Ex-policial preso na Nelson Hungria pede advogado em troca de
dossiê
O ex-policial civil José Lúcio de Oliveira Milagre,
que cumpre pena por dois estupros, um assalto e porte ilegal de
armas na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, propôs um acordo
com o deputado Durval Ângelo (PT), durante visita da Comissão de
Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais à
instituição prisional nesta sexta-feira (20/6/08). Ele pediu a
indicação de um advogado para pedir a revisão de sua sentença e
garantiu que entregará um dossiê ao deputado. Milagre, como é
conhecido o preso, está condenado a 46 anos de detenção, mas só
assume que fez o assalto, crime para o qual recebeu a pena de 7 anos
e meio de prisão.
Milagre foi carcereiro e detetive da Polícia Civil
por 12 anos até ser excluído da corporação em 1995, por extorsão.
Ele diz que tem sido vítima de perseguição de três delegados. Para
se defender das acusações de estupro, o ex-policial argumenta que
nas datas que os crimes ocorreram, ele estava preso na Penitenciária
Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, por constrangimento e prisão
ilegal de menor.
Ex-policial nega participação em desaparecimento e
morte de mulheres
Quando foi questionado pelo deputado Durval Ângelo
sobre as suspeitas de envolvimento dele no caso das mulheres
desaparecidas na Região Metropolitana de Belo Horizonte entre 1999 e
2001, Milagre negou qualquer participação nos crimes. "Se eu sou
suspeito, por que nunca me intimaram a depor sobre esse caso?",
criticou. De acordo com o ex-policial, as três cópias do dossiê que
ele diz possuir teriam 230 páginas e estariam com três pessoas de
sua confiança. O conteúdo do material ele não quis revelar, mas
adiantou que trazem informações sobre as mulheres desaparecidas. Ele
disse ainda ter provas do envolvimento de policiais civis no
caso.
O deputado Durval Ângelo pediu que ele desse pistas
sobre alguma das mortes para ter idéia das informações que o preso
possui, mas ele afirmou apenas que a bancária Daniela Cardoso,
desaparecida em 2001 em um estacionamento do centro da cidade,
estaria viva. Ele afirmou que sabe disso pelos contatos que ainda
mantém com policiais civis. "Tenho informações fidedignas e posso
provar tudo o que estou falando", desafiou. José Lúcio Milagre
também disse que Daniela estaria fora do País.
O ex-policial mostrou cicatrizes de facadas que
levou de outro preso em janeiro de 2007. Esse preso, que não era
policial, estava no Pavilhão H, reservado para ex-policiais. "Acho
que foi tudo armado. Ele estava lá para me matar", afirmou. Milagre,
que está na enfermaria desde que sofreu a agressão, pediu para ser
transferido de volta para o Pavilhão H. Ele também denunciou que o
preso que o agrediu tinha regalias como cama de casal e fogão na
cela, e transitava sem algemas e sem uniforme pela penitenciária.
"Ele só foi transferido do Pavilhão H quando foi pego usando um
telefone celular", protestou.
Deputado quer garantir direitos constitucionais do
preso
Ao final da visita, o deputado Durval Ângelo disse
que vai analisar, juntamente com a Comissão de Direitos Humanos,
todos os documentos apresentado por Milagre sobre os seus processos
e a possibilidade de conseguir um advogado para ele. "Esse é um
direito constitucional dele, independentemente de qualquer dossiê",
afirmou o deputado. "Tudo o que puder ajudar na investigação do
desaparecimento das mulheres, no entanto, precisa ser considerado",
continuou.
Durval Ângelo afirmou que vai procurar o pai da
ex-bancária Daniela e a delegada que cuida do caso para confirmar as
informações dadas por José Lúcio Milagre. O parlamentar também
acrescentou que vai pedir a transferência dele para o Pavilhão H,
que também seria um direito do ex-policial, e analisar as denúncias
de perseguição por parte de delegados.
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