Músicos alertam para risco de extinção da Orquestra Sinfônica de MG

"A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais não pode morrer. Ela está no coração da sociedade mineira, e não creio que alg...

19/06/2008 - 00:02
 

Músicos alertam para risco de extinção da Orquestra Sinfônica de MG

"A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais não pode morrer. Ela está no coração da sociedade mineira, e não creio que algum político tenha a coragem de dizimar essa orquestra". Com essas palavras emocionadas, o maestro Carlos Eduardo Prates abriu os debates da audiência pública que a Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou nesta quinta-feira (19/6/08). Requerida pelo deputado Carlin Moura (PCdoB), vice-presidente da comissão, a reunião teve o objetivo de debater o risco de extinção da orquestra, em virtude da criação de uma entidade privada para geri-la.

O advogado da Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), Heder Lafetá Martins, explicou que, em 2006, o Governo Estadual assinou um termo de parceria com uma organização da sociedade civil de interesse público (oscip), chamada Icos, para o gerenciamento da orquestra. Pelo acordo, os músicos deixariam de ser servidores públicos e se tornariam empregados da Icos, com contrato de trabalho regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regime aplicado aos trabalhadores da iniciativa privada.

O representante jurídico da Fundação Clóvis Salgado (FCS), Neivaldo Ramos, disse que a expectativa do governo era a de que os instrumentistas aceitassem prontamente a nova situação. Como isso não ocorreu, ou seja, a maioria dos músicos se recusou a abrir mão da condição de servidores públicos concursados e com estabilidade, o governo resolveu mesmo assim dar continuidade ao processo e criou a Orquestra Sinfônica do Estado de Minas Gerais (Osemg), além de ter conseguido a adesão de alguns dos músicos da OSMG.

Dessa forma, Minas passou a contar com duas orquestras sinfônicas. A legalidade dessa ação foi questionada pelo advogado, porém confirmada pelo representante jurídico da Fundação Clóvis Salgado (FCS), Neivaldo Ramos, que acrescentou que a iniciativa faz parte do chamado "choque de gestão" do governo Aécio Neves. Ele garantiu que o processo é inteiramente legal.

O músico Antônio Viola relatou que o que houve a seguir foi a implantação de um clima de instabilidade. Ele relatou que ouviu de representantes do governo que a OSMG está estagnada há 20 anos e que a estabilidade dos músicos é incompatível com a excelência profissional. "Me sinto ultrajado como pessoa, como servidor público, como profissional e como cidadão", emocionou-se. Viola lembrou que a orquestra sempre teve uma atuação destacada, com reconhecimento nacional e internacional, e que ultimamente vinha em trajetória ascendente.

Governo deve repassar R$ 12,9 milhões à Icos

Os repasses financeiros à oscip Icos foram motivo de estranhamento por parte do deputado Carlin Moura. Segundo ele, a entidade deverá receber, até o final do ano, R$ 12,9 milhões. A FCS tem orçamento previsto de R$ 29,7 milhões para 2008, sendo que até agora foram repassados R$ 7 milhões. Sua indignação foi compartilhada pelo advogado Heder Martins, para quem essa verba entregue à iniciativa privada "é um flagrante desperdício de verbas públicas, pois o Estado já dispõe de uma orquestra formada por músicos de reconhecida excelência".

O deputado Weliton Prado também apoiou a causa dos músicos e conclamou-os a continuarem lutando pelos seus direitos. E lembrou a todos que o orçamento do Estado quase dobrou desde que Aécio Neves assumiu o governo, em 2003, enquanto os salários dos servidores mineiros não tiveram essa contrapartida, continuando muito baixos.

Após as exposições dos convidados, diversos músicos foram ao microfone para se queixar de que sequer foram ouvidos nesse processo, classificado de "devastador para a cultura mineira" pelo presidente da Associação dos Músicos da OSMG, José Maria Lages Duarte. Carlin Moura disse que as notas taquigráficas da reunião poderão ser enviadas diretamente ao governador, que, segundo o deputado, "está se preocupando muito com as articulações políticas e não vê o que se passa nos bastidores da Secretaria de Estado de Cultura".

Ao final da reunião, o deputado Carlin Moura informou alguns encaminhamentos que vai propor sob a forma de requerimentos, a serem aprovados na próxima reunião da comissão. Ele vai requerer que seja solicitado da Fundação Clóvis Salgado as cópias do termo de parceria assinado com a Icos e do relatório referente ao cumprimento das metas pactuadas entre a fundação e a oscip no ano 2007. O deputado também vai pedir ao Tribunal de Contas que proceda a uma auditoria especial na gestão dos recursos repassados à Icos. Carlin propôs também a realização de uma audiência pública conjunta da comissão com a de Administração Pública para debater, previamente, a transferência da gestão para oscips de funções da Fundação João Pinheiro, do DER-MG, da TV Minas e outros. Por fim, outro requerimento a ser aprovado solicitará o envio das notas taquigráficas da reunião ao Ministério Público e ao governador Aécio Neves.

Presenças - Deputados Carlin Moura (PCdoB), vice-presidente, que presidiu a reunião; e Weliton Prado (PT). Participaram ainda, além dos citados na matéria, o deputado federal Elismar Prado (PT-MG); a diretora de Planejamento e Gestão da FCS, Tânia Boaventura; e o assessor jurídico da FCS, Cristiano Rezende.

 

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