Comissão da Reforma Tributária aprova relatório
final
Foi aprovado nesta quinta-feira (19/6/08) o
relatório final da Comissão Especial da Reforma Tributária, criada
pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais para unificar as
sugestões de diversos setores da sociedade mineira para
aperfeiçoamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 233/08,
do presidente Lula, que traz o texto da reforma tributária da União.
O relatório aprovado traz 24 observações ou propostas de mudanças na
PEC, todas resultado de debates entre os deputados e representantes
da Secretaria de Estado da Fazenda, da Federação das Indústrias do
Estado de Minas Gerais (Fiemg), da Associação Mineira dos Municípios
(AMM), da Associação Nacional dos Municípios Produtores (Anamup), da
Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), de
sindicatos dos fiscais e dos produtores de açúcar e etanol.
De acordo com o presidente da comissão, deputado
Sebastião Helvécio (PDT), a aprovação do relatório é apenas o
primeiro passo de um movimento mais amplo. No dia 27 de junho,
durante encontro do Colegiado de Presidentes de Assembléias
Legislativas em João Pessoa, o presidente da ALMG, deputado Alberto
Pinto Coelho (PP), irá entregar cópia do relatório aos dirigentes
dos demais Legislativos estaduais. O objetivo é mobilizar o apoio de
todos os Estados contra os pontos da reforma que reduzem a autonomia
das Assembléias para legislar sobre matéria tributária.
Até o final de junho, Sebastião Helvécio e demais
representantes da comissão parlamentar mineira irão até Brasília
para entregar as propostas de modificações ao relator da PEC 233/08,
deputado federal Sandro Mabel (PR-GO). O relator das propostas
mineiras, deputado Antônio Júlio (PMDB), recomendou que o texto seja
encaminhado também a todos os membros da Comissão da Reforma
Tributária do Congresso Nacional, a toda a bancada mineira na Câmara
de Deputados e a todos os senadores. O deputado Agostinho Patrús
Filho (PV) solicitou que as propostas sejam encaminhadas também às
associações microrregionais, Associação Mineira de Municípios e
demais participantes das discussões na ALMG.
A assessora da Superintendência Tributária da
Secretaria de Estado da Fazenda, Sara Costa Félix Teixeira, que
acompanhou a aprovação do relatório final da comissão, ressaltou o
apoio do Governo do Estado às propostas e disse que o Executivo tem
grandes expectativas de que o esforço dos parlamentares mineiros
seja incorporado à PEC federal. "O relator Antônio Júlio não se
limitou às críticas, foi extremamente propositivo. O relatório cuida
de amenizar alguns problemas sérios da PEC. É brilhante", afirmou
Sara Teixeira.
Proposta mineira amplia autonomia dos
Estados
Diversas propostas da ALMG para modificação da PEC
233/08 procuram preservar a autonomia de Estados e municípios para
legislar sobre matéria tributária. Uma delas é que o ICMS continue a
ser regulamentado em nível estadual e que apenas o novo Imposto
sobre o Valor Agregado (IVA) seja regulamentado em nível federal. O
relator Antônio Júlio disse que não se sustenta o argumento de que a
federalização do ICMS é necessária para inibir a guerra fiscal. "A
alíquota única já inibe a guerra fiscal. A partir daí é necessário
ter limites, mas não precisa federalizar a legislação", afirmou o
deputado.
Uma das observações do relatório é que a reforma
tributária deve ser acompanhada de uma rediscussão do pacto
federativo, uma vez que a proposta afeta a autonomia de Estados e
municípios. Antônio Júlio lembrou que a ALMG, com esse objetivo, irá
criar no próximo semestre uma comissão especial para discutir o
tema. Sebastião Helvécio citou o artigo 60 da Constituição Federal,
que proíbe o acolhimento de proposta que fira o sistema federativo
brasileiro. "A LDO de 2009 mostra que Minas alcançou um crescimento
de R$ 5,3 bilhões na capacidade de investimento. Não podemos deixar
isso ser prejudicado por normas que possam agredir nosso Estado",
afirmou Helvécio.
Outra proposta do relatório que reforça o poder das
Assembléias é determinar que a aplicação dos recursos do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), a ser criado pela
reforma, seja definida em lei estadual. O FNDR tem o objetivo de
combater as desigualdades regionais. O relatório mineiro sugere que
ele seja aplicado de forma que beneficie as regiões e municípios que
apresentem mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Veja outras sugestões do relatório aprovado:
Confaz - Reforçar o poder
do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), de forma a
evitar que ele seja transformado em uma nova arena para a guerra
fiscal. Para isso, os benefícios fiscais concedidos à revelia do
Confaz deveriam ser nulos, e as alíquotas deveriam ser uniformizadas
para todo o Brasil, com validação da decisão pelas Assembléias
Legislativas. As decisões do Confaz também devem ser validadas por
quatro quintos dos integrantes, e não pela unanimidade, o que pode
inviabilizar suas decisões.
Eliminação da insegurança jurídica - Os deputados mineiros consideram que a PEC 233/08, da
forma que está, deixa um excesso de questões para serem
regulamentadas em leis complementares. O problema é que estas
regulamentações vêm sendo postergadas pelo Congresso, o que gera uma
grande insegurança jurídica para aqueles que serão afetados pela
reforma. A proposta mineira é que as questões fundamentais sejam
detalhadas no próprio texto da PEC.
Municípios - Os
municípios, para os deputados mineiros, não vêm sendo adequadamente
ouvidos na discussão da reforma. É necessário evitar que tenham sua
autonomia restringida. A Associação Mineira de Municípios defende
que eles ganhem representação no Confaz, em função do poder que o
órgão ganhará com a reforma.
Mineração - A modificação
da Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Mineiras
(Cfem) é uma das principais alterações propostas pelos mineiros.
Defende-se que a alíquota seja fixada em 5%, enquanto hoje ela varia
de 0,2% a 3%, dependendo do produto mineral. O cálculo passaria a
ser feito sobre o faturamento bruto resultante da saída do produto,
enquanto hoje é calculado de acordo com o faturamento líquido. Por
fim, recomenda-se a mudança nos critérios de distribuição, de forma
que 10% vá para a União (que hoje recebe 12%), 45% para os Estados
(hoje recebem 23%) e 45% para os municípios (hoje sua parcela está
em 65%).
Sobre a questão da Cfem, que hoje não é abordada
pela proposta de reforma tributária, os deputados estaduais
enfatizaram a necessidade de uma posição firme de Minas e outros
Estados mineradores. "Não podemos permitir que o tratamento dado ao
minério seja tão diferente daquele reservado ao petróleo e mesmo à
água", afirmou Sebastião Helvécio.
Presenças - Deputados
Sebastião Helvécio (PDT), presidente da comissão; Agostinho Patrús
Filho (PV), vice-presidente; e Antônio Júlio (PMDB).
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