BHTrans nega denúncias de indústria da multa

As denúncias de que a BHTrans teria se transformado em uma "indústria da multa" foram veementemente rebatidas pela di...

26/06/2008 - 00:03
 

BHTrans nega denúncias de indústria da multa

As denúncias de que a BHTrans teria se transformado em uma "indústria da multa" foram veementemente rebatidas pela diretora de Desenvolvimento e Implantação de Projetos da empresa, Jussara Bellavinha. Ela participou de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (26/6/08), para debater possíveis irregularidades na fiscalização do trânsito da Capital. A reunião foi solicitada pelos deputados Délio Malheiros (PV), presidente da comissão, e Sargento Rodrigues (PDT).

Jussara Bellavinha argumentou que a média diária de multas aplicadas é muito pequena, apenas duas por agente. "Não existe invenção de multa pelos fiscais, o que existe é muita infração de trânsito", afirmou. Quanto à denúncia de um servidor da BHTrans de que a empresa estaria adotando uma política de incentivos para o fiscal que registrasse no mínimo 18 multas por dia, a diretora afirmou que a empresa "voltou atrás" nessas medidas, que estavam sendo adotadas em caráter experimental desde abril. Segundo ela, a produtividade dos agentes é um dos 12 indicadores acompanhados pela empresa, dentro do seu programa de gestão.

O volume de infrações cometidas no estacionamento rotativo é bastante expressivo. Conforme números apresentados por Jussara Bellavinha, somente 36% dos usuários do sistema utilizam corretamente os tíquetes de "faixa azul". O restante, ou seja, aproximadamente 30 mil veículos por dia, não utilizam o talão ou fazem uso do tíquete vencido. Ela acrescentou que os 19 agentes do estacionamento rotativo aplicam 250 multas por dia. "Foi de uma reunião interna para debater uma alternativa para essa inadimplência que saiu a denúncia. O servidor gravou apenas um trecho da reunião para usar contra a empresa", disse.

70% dos recursos da BHTrans vêm das multas

O deputado Délio Malheiros pediu a confirmação da diretora para a informação de que 70% dos recursos da BHTrans viriam das multas. Ela disse que o dado está correto, mas que o dinheiro das multas é direcionado para o Fundo de Transporte Urbano (FTU), que é usado inclusive para pagar os agentes de trânsito. Os deputados manifestaram ainda preocupação com a abordagem autoritária dos agentes. "Às vezes os fiscais multam um motorista que pára em frente ao hospital para deixar um paciente em estado grave", criticou o deputado Célio Moreira (PSDB).

A competência da BHTrans para aplicar multas foi questionada pelos deputados Délio Malheiros e Sargento Rodrigues. Segundo eles, uma empresa de capital misto não pode multar. A defesa foi feita por Jussara Bellavinha e pelo assessor da Presidência da BHTrans, João Flávio Resende, que alegaram que a empresa atua segundo os princípios das empresas públicas, realizando licitações e contratando pessoal mediante a realização de concursos públicos. Os deputados não ficaram convencidos. "A BHTrans, segundo a lei que a criou, não é uma empresa pública. Ela é uma empresa de capital misto", contestou Sargento Rodrigues.

Radares - Outro questionamento feito pelos deputados foi em relação aos radares escondidos e à falta de sinalização adequada. O deputado Délio Malheiros quis saber como será feita a avaliação dos locais de instalação dos novos radares anunciados pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) para Belo Horizonte e Anel Rodoviário. "Será avaliada a necessidade de prevenção de acidentes ou o potencial de arrecadação?", questionou. Bellavinha garantiu que não há motivos para preocupação, porque os radares serão instalados de acordo com os termos da legislação. João Flávio Resende acrescentou que a referência para as ações da BHTrans é a legislação federal. Segundo ele, as placas de sinalização destruídas são substituídas imediatamente.

O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Assessoramento, Pesquisa, Perícias e Informações do Estado de Minas Gerais (Sintappi-MG), Gilberto Márcio Pires, defendeu os agentes de trânsito, dizendo que eles não são agentes multadores. "Os fiscais são muito preparados para suas atividades", garantiu. De acordo com ele, as prioridades dos fiscais da BHTrans são, em primeiro lugar, segurança, depois fluidez do trânsito e, se preciso, autuação e cobrança de multas. Gilberto Pires informou que 300 fiscais atuam nas ruas de Belo Horizonte. Para suprir a deficiência de agentes, segundo o sindicalista, a prefeitura colocará 2 mil guardas municipais para atuarem no trânsito da Capital. "Não conseguimos entender por que há tanto tempo a BHTrans não abre concurso para fiscais", afirmou.

O deputado Délio Malheiros apresentou requerimento, que foi aprovado, solicitando o envio de ofício de apelo à Prefeitura de Belo Horizonte para suspender qualquer medida de autorização de aplicação de multa de trânsito pela Guarda Municipal. A diretora da BHTrans, Jussara Bellavinha, confirmou que os guardas municipais começarão a atuar no trânsito em 1º de agosto, mas disse não saber se eles serão credenciados para multar.

O presidente da ONG SOS Multas Abusivas, José Aparecido Ribeiro, criticou a falta de obras de infra-estrutura em Belo Horizonte. Ele apresentou o dado de que em 83% das multas aplicadas por excesso de velocidade, o motorista estaria de 5 a 10 km/hora acima do limite permitido. "Se esses limites fossem aumentados em 10 km/hora, as multas cairiam para 30%", sugeriu. O assessor da Presidência da BHTrans, João Flávio Resende, descartou a sugestão e disse que o aumento do limite de velocidade tornaria os atropelamentos muito mais graves.

Ao final da reunião, Carlos Eduardo Barsand apresentou documentos que comprovam que ele foi multado duas vezes, no mesmo dia e horário, pelo mesmo agente, em dois pontos da Avenida do Contorno, distantes 4 km um do outro. O deputado Antônio Júlio (PMDB) defendeu a educação para o trânsito não só do motorista, mas também do agente. E criticou: "Se o motorista chega antes que o carro seja rebocado, por que não aplicar somente a multa?"

Foram aprovados na reunião outros quatro requerimentos. O deputado Sargento Rodrigues pediu o envio de ofício ao diretor-presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha Ladeira, solicitando informações sobre o volume de recursos arrecadados com as multas de trânsito no período de 2003 a 2007. O deputado Leonardo Moreira (DEM) solicitou audiência pública para discutir as perspectivas de utilização do gás natural para uso doméstico. Outro requerimento do deputado Délio Malheiros solicita a produção, pela Comissão de Defesa do Consumidor e pelo Procon Assembléia, de cartilha educativa sobre as formas de cobrança das tarifas bancárias praticadas no mercado.

Por último, foi aprovado o requerimento do deputado Célio Moreira para que seja formulado apelo ao presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, para que realize audiência pública para discutir o regulamento dos serviços de TV a cabo, particularmente em relação à cobrança do ponto extra.

PL 2.352/08 - O deputado Antônio Júlio pediu o adiamento da discussão do PL 2.352/08, do deputado Gilberto Abramo (PMDB), que trata do fornecimento de livro informativo com informações de serviços prestados ao cliente pelas operadoras de plano de saúde. Ele é relator do projeto, que tramita em 1º turno.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Antônio Júlio (PMDB), Célio Moreira (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT) e Gustavo Valadares (DEM). Além dos convidados citados na matéria, participou da reunião o coordenador de Administração de Trânsito do Detran, Luiz Cláudio Figueiredo; e o presidente do Instituto Nacional de Defesa do Contribuinte (INDC), Joel Gomes Moreira Filho.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715