes e pais de alunos lotaram a Câmara, municiados de fotos e
vídeos do confronto, em que foram usadas bombas de gás lacrimogêneo,
balas de borracha e cães. O major disse que a polícia acompanhava a
manifestação dos estudantes desde o início, para garantir a ordem, e
que só empregou armamentos e cães quando os jovens começaram a
depredar equipamentos que estavam no hall de entrada da
prefeitura.
Os depoimentos prestados durante a reunião
reforçaram a versão dos estudantes de que a Polícia Militar
exagerou, criando um clima de terror e deixando várias pessoas
feridas. O vereador Athos Mameluque, que preside a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara de Montes Claros, e a vereadora Fátima
Pereira presenciaram o conflito e culparam o prefeito Athos Avelino
pelo ocorrido, uma vez que ele se negou a receber os estudantes, que
foram à prefeitura cobrar o que teria sido promessa de campanha da
atual administração.
Professores - Entre os
feridos e presos no dia da manifestação, está a diretora do
Sindicato dos Professores (Sinpro), Celina Areas, que estava na
cidade para a campanha salarial da categoria. Ela, que também é da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, disse que a
entidade já encaminhou ofício ao governador Aécio Neves pedindo
punição aos culpados pelas agressões.
O deputado Luiz Tadeu Leite pediu ao major Luiz
Marcos Rezende que cópia do inquérito administrativo seja
encaminhado à Comissão de Direitos Humanos da ALMG. Ele também
acredita que houve excesso por parte da polícia ao empregar
violência no trato com os estudantes. "Houve erro da prefeitura, que
não precisava ter chamado a polícia para aqueles jovens", declarou.
O deputado Gil Pereira (PP) parabenizou os estudantes pela luta em
favor do meio-passe. Na opinião dele, se houve excesso da PM, o
governador Aécio Neves será o primeiro a exigir apuração dos
fatos.
Estudantes apresentam projeto de iniciativa
popular
Em resposta ao ocorrido em 24 de abril, os
estudantes da cidade se organizaram e, em dois meses, conseguiram
mais de 13 mil assinaturas para apresentar um projeto de iniciativa
popular que cria o meio-passe para os estudantes. O projeto foi
protocolado na Câmara na última terça-feira (24). "Foi uma reação
fantástica desses jovens, que não ficaram apenas se lamentando e
alimentando ódio", afirmou o vereador Lipa Xavier. Ele tinha projeto
sobre o assunto tramitando na Câmara há vários anos, mas vai
retirá-lo para que seja apreciado o de iniciativa popular.
Já o vice-prefeito da cidade, Sued Botelho, afirmou
que a prefeitura ouviu estudantes e representantes da Transmontes
para elaborar a minuta de projeto de lei que pode criar o meio-passe
na cidade, e que esse também já está pronto para tramitar. A
proposta da prefeitura foi criticada pelos deputados Luiz Tadeu
Leite e Ruy Muniz. (DEM) "O que a prefeitura vai enviar é um engodo,
cheio de restrições, prestem atenção", disparou Ruy Muniz. "O
projeto que vai garantir o meio passe deve ser esse fruto da vontade
popular", defendeu Tadeu.
Sem-terras prometem novas invasões no Norte
A Polícia Militar também foi alvo de denúncias por
parte de dezenas de sem terras e quilombolas que participaram da
segunda reunião da Comissão de Direitos Humanos em Montes Claros.
Representantes do Movimento dos Sem Terra (MST), da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), da Organização pela Libertação dos Sem
Terra (OLST), do Sindicato Rural de Rio Pardo de Minas, entre outros
movimentos sociais, relataram diversos casos de conflitos envolvendo
trabalhadores rurais, fazendeiros e delegados no Norte de Minas.
Eles relembraram o incidente que ficou conhecido como "Massacre de
Felisburgo", em novembro de 2004.
O promotor Luís Carlos Martins Costa afirmou que o
Ministério Público, baseado em jurisprudência do Superior Tribunal
Federal (STF), entende que a luta pela terra, em suas diversas
manifestações, não constitui crime. Segundo ele, o Ministério
Público já está em contato com a promotoria de Rio Pardo de Minas e
de outros municípios da região para que os boletins de ocorrência
policial contra os trabalhadores sem terra sejam todos
arquivados.
O líder da OLST, Jairo Amorin, garantiu que "os
movimentos de sem terra não serão reprimidos pela violência dos
latifundiários e seus capangas". Ele prometeu que novas invasões vão
ocorrer na região. "Rio Pardo de Minas é um império do coronelismo.
Não vai ficar nenhuma fazenda, nenhum latifúndio, porque vamos
invadir, vamos ocupar", disparou.
Quilombolas - Representantes das cerca de 480 famílias da comunidade
quilombola Brejo dos Crioulos, que fica na divisa dos municípios de
São João da Ponte e Varzelândia, também pediram apoio do Ministério
Público para que as terras já demarcadas para a comunidade sejam
logo desapropriadas e entregues a eles. De acordo com o quilombola
José Carlos de Oliveira Neto, eles também sofrem com ações
consideradas arbitrárias por parte da Polícia Militar. No mês
passado, três policiais à paisana, sem mandado judicial, teriam
invadido a casa de Joana Pereira Gonçalves, de 70 anos, à procura de
armas.
O promotor Luiz Carlos Martins prometeu
providências para esclarecer as denúncias envolvendo a comunidade
dos quilombolas, com responsabilização e punição dos policiais
envolvidos. O diretor de cidadania do Instituto de Terra de Minas
Gerais (Iter), Aldemir Viana Pereira, anunciou que já está marcada
para o dia 4 de julho uma reunião do Foro Agrário de Minas Gerais
para tratar dessas e outras questões.
Os participantes agradeceram à Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia, na pessoa do deputado Luiz Tadeu Leite, por
abrir espaço para que eles façam suas denúncias. Atendendo a pedidos
feitos durante a reunião, o deputado disse que nova audiência para
discutir os conflitos agrários no Norte de Minas poderá ser
realizada, em breve, na Assembléia Legislativa, em Belo Horizonte.
Na opinião do deputado reforma agrária não é coisa de comunista,
como se dizia no passado. "Pelo contrário! Transformar um sem terra
em um produtor rural é o grande desafio do capitalismo hoje",
concluiu Tadeu.
Presenças - Da primeira
reunião participaram os deputados Luiz Tadeu Leite (PMDB),
vice-presidente da comissã; Ruy Muniz (DEM) e Gil Pereira(PP). A
segunda reunião teve a presença do deputado Luiz Tadeu Leite, que
presidiu as duas audiências.
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