Deputados condenam tombamento do Mercado e do JK

A proposta de tombamento do Mercado Central de Belo Horizonte e dos edifícios JK e Casablanca, que pertencem à área d...

25/06/2008 - 00:01
 

Deputados condenam tombamento do Mercado e do JK

A proposta de tombamento do Mercado Central de Belo Horizonte e dos edifícios JK e Casablanca, que pertencem à área denominada Conjunto Urbano Praça Raul Soares, não obteve apoio dos deputados e foi rechaçada por dezenas de lojistas e moradores presentes à audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na tarde desta quarta-feira (25/6/08), a requerimento do presidente da comissão, deputado Gustavo Valadares (DEM).

Valadares disse que foi procurado por lideranças do Mercado Central e pelos síndicos dos condomínios, insatisfeitos com a intenção da Prefeitura de Belo Horizonte de realizar os tombamentos. "Preocupa-me a intromissão do poder público sobre propriedade privada, tanto no caso dos edifícios, que têm enfrentado seus problemas de conservação sem nenhuma ajuda da prefeitura, quanto do mercado. Não concordo que o poder público venha decidir o que se pode ou não comercializar ali dentro", posicionou-se o presidente.

O deputado Fábio Avelar (PSC) concorda em parte com Valadares, mas considera que o Mercado Central faz parte da história da Capital e não pode ser descaracterizado. "Sou freqüentador do mercado, sempre levo meus visitantes de fora a esse ponto tradicional da cidade, e participei muito da luta contra o fechamento dos mercados distritais do Cruzeiro e de Santa Tereza, que foram feitos contra a vontade de 90% da população, na calada da noite e com força policial", criticou.

Tombamento tem vantagens, como isenção de IPTU

No caso específico do Mercado Central, o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda explicou que há uma ação civil pública do Ministério Público contra a instalação de uma loja Ricardo Eletro, que contraria uma lei ainda vigente de 1948, e foi feita sem alvará da prefeitura e após duas liminares negadas pela Justiça. Miranda esclareceu também que o tombamento visa a proteger o patrimônio cultural, seja ele paisagístico, histórico ou arquitetônico. "O tombamento protege contra a destruição do imóvel e impõe restrições para reforma de sua fachada, mas também oferece isenção de IPTU e a possibilidade de auxílio financeiro da prefeitura e dos fundos de preservação do patrimônio para custear a reforma", informou.

Opôs-se ao promotor o presidente do Mercado Central, Macoud Redemacker Patrocínio. Para ele, trata-se de um imóvel privado, gerido por um conselho soberano, que tem sabido perfeitamente cuidar do local, como o poder público jamais cuidou. Ele disse que o mercado foi privatizado em 1964, mas em 1969 o governo criou a Ceasa, provocando a saída dos atacadistas. Em 1970, surgiram os supermercados, provocando a quebra dos armazéns. Em 1972, surgiram os sacolões, provocando a quebra dos feirantes de hortigranjeiros.

"O comércio é dinâmico. Para sobreviver, precisamos nos adaptar rapidamente aos novos tempos e criamos um modelo de gestão que é um sucesso. A loja Ricardo Eletro foi aprovada por nosso conselho. Não podemos aceitar ingerência externa. Ninguém foi dizer aos cinemas fechados que não poderiam se tornar 'feira-shops' ou igrejas evangélicas. Nosso mercado tem um mix diversificado. Receamos que o tombamento venha proibir mudança de atividade. Além do mais, não somos um prédio histórico, mas apenas um local limpo, bonito, agradável", disse Macoud.

O promotor Marcos Miranda acrescentou que presenciou uma coleta de assinatura de abaixo-assinados contra o tombamento, no mercado, com o funcionário informando que o tombamento proibiria o funcionamento dos bares, obrigaria o fechamento aos domingos e às tardes de sábado, o que, segundo ele, seria totalmente inverídico.

Síndico reclama informação correta sobre tombamento

A síndica do Condomínio JK, Maria Lima das Graças, também coletou inúmeros boatos que a predispuseram contra o tombamento. Ela acreditava que seria necessária autorização especial para conservar a rede de esgotos e as tubulações, e que a venda de apartamentos dependeria de concordância da União, do Estado e do município. José Rodrigues de Figueiredo, síndico do Edifício Casablanca, acrescentou que seu prédio tem apenas 60 anos e não é nenhuma relíquia, se comparado às "velharias" da Europa. Figueiredo disse que a prefeitura deveria produzir um folheto contendo as vantagens e desvantagens do tombamento, e distribuir entre os moradores.

A representante da prefeitura, Michele Abreu Arroyo, esclareceu que o conjunto da Praça Raul Soares ainda não é área protegida pelo Patrimônio Cultural municipal. "Só há um inventário, um estudo da área, e o Conselho do Patrimônio ainda não deliberou a respeito", afirmou. Ela também disse que não vai acontecer ingerência na escolha de atividades do Mercado Central, mas haverá diretrizes pactuadas, para não descaracterizar o local que é referência turística da Capital. Ela explicou que a prefeitura não pode ainda ajudar a reforma dos prédios porque só pode pôr dinheiro público depois que forem tombados. "Nossa interferência diz respeito apenas às fachadas. Qualquer reforma interna ou pintura fica a critério do proprietário", garantiu.

Michele Arroyo informou que há 500 imóveis tombados em Belo Horizonte, 50 deles em péssimo estado, mas os demais recuperados por seus próprios donos, com verbas federais ou isenções de IPTU. Ela disse que há vários edifícios na cidade pleiteando o tombamento, como o Panorama e o Alagoas, na Avenida Afonso Pena, e informou que o Conjunto IAPI, recentemente tombado, será inteiramente pintado.

Quando o presidente abriu o microfone para a platéia, cerca de dez moradores dos edifícios e usuários do mercado expuseram suas opiniões, quase sempre contrárias ao tombamento, e pediram esclarecimentos às autoridades.

Presenças - Deputados Gustavo Valadares (DEM), presidente; e Fábio Avelar (PSC).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715